Lula finalmente parece que irá colocar a agenda internacional 100% focada na captação de investimentos e fortalecimento do país no cenário mundial. Até então o presidente do Brasil sempre fazia suas viagens com duas agendas na bagagem: busca de investimentos e guerra na Ucrânia.
Acontece que nem Ucrânia, nem Rússia estão dispostos a encerrar o conflito com uma balança de sangue pendendo para o lado perdedor. Dias após o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, encontrar com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi para o Vaticano, deu um colete à prova de balas de presente para o papa (?) e negou qualquer iniciativa para encerrar o conflito que não fosse a derrota da Rússia.
Já o Kremlin também já deixou claro que não vai recuar da invasão na Ucrânia e nos últimos dias intensificou os ataques em diversos frentes de batalha.
Lula certamente estava começando a falar sozinho e depois do jogo de cena que Zelensky durante o G7, certamente começaria a se tornar melancólico ou, no mínimo, vergonhoso a insistência do presidente brasileiro em querer ser o mediador de um diálogo onde nenhuma das partes queria dialogar.
Estava claro que o presidente ucraniano queria subir nas costas de Lula para defender a continuidade da guerra à contragosto dos objetivos do presidente brasileiro afinal de contas, se Zelensky queria tanto conversar, bastava participar de alguma das reuniões propostas por Lula, só tinha um porém: a reunião seria à portas fechadas, diplomacia de verdade.
Zelensky não quis isso, no fundo ficou claro que ele queria só uma fotinho inócua sem qualquer efeito prático e emparedar Lula. Não é assim que se faz. Todas as reuniões bilaterais no G7 foram realizadas com agendamento prévio, mesmo assim o Brasil tentou encaixar o presidente ucraniano, que recusou não ter palanque.
Agora, vale lembrar também que boa parte das cobranças e expectativas sobre Lula e a invasão da Ucrânia foram fruto das próprias ambições do presidente brasileiro que desde a campanha eleitoral buscava se coloca como mediador de um conflito onde nenhuma das partes quer dialogar.
Nos primeiros 100 dias de governo, cada viagem internacional que Lula fazia, tinha na bagagem um discurso pronto de Lula se colocando como mediador e muitas vezes de forma até mesmo atrapalhada como em abril deste ano quando “corrigiu” o discurso durante um almoço com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, afirmando ter defendido “solução política” para o conflito. Dias antes, tinha feito um posicionamento que dava a entender que estaria mais lado da Rússia do que no “meio” da situação.
Por mais que alguns discursos por aí sejam injustos e até mesmo desonestos com as pretensões do presidente brasileiro, é inegável que esse foi um problema que atraiu para si de forma completamente desnecessária.
Lula tem sua própria cota de problemas para resolver por aqui: a dificultosa relação com o Congresso, a necessidade urgente de revisão da formação dos nossos militares, assim como a intromissão indevida destes na politica e se não fosse só isso, ainda temos o general que chefia o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que adora “abrir” as asas sempre que o presidente saí do país (que na minha visão é algo extremamente grave).
Ainda sim, Lula tem chances de ser uma liderança global, principalmente na pauta ambiental, mas para isso, precisa evitar que seu governo crie uma nova Belo Monte na Foz do Amazonas e as ambições de extração de petróleo.
É inegável que Lula sabe vender bem o Brasil para o mundo e atrair investimentos e que um país que já não tem um alucinado no poder, é ainda mais atrativo para investidores, por isso Lula deveria usar isso à seu favor ao invés de se meter num conflito a mais de 10.000 quilômetros de distância do Brasil cujo a mediação, até o momento, é um esforço infrutífero.
Lula não precisa reinventar a roda nas relações internacionais, já no cenário doméstico não é possível dizer o mesmo.
Se Zelensky ama aparecer por aí posar para fotos, pedir armadas e pregar o extermínio da Rússia e as vezes sendo até mesmo inconveniente, deixemos este ônus apenas para ele, Lula precisa se atentar em não virar um “Zelensky da mediação” que onde quer que vá, todo mundo já sabe o que vai falar. Só tem um porém, o presidente ucraniano acaba conseguindo as armas que pede e Lula?