Se a CPMI não atingir a cúpula militar, será uma farsa

Apoiadores de intervenção militar se aglomeram durante discurso do presidente Jair Bolsonaro em Brasília (19.abr.2020). Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Na próxima semana a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro irá iniciar os seus trabalhos, a começar pela definição dos membros da comissão e mesmo sem sequer ter alguma definição sobre quem serão os nomes, é fundamental que façamos um reforço sobre qual deve ser o principal foco dos trabalhos de qualquer parlamentar minimamente comprometido com o Estado Democrático de Direito: os militares.

Por mais que empresários – em grande parte do agronegócio – tenham financiado as caravanas e estruturas golpistas de todo o país, nada disso seria possível sem a conivência dos militares e estímulos que deram para as massas de celerados de todo o Brasil.

De voos de helicóptero para agitar massas que pediam golpe militar, até sucessivos questionamentos ao sistema eleitoral que subsidiavam os delírios golpistas de Jair Bolsonaro. Foi o tenente-coronel da ativa, Mauro César Barbosa Cid, que fez aquela apresentação que Bolsonaro exibiu para embaixadores e transmitida pelo governo para questionar o sistema eleitoral e foi a cúpula das forças armadas que escreveu a nota do dia 11 de novembro do ano passado e que “legitimava” os acampamentos criminosos aos redor do país.

Além disso, foi a cúpula das forças armadas que respaldou e permitiu que dezenas de quartéis não só recebessem os golpistas como também oferecessem apoio logístico e material aos acampados.

Veja também: Foram eles

Durante a noite do dia 8 de janeiro, não faltam relatórios de acampados, policiais militares, membros do governo e jornalistas de que a cúpula das forças armadas impediu detenções de criminosos, permitindo que muitos fugissem e relatos de militares do Batalhão da Guarda Presidencial apoiando criminosos durante a invasão do Palácio do Planalto.

Foi no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado por militares, que vieram diversas falhas, seja de acompanhamento, seja de omissão ou cumplicidade com os ocorridos.

E isso eu estou falando exclusivamente de militares da ativa, sem passar por aqueles que estão na reserva como Braga Netto, Heleno e outros tantos que lotearam o governo Bolsonaro.

É preciso que parlamentares e a sociedade civil não caiam na tentação covarde e confortável de acreditarem que a responsabilização dos militares no 8 de janeiro se circunscreve aos generais do governo Bolsonaro. E os generais que permitiram os acampamentos? E a cúpula que legitimou os movimentos? E os generais que buscaram impedir as prisões no dia 8 de janeiro?

Nesta altura do campeonato os “militares do Bolsonaro” são meros bois-de-piranha, tudo que as dezenas de militares na cúpula das forças armadas querem é que a sociedade e a política se enganem, deem como satisfeitos com algumas investigações de militares na ativa e alguns poucos da ativa e que toda a estrutura se mantenha. Será a consumação de todos os objetivos das forças armadas e que nos trouxeram para o dia 8 de janeiro.

Por isso, não basta apenas punir um ou outro militar, sem chegar na cúpula, a CPMI não passará de uma grande farsa!

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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