Uma equipe do FBI foi destacada para ficar “à disposição” dos integrantes da “Operação Lava Jato”. É o que revelam os relatórios oficiais das viagens de Sérgio Moro quando ocupava o cargo de ministro da justiça do governo Jair Bolsonaro. A informação é da Agência Sportlight de Jornalismo.
Entre os dias 17 e 20 de março de 2019, Sérgio Moro esteve em Washington como parte da visita presidencial aos Estados Unidos. Sua agenda era de “reuniões e encontros com autoridades governamentais dos Estados Unidos”. No dia 18, Moro teve duas agendas com membros do FBI (Federal Bureau of Investigation) e uma com representantes da CIA.
O relatório faz a primeira menção à participação do FBI no Brasil por meio dos elogios de Sérgio Moro aos “trabalhos já realizados”. Uma fala do agora senador atesta oficialmente a participação do FBI de forma sistematizada na Lava Jato. Pelo relato de Moro, o FBI destacou “uma equipe para ficar à disposição do Brasil para os trabalhos”.
Participação assim descrita no relatório: “A Diretora do DRCI agradeceu o FBI os trabalhos levados a cabo para a operação Lava Jato, ressaltando a importância da iniciativa de terem destacado uma equipe para ficar à disposição do Brasil para os trabalhos, momento em que os norte-americanos expressaram a relevância da operação para o Brasil e para vários países da América Latina”.
O DRCI ao qual Moro se refere no relatório é a “diretoria do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional”, parte do Ministério da Justiça. Todo pedido de cooperação deve passar pelo Ministério da Justiça, através do DRCI. Enquanto ministro, Moro viajou 10 vezes para o exterior, sendo três para os Estados Unidos, o país mais visitado por ele. Em duas dessas ocasiões, teve agendas oficiais com o FBI.
Em 2020, o The Intercept Brasil e a Agência Pública revelaram a participação de agentes do FBI nas investigações da “Operação Lava Jato”. 12 agentes do FBI investigaram a Lava Jato lado a lado com a PF e o MPF. Antes disso, em fevereiro de 2018, o site Conjur revelou que Leslie Backschies, agente do FBI, teria tido participação nas investigações.
A parceria FBI/Lava Jato começou em 2014. Entre 2015 e 2016, tiveram como foco a Odebrecht e a Petrobras. Já em 2016, a Odebrecht topou pagar multa por corrupção de US$ 2,6 bilhões a Brasil, Suíça e EUA. E em 2018, a Petrobras aceitou pagar US$ 1,78 bilhões ao Departamento de Justiça americano.
Segundo as matérias da “Vaza Jato”, as investigações se deram também em solo brasileiro, o que não é permitido por lei, já que um agente estrangeiro não pode fazer investigações aqui sem ter autorização do Ministério da Justiça. Em julho de 2020, questionada sobre a parceria entre FBI e Lava Jato, a força-tarefa de Curitiba negou existir “parceria”.
“Não se trata de atuação em parceria, mas de cooperação entre autoridades responsáveis pela persecução criminal em seus países, conforme determinam diversos tratados internacionais de que o Brasil é signatário. O intercâmbio de informações entre países segue igualmente normas internacionais e também leis brasileiras”, afirmaram.
Os documentos obtidos pela Agência Sportlight agora mostram pela primeira vez uma autoridade brasileira falando claramente sobre essa “parceria”. Uma parceria tão forte que resultou no FBI “destacando equipe para ficar à disposição do Brasil para os trabalhos”.