Por Bruno Falci, direto de Buenos Aires
Durante todo dia, desde as primeiras horas da manhã, multidões de trabalhadores ocuparam as ruas do centro histórico de Buenos Aires, entre a Plaza de Mayo, onde fica situada a Casa Rosada, sede do governo, e a ampla Avenida 9 de julho. Utilizando discursos, slogans e canções, estavam presentes as organizações UTEP, CCC e a CTA Autónoma, entre outras, que se uniram em uma rejeição às políticas do FMI – Fundo Monetário Internacional. Foi uma manifestação que envolveu um longo trajeto da Avenida 9 de julho com o slogan “Não ao FMI”.
A UTEP – União de Trabalhadores e Trabalhadoras da Economia Popular é o sindicato que representa e defende os direitos de todos os excluídos do mercado de trabalho.
A CTA – A Central de Trabalhadores da Argentina é um sindicato trabalhista, nascido da separação de um grupo de sindicatos da CGT em 1992, insatisfeito com a posição adotada contra o governo de Carlos Menem.
O CCC- Corrente Classista e Combativa é um grupo político e sindical argentino promovido pelo Partido Comunista Revolucionário. Foi formada após a Marcha Federal de 1994, organizada em oposição ao governo de Carlos Menem. Como resultado de múltiplas assembleias nas unidades produtivas e bairros populares de todo o país, decidiu-se exigir respostas concretas dos trabalhadores da economia popular.
A rejeição da ingerência do FMI e a reivindicação de salários dignos para os trabalhadores foram os eixos principais da concentração que decorreu nesta segunda-feira.
“Ganhamos as ruas em unidade, mais uma vez, para reivindicar este Dia do Trabalhador, destacou Hugo Godoy, secretário-geral da CTA Autónoma. O dirigente estadual, que foi um dos principais palestrantes do evento, considerou que a classe trabalhadora tem que manter “a dignidade de ser quem gera riqueza, e recuperar sua posição de determinar como essa riqueza é distribuída”.
“Não haverá verdadeira democracia enquanto houver pobreza e fome, porque a democracia se constrói com liderança e força popular. Teremos que continuar lutando até erradicar as imposições do FMI que buscam condenar gerações inteiras. Não vamos permitir isso. Lutaremos até conseguir uma pátria libertada”, alertou Godoy.
Por sua vez, o líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Excluídos (MTE), Nicolás Caropresi, pediu “aumentos emergenciais, teto, terra, trabalho e orçamento para a Lei Nacional de Emergência contra a Violência de Gênero.
Por sua vez, o líder da Corrente Classista e Combativa (CCC), Juan Carlos Alderete, reivindicou aqueles que “lutam pelos interesses da classe trabalhadora, dos trabalhadores sociais comunitários e, sobretudo, das mulheres que sustentam a vida nos bairros”.
Alderete denunciou “os vagabundos da especulação financeira que nunca trabalharam na vida” e, em sintonia com os demais palestrantes, destacou que “o convênio com o Fundo só traz sofrimento ao povo, agravando a pobreza, enquanto exportadores e especuladores fazem fortunas e fogem.”
Para finalizar, o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), Esteban Castro, alertou sobre a falta de comida nas cantinas. “Juntamente com a CTA fizemos assembleias por todo o país, e vimos como se organizam para levar o país para a frente, mas ainda há uma distância enorme entre a organização popular e a direção política.”
“Voltamos a gritar que ‘fome é crime’, e avisamos que vamos resistir a qualquer custo contra o FMI e o imperialismo”, encerrou o líder social.
Esse Dia do Trabalhador teve características especiais, que não estavam presentes apenas nas camisetas com a imagem do presidente Lula, expostas pelos vendedores que se encontravam no meio dos manifestantes. Havia sobretudo a presença do cenário conturbado da crise econômica da Argentina, sempre ressaltada nas oratórias sindicais, que denunciavam as mazelas do FMI. E havia também uma certa expectativa sobre as eleições presidenciais que irão ocorrer em outubro próximo. A crise econômica foi gerada pelo governo Mauricio Macri, consequência de um empréstimo no valor de 50 bilhões de dólares, em 2018, visando reduzir o déficit e a inflação.
Desta forma, a Argentina ficou subordinada às políticas econômicas determinadas pelo FMI, tais como arrojo salarial, privatizações, a redução dos programas sociais e enxugamento da máquina pública do Estado. Em consequência, gerou uma inflação descontrolada no país, provocando a desvalorização do salário e o aumento da pobreza.
Ciente de toda essa conjuntura, e a Argentina sendo considerada uma parceira estratégica do Brasil, tanto do ponto de vista econômica quanto político, o presidente Alberto Fernandes e o ministro da economia Sergio Massa terão um encontro com o presidente Lula e o ministro da fazenda Fernando Haddad, hoje, 02 de maio. O Brasil quer propor à Argentina um pacote de socorro e que as nossas transações não sejam feitas com moedas de um terceiro país, através do dólar. Isso inclui ainda uma linha de financiamento através do BNDES para facilitar as exportações da Argentina. Considerando que o Brasil e a China são os principais parceiros econômicos da Argentina há a possibilidade de se viabilizar um auxílio do banco dos Brics, que é hoje dirigido pela ex-presidenta Dilma Rousseff.
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