Levantamento do Instituto Sou da Paz aponta uso de armas já presentes na casa dos responsáveis pelos atentados
O Brasil registrou 24 atentados a escolas desde 2002, sendo 11 realizados com armas de fogo. Ao todo, 45 pessoas morreram, 34 em decorrência de revólveres, pistolas e garruchas, e 92 sofreram ferimentos, sendo 57 causadas por essas armas, segundo o estudo do Instituto Sou da Paz.
A pesquisa também mostra que nos 11 atentados foram usadas 15 armas, e nove destas tiveram origem na casa do responsável pelos ataques, pertencendo aos pais ou a outro familiar. Além disso, entre essas mesmas 15 armas, 9 possuíam registro oficial identificado, e 6 delas pertenciam a parentes que trabalhavam na área da segurança, ou seja, policiais, peritos ou guardas.
Segundo Bruno Langeani, gerente do Sou da Paz e um dos responsáveis pelo estudo, a política de aquisição de armas de fogo deveria ter um endurecimento, assim como o controle e a fiscalização dos compradores.
“A maior circulação de armas e munição no país pode ser um fator facilitador para os ataques. Ainda que o governo atual atue para frear essa banalização do acesso a armas, precisamos ter clareza de que a política do Bolsonaro deixará uma herança por anos. As armas que já estão nas residências continuarão lá”, disse Bruno em entrevista à Folha de São Paulo.
A questão da venda ilegal de armas por compradores legalizados também foi abordada pelo estudo. Em 3 dos nove casos em que as armas de fogo possuíam registro legal, elas foram vendidas de maneira ilegal para os pais dos responsáveis pelos ataques ou para os próprios atiradores.
Um caso em Sobral, no Ceará, ilustra bem a situação. Em outubro de 2022 um adolescente de 15 anos comprou uma arma de um CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Colecionador), matou um um aluno e deixou dois feridos na escola em que estudava.
A pesquisa aponta que o número de armas de fogo que pertencem a indivíduos classificados como CAC chegou a um milhão em junho de 2022. Além desse tipo de acesso, o estudo também mostrou que muitos adolescentes tem o contato com armas de fogo incentivado pelos próprios pais.
Em novembro de 2022 um adolescente de 16 anos realizou atentados em duas escolas de Aracruz, no Espírito Santo, atirando contra alunos e professores. Segundo investigações, o pai do responsável pelos ataques é Policial Militar e ensinou o jovem a atirar.
O estudo também identifica padrões nos atentados e uma tendência de planejamento meticuloso. O uso de mesmas roupas, símbolos e até ações nas mesmas épocas do ano levam os pesquisadores a acreditar que é possível antecipar os ataques e até se prevenir das mortes.
“Saber que esses atentados são, em geral premeditados, nos dá uma oportunidade importante de prevenção. Se a escola e as famílias se atentarem aos sinais, pode haver uma contenção dessa agressão”, completa Bruno Langeani.
Entre 2002 e 2022 ocorreram 24 ataques a escolas, sendo 11 com armas de fogo. Em três desses anos, 2011, 2019 e 2022 aconteceram dois atentados no mesmo ano, enquanto em 2002, 2003, 2012, 2017 e 2018 foi registrado um ataque por ano.
Leia o estudo na íntegra clicando aqui.