Em grande ato, movimento sindical argentino exige renegociar acordo com FMI

Ato da CGT em Buenos Aires, 2 de maio de 2023. Foto de Bruno Falci.

Diretamente de Buenos Aires

Preocupada com a crítica situação socioeconômica, a CGT – Confederação Geral do Trabalho – realizou hoje, dia 2 de maio, um ato pelo Dia do Trabalhador. no estádio do clube Defensores de Belgrano, localizado no bairro de Nuñes em Buenos Aires. A praça esportiva, que tem capacidade para cerca de 10 mil torcedores, estava totalmente lotada, inclusive na parte reservada ao gramado. Devido a sua lotação, milhares de militantes se aglomeraram na parte externa, o que levou a prefeitura de Buenos Aires a isolar e impedir o trânsito em diversas quadras nas imediações do estádio.

Em documento, a entidade sustenta que “a sociedade argentina atravessa uma complexa crise econômica e social” e exorta “a alcançar um grande consenso político, que promova o desenvolvimento, a produção e o trabalho como instrumentos para um horizonte de crescimento com justiça social”. O texto destaca: “Inflação e índices de pobreza devem liderar as prioridades para a adoção de medidas e ações urgentes”. O evento. que teve como lema “Estamos a tempo”, visava alcançar “um grande consenso político, econômico e social” e promover o crescimento, a produção e o trabalho.

O texto entrelaça a celebração dos 40 anos de “recuperação democrática” e o alerta de que o descontentamento prevalecente favorece o surgimento de antissistemas emergentes que, para os sindicalistas, colocam em risco o sistema democrático em sua plenitude. A CGT, de certa forma, acrescenta o que expressou Cristina Kirchner – vai propor a finalização de um grande acordo político, econômico e social, entre as quais está a renegociação do acordo com o FMI.

A deterioração econômica e social dos trabalhadores em decorrência do forte endividamento externo herdado do governo de Mauricio Macri, os condicionamentos do FMI, a especulação econômica através de corridas cambiais e a forte escalada de preços foram pontos comuns em todas as negociações e atravessaram de formas distintas todas as minutas que circulou entre os dirigentes sindicais.

A CGT é a central sindical histórica da Argentina. Foi fundada em 1930 como resultado de um acordo entre socialistas, sindicalistas revolucionários, comunistas e independentes para criar um centro sindical unitário e plural. Em geral, teve maioria socialista até 1945, quando então se tornou a “espinha dorsal” do movimento peronista. O peronismo ou justicialismo é um movimento político argentino que surgiu em meados da década de 1940 em torno da figura de Juan Domingo Perón e de um número considerável de sindicatos. Desde seu surgimento teve uma importante influência na política argentina. Atualmente, a CGT é a central majoritária e se autonomizou em relação aos partidos políticos. No âmbito internacional, é filiada à Confederação Sindical Internacional (mundial), à Confederação Sindical das Américas e à Coordenadoria das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS-Mercosul).

Torna-se necessário frisar que as organizações políticas, sindicais e sociais realizaram no dia 1 de maio, atos e marchas em Buenos Aires para comemorar o Dia do Trabalhador e se manifestaram contra as condições do Fundo Monetário Internacional (FMI). A Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina Autõnoma (CTAA) e movimentos sociais como UTEP, Somos Bairros de Pé, Evita e Corrente Classista e Combativa (CCC) realizaram uma marcha de unidade em direção ao centro de Buenos Aires contra as imposições do FMI.

O ato no estádio do Defensores de Belgrano voltou a mostrar o triunvírato da CGT formado por Héctor Daer (saúde), Carlos Acuña (postos de gasolina) e Pablo Moyano (camioneiros) unidos na preocupação de uma provável chegada à Casa Rosada da direita ultraliberal conforme mostram algumas pesquisas. Em 20 de abril, quando a CGT convocou o evento, um de seus codirigentes, Héctor Daer, disse que o debate político deve ser priorizado entre todos os setores e encontrar caminhos que levem a um rumo definitivo, rumo a um país mais igualitário. Que possa gerar condições de trabalho, pleno desenvolvimento e produção. “Os dados de inflação e pobreza na Argentina devem nos envergonhar”, alertou.

O ministro da economia, Sergio Massa, não participou do ato porque teve que acompanhar o presidente Alberto Fernández em sua viagem ao Brasil, onde se reuniu com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Massa esclareceu aos sindicalistas seu “compromisso de trabalhar juntos para estabilizar a economia e recuperar os salários” e explicou que suas obrigações o levam ao Brasil em busca da “consolidação da relação econômico-comercial com aquele país irmão”.

O compromisso de consolidar a relação econômico-comercial com o Brasil, salientado por Massa, ocorreu em Brasília, neste dia 02 de maio, quando os presidentes Alberto Fernández e Lula se reuniram. Em entrevista coletiva de imprensa, de ambos, que foi transmitida pelo Canal TVP (TV Pública) de Buenos Aires, Lula se comprometeu em ajudar a Argentina a superar a grave crise econômica gerada pelos efeitos das ´políticas impostas pelo FMI.

Em seu pronunciamento, Lula declarou a Fernández que fará de tudo e qualquer sacrifício para ajudar a Argentina a superar este momento difícil. Disse ainda que já falou com os Brics para saber como ajudar. Lula salientou também que pretende conversar com o FMI através de Fernando Haddad, seu ministro da fazenda, para “tirar a faca do pescoço da Argentina, pois o FMI sabe como o país se endividou”. Lembrou a origem do acordo econômico com o organismo internacional, no valor de 50 bilhões de dólares, que foi implementado no governo de Macri. Finalizou afirmando que “a Argentina só quer crescer e melhorar a vida do povo”.

Por sua vez, Alberto Fernández lembrou que tanto ele quanto Lula estão convencidos da necessidade de fortalecer o Mercosul e toda a América Latina. “Hoje demos um passo muito importante nesse caminho”.

Confira no Twitter do Cafezinho mais fotos e vídeos do evento:

Bruno Falci:
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