Ainda há expectativa em Brasília de que Lula inicie a famigerada “hora da virada” em sua relação com o Congresso Nacional. No entanto, se as coisas já não são boas com o centrão (que atualmente é a verdadeira oposição ao presidente), elas se tornam ainda mais delicadas na base não-petista do governo.
Um termômetro disso foi a própria reunião da semana passada entre Lula, Eduardo Braga (MDB-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL), que foi, no mínimo, decepcionante para os dois senadores. Segundo fontes, Lula afirmou que não estava a par de muitas coisas sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) em andamento no Congresso Nacional e acabou cobrando Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que estava presente na reunião.
Aliás, tornou-se bastante comum ouvir do presidente, quando questionado por parlamentares e aliados, que ele não tem conhecimento sobre o assunto em questão.
Tanto Renan quanto Braga ressaltaram que foi um erro do governo não ter apoiado uma CPI logo após o dia 8 de janeiro e que eles não aceitariam participar da CPI sobre o assunto, uma vez que até mesmo parlamentares do próprio PT já teriam declarado voto em Arthur Maia (União-BA) para a presidência da comissão.
Outros membros do Congresso Nacional destacam que o silêncio de Renan Calheiros (geralmente acessível para entrevistas) pode ser o prenúncio de mais uma crise, uma vez que, além de ter sido deixado de lado pelo Planalto, Calheiros, um apoiador de longa data do presidente Lula, levou mais de um mês para ter uma audiência com o presidente.
No entanto, as frustrações não são recentes. De acordo com fontes próximas ao senador, o governo errou ao “empoderar” Arthur Lira (PP-AL) na reeleição para a presidência da Câmara.
Isso significa que Calheiros se tornará um inimigo ferrenho do governo? Claro que não! Renan Filho (como o próprio nome indica), filho de Renan Calheiros, é Ministro dos Transportes do Governo Federal. No entanto, é inegável que o senador está decepcionado com o presidente.
O senador alagoano não é o único. Grande parte dos membros da base do governo reclama de ser preterida e mal atendida pelo governo federal. Há quem afirme que o Palácio do Planalto é “acessível” apenas aos parlamentares petistas.
Já as pessoas próximas ao senador Renan Calheiros apontam repetidamente que o governo parece estar mais preocupado em beneficiar aqueles que não estão na base, mesmo sem ter qualquer garantia de retorno e que as vezes já causaram ou causam problemas ao governo.
Na opinião dessas fontes, o que está em curso é uma tutela do governo Lula pelo centrão, com o aval e apoio do próprio partido do presidente. Em tom de desabafo, uma das fontes disse: “O PT, quando quer ajudar, atrapalha, e quando quer atrapalhar, ajuda”.
Parece que, além de Lula ter que ampliar sua base, ele precisará retroceder e reorganizar sua própria base.
Resta saber se esse tema conseguirá ganhar mais prioridade do presidente do que suas ambições internacionais.
Renan não é o tipo de político que faz jogo de cena. Geralmente, ele não esconde de ninguém quando está insatisfeito ou decepcionado com algo. Se o Planalto estiver atento, certamente já terá entendido seus “recados”. E se Renan está decepcionado com o governo, seria bom para os responsáveis pela articulação política encararem isso como um sinal de outros problemas com a base.