DW – Embora defenda a integridade territorial da Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou nesta quarta-feira (26/04) a dizer a quem ele considerava que os territórios ucranianos da Crimeia e de Donbass pertenciam.
“Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia. Não sou eu que vou discutir isso, quem discute isso são os russos e ucranianos. Primeiro para a guerra e depois resolve. Tem que parar primeiro a guerra”, afirmou Lula ao ser questionado por jornalistas durante coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, em Madri.
“Estou incomodado com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Condenamos a violação territorial da Ucrânia. Mas agora não adianta dizer quem está certo e está errado, a guerra precisa parar”, disse o presidente um pouco antes, durante o discurso.
Na coletiva que ocorreu após o encontro entre os dois líderes, Lula pontuou várias vezes que o Brasil defendia a integridade territorial da Ucrânia e sugeriu novamente a criação de uma espécie de G20 da paz para negociar o fim do conflito, que teve início com a invasão russa.
Ele voltou a afirmar que o Brasil sempre condenou a ocupação territorial da Ucrânia e disse ser o único líder mundial que estaria buscando negociações de paz. “Não tem ninguém falando em paz, a não ser eu que estou gritando paz, como se estivesse isolado no deserto.”
Lula também disse que a ONU já deveria ter convocado sessões extraordinárias para debater a guerra e falou da recusa do Brasil em fornecer armamentos para a Ucrânia. “Não vamos vender porque, se a Ucrânia usar um míssil e matar um russo, o Brasil vai entrar na guerra, e o Brasil não quer entrar na guerra”.
Já Sánchez parabenizou o Brasil pela inciativa de paz e destacou que o país defende a integridade territorial da Ucrânia. “Isso é importante. O Brasil respeita soberania de povo que está sendo agredido, que é o ucraniano”, ressaltou.
Acordo comercial entre União Europeia e Mercosul
O acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul também foi tema do encontro entre os líderes. Tanto Sánchez quanto Lula mostraram otimismo de que o pacto seja concluído em breve.
“Se fosse fácil o acordo, já teríamos feito. O acordo mexe com o interesse da sociedade. O Brasil também tem seus interesses. Com Sánchez na presidência da União Europeia, temos chances de fechar esse acordo”, pontuou Lula.
O premiê espanhol disse que alguns parceiros europeus relutam em aprovar o acordo, mas ele prometeu tentar convencê-los a dar luz verde para o pacto. “Apesar dos obstáculos, temos uma oportunidade agora porque a Europa precisa de aliados. Vamos trabalhar para acabar com as dúvidas. E teremos uma conjuntura para atingir um acordo importante”, pontuou.
Negociado desde 1999, o acordo criaria uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, com 700 milhões de pessoas. Após ter sido alcançado em 2019, o processo de implementação do pacto foi suspenso com as recusas do então presidente Jair Bolsonaro em combater o desmatamento da Amazônia em se comprometer na luta contra as mudanças climáticas.
A União Europeia espera avanços em breve, com o Brasil assumindo a presidência do Mercosul no segundo semestre deste ano, e a Espanha assumindo a presidência da União Europeia.
Viagem à Espanha
Sánchez recebeu o brasileiro no Palácio da Moncloa, sede do Executivo espanhol, e ambos se cumprimentaram e posaram para os fotógrafos antes de entrar na sala onde ocorreu o encontro com vários de seus respectivos ministros.
Lula chegou na terça-feira à capital espanhola, para sua primeira visita ao país em seu terceiro mandato, logo após ter saído de Lisboa, onde fez mais uma visita oficial.
Durante o encontro, foram ainda assinados acordos de cooperação entre os países nas áreas de educação, ciência e tecnologia e trabalho.
Na Espanha, Lula será recebido ainda pelo rei Felipe 6º.