A estratégia da base governista e da oposição na montagem do quadro de parlamentares que vai participar da Comissão de Inquérito do 8 de janeiro passa, obrigatoriamente, pelo poder de influência nas redes. Isso acontece porque a vitória de uma narrativa nas redes sociais, ou seja, um fortalecimento de discurso através da opinião pública, servirá de base para uma vitória no Legislativo, seja de um lado ou de outro.
As diretrizes da equipe de comunicação tanto do governo como da oposição seguirão a mesma linha. A base governista busca montar uma equipe de comunicação exclusiva para as redes sociais, além de se aliar a influenciadores que tiveram papel decisivo nas eleições gerais de 2022, como o youtuber Felipe Neto, que atuou em favor de Lula. Já parlamentares do PL apostam no engajamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de integrantes do “gabinete do ódio”, especializados em hostilizar adversários políticos.
Quanto à escalação do quadro de parlamentares, a oposição planeja ter a presença de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e André Fernandes (PL-CE) como titulares, ambos na lista dos dez deputados mais influentes realizada pela Genial/Quaest. Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado com maior número de seguidores da lista, 2,4 milhões, será suplente. Todos esses parlamentares já possuem equipes especializadas que seriam usadas para potencializar seus discursos nas redes.
Entre os representantes da oposição do senado, Magno Malta (PL-ES) será titular, quinto senador mais influente nas redes segundo pesquisa. Outros nomes que completam a escalação são Damares Alves (Republicanos-DF) e Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), que será suplente de Magno Malta.
O Deputado Capitão Augusto confirma as intenções da oposição: “O Congresso é muito influenciado pela opinião pública, e as redes sociais estão tendo um papel essencial nisso”, disse o parlamentar.
Além disso, o ex-presidente Jair Bolsonaro também se comprometeu a ajudar na divulgação do material produzido por integrantes do PL e outros membros da oposição em suas redes.
A base do governo visa ter o apoio de André Janones na mobilização da comunicação na internet. Ele foi um dos responsáveis pelo sucesso da campanha do atual presidente Lula no ano passado. “Vamos montar uma estratégia e o Janones vai estar lá para ajudar”, afirmou o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), cotado para integrar a comissão.
Janones, mesmo que seja um dos nomes fortes nas redes, corre o risco de não participar da comissão, uma vez que seu partido, o Avante, não conseguiu lugares na CPMI. “Uma única promessa a vocês no dia do trabalho: trabalhar muito caso eu seja indicado pra CPMI, dar muito trabalho para Bolsonaro, e fazê-lo arrepender amargamente de ter roubado o povo trabalhador deste país”, postou o parlamentar na internet nessa segunda (01).
Governo e oposição se planejam para responder de forma rápida qualquer deslize de seus parlamentares na CPMI e para aproveitar as falhas do outro lado. “Cortes” de vídeos da comissão farão parte da estratégia de ambos para conquistar espaço nas redes, configurando uma acirrada batalha de discursos.