As quatro Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) instaladas no Congresso têm correlações com o ex-presidente Jair Bolsonaro: os deputados que presidem as comissões ainda são ligados a Bolsonaro ou participaram da campanha eleitoral dele na última votação à presidência.
Os parlamentares com histórico de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem significar um desgaste ao governo petista. A responsabilidade dos presidentes das CPIs abre margem, também, para a possibilidade de influenciar na disputa das narrativas pautadas.
Cabe ao deputado no comando da comissão ditar o tom e ritmo das investigações, escolher os pedidos de quebra de sigilo e de convocação que serão votados, definir a agenda de depoimentos e determinar diligências. Dessa forma, a fiscalização da administração pública fica na mão de figuras políticas que andam em direção contrária ao atual governo Lula, apesar de ocuparem cargos nele.
A contradição dos presidentes das comissões parlamentares é um ponto a ser analisado contextualmente.
CPI dos Atos Golpistas: o deputado Arthur Maia (União-BA), fez campanha a favor de Bolsonaro, participou de comícios a favor da reeleição do ex-presidente e, no passado, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Além disso, hoje ele é o relator do marco temporal das terras indígenas, PL rejeitado e criticado pelo governo Lula.
Apesar de tecer críticas ao petista no passado, Arthur Maia desejou que Lula “faça um bom governo” diante da vitória do atual presidente.
O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), afirmou que a presidência de Maia na CPI do 8 de janeiro não é algo a se preocupar.
“Se a gente levasse em conta tantos quantos já estiveram com a base de apoio anterior e que estão conosco, a gente teria dificuldade de compor base porque, a rigor, só temos 133 parlamentares que foram eleitos pela frente que apoiou o presidente Lula. Então, faz parte. Eu estou muito tranquilo com a direção do deputado Arthur Maia. Ele é de um partido que integra a base. Eu já conversei com ele”, disse.
A relatora da CPI, porém, é governista. Eliziane Gama (PSD-MA) é aliada do ministro da Justiça Flávio Dino.
Outros 16 membros titulares da CPI são de partidos favoráveis ao presidente Lula, enquanto 10 cadeiras são ocupadas por parlamentares de oposição e as outras 5 vagas restantes são divididas por siglas independentes no Parlamento.
CPI do MST: O presidente da CPI, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) é declaradamente apoiador de Jair Bolsonaro. Na última sexta-feira (26), ele escreveu nas redes sociais que continuará “honrando e defendendo o legado” do ex-presidente.
O relator da comissão é o ex-ministro do Meio Ambiente, o então deputado Ricardo Salles (PL-SP) – envolvido em polêmicas e investigado pela Polícia Federal por suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira brasileira ao exterior.
CPI da Manipulação no Futebol: Julio Arcoverde (PP-PI), deputado e presidente da comissão, fez campanha de reeleição de Bolsonaro nas eleições do ano passado.
O relator, deputado Felipe Carreras (PSB-PE), no entanto, é da base do governo Lula.
CPI das Americanas: o presidente da CPI e deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE) foi vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara.
O deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), relator da comissão, é da sigla que integra a base aliada ao Lula no Congresso.
As informações são da reportagem publicada no g1.