Em carta ao povo Argentino, Cristina Kirchner explica as razões que a levaram a desistir de ser candidata à presidenta
Por Bruno Falci, de Buenos Aires, para o Cafezinho
A vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, em carta publicada em suas redes sociais, na ultima terça (16/05), ratificou sua decisão de não ser candidata. “Devemos ser inteligentes para sair desse labirinto e quebrar a armadilha para a qual querem nos levar: que temos uma candidatura proibida pelo Judiciário.” sabe que seus adversários políticos, as elites, através da mídia oposicionista e juízes federais querem impedi-la de ser candidata para eliminar a esquerda da disputa eleitoral “A condenação e inabilitação na referida causa tem uma única tradução política e eleitoral: a proscrição”, escreveu na carta dirigida à sua militância.
“Como venho defendendo há muito tempo, não se trata apenas da proibição de uma pessoa, mas do peronismo.” Cristina sofre lawfare jurídico por governar duas vezes o país, enfrentando os interesses das classes dominantes e dos EUA, promovendo politicas de distribuição de renda com programas e investimentos na educação, saúde e moradia, criação de empregos e politicas sociais como a construção de moradias populares. O solário mínimo foi fortalecido e muitas outras politicas publicas foram criadas em beneficio da grande maioria da população pobre do país. Essas razões a levaram a ser a liderança popular que é hoje, tendo que ser perseguida juridicamente para que não seja eleita Presidenta da Argentina. essa perseguição já ocorre faz anos, na ultima eleição presidencial Cristina concorreu a vice-presidência do pais e a influencia central e essa decisão foi devido a perseguição jurídica que sofria na época.
Cristina iniciou sua declaração afirmando que a Argentina vive um período de “insatisfação democrática”, porque os cidadãos não se sentem representados ou contidos em suas aspirações, em uma Democracia que se perdeu economicamente, se degradou socialmente e começou a desmoronar política e institucionalmente. A perda da Democracia econômica – enfatiza Cristina – começou em 2016 quando o governo, recém-empossado, iniciou um brutal novo ciclo de endividamento externo que culminaria na devolução do Fundo Monetário Internacional por meio de um empréstimo inusitado, sem precedentes e político. para ajudar esse “governo amigo” a vencer as eleições, mas também permitir a retirada em dólares de fundos de investimentos especulativos.
A Argentina vive uma crise de hiperinflação principalmente devido ao governo passado, do direitista Mauricio Macri, que pediu um empréstimo ao FMI, de 50 bilhões de dólares, para tentar se reeleger presidente do país sul americano, criando na verdade um aprofundamento do problema social e econômico iniciado em seu governo e levando ao final o efeito contrario que ele desejava, sendo derrotado nas eleições presidências de 2019 pela chapa Alberto Fernandes/Cristina Kirchner.
Cristina esclarece que a presença do FMI é a mesma de sempre, intervindo e assumindo o comando da economia, impondo seu programa econômico e, com ele, um processo inflacionário descontrolado é novamente desencadeado. “Nesse quadro de brutal endividamento em dólares, o caráter bimonetário da economia argentina, somado à já histórica restrição externa e à compulsão por acumular ativos em dólares no exterior, inevitavelmente deixa a conta corrente de nosso país no vermelho. dólares, acaba sempre com inflação descontrolada, corrida da moeda contra a moeda nacional, desvalorização e mais inflação”.
A vice-presidenta assegura que é incontornável apontar as consequências catastróficas da pandemia, não só a nível sanitário e social, mas também econômico, com o aprofundamento da concentração de rendimentos e o crescimento da pobreza. “Não saímos melhores da pandemia”, diz ela, enfatizando que uma vez superada a democracia econômica, a social-democracia e o paradigma peronista de mobilidade social ascendente se degradam.
E acrescenta: “Pela primeira vez na Argentina observamos como uma baixa taxa de desemprego (6,3%) coexiste com um alto nível de pobreza (40%). Desta forma, encontramos trabalhadores em relação de dependência que são pobres e a emergência de uma sociedade dual, onde uma parte tem acesso a todos os bens e serviços e a outra, a maioria, vê suas possibilidades de progresso significativamente reduzidas ou, diretamente, lhes falta”.
Kirchner acrescenta que os 40 anos de democracia ininterrupta também foram atravessados por gravíssimas crises econômicas e sociais: em 1989 com a hiperinflação e em 2001 com a queda da conversibilidade. que incluiu uma crise institucional em que cinco presidentes se sucederam em uma semana, que foi resolvida no âmbito da Constituição Nacional.
Hoje, continua Cristina, os fantasmas do passado voltaram à realidade política argentina. “Durante o ano de 2022 vimos como a violência verbal e simbólica que há anos vinha sendo implantada na sociedade pela mídia hegemônica, materializou-se na rua através da ação de grupos violentos que agrediram, insultaram e ameaçaram matar. O objetivo desses grupos era absolutamente direcionado. Não foi contra todos os partidos políticos nem contra todos os dirigentes, como na crise de 2001. Foi contra o peronismo ou o kirchnerismo”.
Cristina Kirchner comenta o atentado contra sua vida ocorrido em setembro de 2022, em frente à sua casa. “Surpreendentemente, depois do frustrado assassinato, esses grupos que se organizavam e semanalmente atacavam, repreendiam e ameaçavam, desapareceram como num passe de mágica. Isso sem dúvida confirma o caráter premeditado e sem qualquer indício de espontaneidade da violência política desses grupos. Foram incentivados e financiados pela oposição e a mídia hegemônica garantiu-lhes ampla cobertura midiática”.
Embora alguns, por mesquinhez ou mediocridade, o tenham negado recorrendo a tecnicalidades legais, a realidade voltou a confirmá-lo. E concluí citando a presença do que ele denomina de Partido da Justiça e a credibilidade de um programa de governo que faz com que argentinos e argentinas voltem a se apaixonar:
“Devemos ser inteligentes para sair desse labirinto e quebrar a armadilha para a qual querem nos levar: que temos uma candidatura proibida pelo Judiciário. Porque, diante de um direito cuja única proposta é arrebatar direitos, o peronismo continua sendo o espaço político que garante a defesa dos interesses do povo e da Nação.
Diante desta situação, é fundamental -mais do que nunca- construir um programa de governo que faça com que os argentinos voltem a se apaixonar e os convença de que um país melhor não é apenas possível, mas também desejável. Um programa de governo necessário não só para o peronismo, mas para o sistema democrático como um todo.”