Há razões para otimismo com Lula?

Lula, Janja e criança indígena, abril de 2023. Foto de Ricardo Stuckert.

Sim, acredito que há razões sólidas para otimismo em relação ao governo Lula.

Uma pesquisa recente mostra que a maioria dos eleitores de Lula também pensa assim. Segundo a Quaest, com entrevistas realizadas entre 13 e 16 de abril, 76% dos eleitores de Lula se mantém otimistas de que a economia irá melhorar (apenas 5% estão pessimistas).

Até mesmo o Banco Central, que tem exercido o papel de corvo da desgraça nos últimos meses, apareceu com boas notícias, e, dias atrás, anunciou que o crescimento do país em fevereiro foi de 3,32%, o maior em quase três anos. A estimativa do BC mexeu profundamente com as expectativas do mercado, que já começaram a ser ajustadas para cima.

O dólar vem se mantendo abaixo de 5 reais, o que é menos uma dor de cabeça para o brasileiro assalariado. Dólar baixo, na economia fortemente globalizada em que vivemos, significa inflação sob controle. Ademais, não é um nível tão baixo que poderia prejudicar nossas exportações de manufaturados.

O preço dos combustíveis, por sua vez, vem caindo expressivamente há semanas, por determinação da Petrobrás.

O desemprego, conforme medido pelo IBGE, encerrou o primeiro trimestre do ano em 8,8%, o menor em 8 anos para o período.

Quase todos esses índices, todavia, ainda não refletem a injeção bilionária de dinheiro nas camadas mais pobres, através do novo Bolsa Família. A primeira parcela do programa foi paga apenas no final de março, e a segunda caiu no último dia 28 de abril. Esse é um dinheiro que costuma se multiplicar por várias vezes, por se converter automaticamente em consumo. 

Mas ainda não terminamos com as boas notícias.

O saldo comercial do Brasil, ou seja, a receita gerada com exportação menos a despesa com importação, bateu recorde histórico no primeiro trimestre, de US$ 15,84 bilhões. Graças à forte demanda chinesa, a pujança do agronegócio brasileiro, a maturidade do pré-sal e os bons preços das commodities, o Brasil nunca ganhou tanto dinheiro com exportação.

A arrecadação federal, que soma o pagamento de impostos de empresas e cidadãos, é outro indicativo importante para se medir a temperatura da economia. Segundo a Receita, a arrecadação federal no acumulado do primeiro trimestre chegou a R$ 581,79 bilhões, alta de 1% sobre 2022, e o maior volume para o período desde 1995, já descontada a inflação.

Os índices de inflação também sinalizam bons ventos para a economia doméstica, pois a estimativa mais recente feita pelo IBGE, divulgada dias atrás, aponta uma inflação acumulada de 12 meses em 4,16%. É um resultado aponta uma inflação em 2023 dentro da meta estabelecida pelo Banco Central, cujo teto é de 4,75%, abrindo caminho para a queda dos juros.

No campo da política, também há perspectivas alvissareiras para o governo Lula. Os dois grandes desafios de Lula no congresso nacional, a aprovação do Arcabouço Fiscal e a reforma tributária contam com apoio da maioria das lideranças partidárias, inclusive das legendas conservadoras, e devem ser aprovados com relativa tranquilidade.

No caso da CPMI do 8 de janeiro, ela não poderia ter sido aprovada em melhor hora. Os trabalhos da CPMI serão extremamente úteis para aglutinar novamente as forças democráticas ao redor de um objetivo em comum, que é derrotar o bolsonarismo.

A CPMI será uma espécie de terceiro turno, mas que o campo democrático jogará em condições muito mais favoráveis, porque agora tem o controle da poderosa máquina federal. Mais importante: dessa vez, o bolsonarismo NÃO tem o controle da poderosa máquina federal.

Ainda no universo da política, vemos que Lula tem desempenhado um papel muito destacado no mundo. Em poucos meses de governo, o presidente reposicionou geopoliticamente o Brasil, jogando o jogo da grande diplomacia global com maestria. No grupo dos países vistos como “democráticos” (conceito polêmico, mas ainda relevante), Lula já é considerado a maior liderança dos países em desenvolvimento. Num mundo polarizado pela guerra na Ucrânia, Lula conseguiu estabelecer para si uma imagem singular, de campeão da paz, com prestígio suficiente para ser ouvido por todos os lados, o que naturalmente também abre oportunidades enormes no campo dos investimentos e negociações de acordos internacionais.

Há muitas razões para o otimismo com o governo Lula, mas nenhuma delas deve servir para que o campo democrático baixe a guarda para os perigos que ainda rondam o país. O fascismo, chutado para fora do governo, permanece vivo do lado de fora, farejando oportunidades, pontos-fraco, vulnerabilidades, para atacar.

O governo Lula precisa investir pesadamente em comunicação, inteligência e projeto. A cabeça meio oca da classe média brasileira precisa ser ocupada com sonhos de um país grande. Não bastam programas sociais ou salário mínimo, o governo precisa oferecer um futuro. Isso é, inclusive, muito compreensível e humano. Um dos trunfos da extrema direita é entender esse vazio no espírito das classes médias, e preenchê-lo com palavras de ordem vazia sobre patriotismo. O campo progressista precisa assumir a responsabilidade de ocupar esse lugar e reaprender a sonhar grande.

E uma das melhores maneiras de fazer isso, no caso do Brasil, seria oferecer à sociedade o sonho de termos, um dia, um grande e moderno sistema de trens de alta velocidade conectando todas as nossas capitais, além de vastas redes de metrôs e vlts em todas as cidades do país…

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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