Avião da FAB foi usado por Torres em operação que visava atrapalhar eleições

No ano passado, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do Governo Bolsonaro, foi à Salvador seis dias antes do segundo turno das eleições gerais com o intuito de prejudicar o pleito. Torres foi à Bahia para conversar com o superintendente da PF do Estado, Leandro Almada, buscando apoio da instituição nos bloqueios que viriam a ser realizados pela Polícia Rodoviária Federal por todo o Nordeste.

Segundo documentos obtidos pela CNN, Torres pegou um avião da FAB no aeroporto do Galeão, no Rio, no dia 24 de outubro, chegando à Salvador duas horas depois. Com ele estavam Antônio Lorenzo, secretário-executivo do Ministério da Justiça, Márcio Nunes, Diretor-geral da PF e mais um assessor.

No dia seguinte, o ex-ministro se encontrou com Almada, junto de Nunes e mais dois delegados da PF da Bahia, para planejar uma possível ajuda da instituição nos bloqueios que seriam realizados pela PRF. A Polícia Federal não participou da ação, mas a conversa foi confirmada por fontes ligadas às duas instituições.

Torres teria ido à Bahia porque aquele era um dos pontos onde o então candidato à Presidência, Lula, obteve mais votos no primeiro turno, segundo relatório elaborado por Marília Alencar, chefe da diretoria de inteligência do Ministério da Justiça.

Em depoimento à PF, Marília Alencar confirmou ter produzido o relatório para Anderson Torres, mas disse que não sabia como ele seria usado. Mais de dois mil ônibus foram fiscalizados no Nordeste, atrapalhando o deslocamento de eleitores da região no dia 30 de outubro, data da votação do segundo turno. Em contrapartida, apenas 632 ônibus foram parados pela PRF na região sul, onde Jair Bolsonaro se sobressaiu.

Torres presta depoimento hoje (8) à PF para esclarecer sua conduta em relação às obstruções da PRF no dia 30 de outubro e o teor da viagem que fez à Bahia poucos dias antes do segundo turno. Nem ele, nem a assessoria fizeram comentários a respeito dos documentos obtidos pela CNN.