Entre janeiro e abril de 2023, o desmatamento no Cerrado aumentou 14,5%, sendo o maior dos últimos cinco anos na comparação com o mesmo período. No acumulado desde janeiro, o número de áreas desmatadas chega a 2.206 km².
Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por meio do Deter. Considerando apenas abril, os alertas de desmatamento foram 31% mais intensos este ano, se comparado com 2022. No mês, o Cerrado perdeu 782 km² de vegetação.
O alto números de desmatamentos simbolizam ameaças à biodiversidade e aos povos tradicionais da região, que podem ficar sem acesso à água. Além disso mais desmatamento também podem significar maiores crises no fornecimento de recursos básicos, como água, energia e alimentos.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, a interação entre cerrado e Amazônia tem um papel indispensável no regime de chuvas e abastecimento de corpos hídricos do país. Por isso, os próximos meses serão um desafio para o combate à derrubada, facilitada pelo tempo seco e pela falta de chuvas.
Por isso, há um alerta constante para a proteção de áreas do cerrado, já que sua área protegida legalmente corresponde a apenas 7%. Enquanto na Amazônia, o conjunto de unidades de conservação, reservas extrativistas e terras indígenas, entre outros, chega a 50%.
“Ainda, não há destinação para 2,5 milhões de hectares de terras públicas, que vêm sendo griladas numa velocidade bastante grande”, explica Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Outra preocupação é a diminuição da vazão dos rios do cerrado. Um estudo do Instituto Cerrados, em parceria com o Instituto Sociedade, População e Natureza, aponta que 88% de 81 bacias hidrográficas do bioma já tiveram redução de vazão causada pelo desmatamento entre 1985 e 2022.
Além disso, diversos rios que alimentam bacias na Amazônia nascem na região do cerrado, como o Tocantins e o rio Xingu. Essas águas, em conjunto com a evapotranspiração da floresta, ajudam na formação dos conhecidos “rios voadores”, que levam chuva a outros locais do país.