Exclusivo: Povo argentino quer Cristina Kirchner presidenta

Bruno Falci, direto de La Plata. 27 de abril de 2023

Por Bruno Falci, diretamente de La Plata

Cristina Fernández de Kirchner reapareceu na cena pública hoje, 27 de abril de 2023, às 18h00. Ela se apresentou no Teatro Argentino de La Plata, sua cidade natal, situada a 58 quilometros de Buenos Aires, para dar uma “aula magistral” intitulada “Argentina Circular: o FMI e sua receita histórica de inflação, recessão, fragmentação política e concentração econômica”.

Cristina não anunciou sua candidatura, mas é esperado que ela o faça no dia 25 de maio, em Buenos Aires.

Neste dia, um feriado nacional e uma data muito importante no calendário político do país, se espera uma intensa mobilização com caravanas vindas de várias regiões. Ao longo do dia, desde o amanhecer, milhares de militantes se mobilizaram intensamente nas ruas de La Plata, com uma única finalidade: dar apoio à candidatura presidencial de Cristina Kirscher.

Bruno Falci

No teatro, coube à vice-presidente manter a retórica sobre o FMI e a recessão e concentração econõmica do país, mas o que envolvia e determinava a mobilização de todos era o empenho em manter viva a possibilidade de sua candidatura presidencial.

Foi a primeira vez que a vice-presidenta falou em público, após a renúncia que o presidente Alberto Fernández optou ao dizer que não iria se candidatar à reeleição. Além disso, o teor econômico de parte da pauta será especialmente relevante nestes dias em que a cotação do dólar atinge recordes nominais. Por fim, a menção ao Fundo Monetário Internacional no título da palestra também ocorre no momento em que o ministro da Economia, Sergio Massa, disse que vai renegociar o acordo com o organismo multilateral para ter maior margem de intervenção nas corridas cambiais.

A convocação foi intensa. “Na próxima quinta-feira participaremos da apresentação da Escola Justicialista Néstor Kirchner, no amado e restaurado Teatro Argentino de La Plata”, escreveu a vice-presidente em sua conta no Twitter.

O anúncio também foi acompanhado por um vídeo onde são vistas imagens de Perón, Evita e Néstor Kirchner. “Quando eles falaram que todos deveriam ir, o Fundo foi embora”, menciona o vídeo ao mostrar a fala de Néstor Kirchner, onde afirma: “Basta de dívida externa”. “Vamos fazer o inesperado. Vamos fazer escola. Vamos construir o futuro. Pensamento. Treinamento. Persuasão. Ação”, conclui a sequência.

“Hoje não temos desemprego, temos trabalhadores com empregos e pobres”.

Em seu pronunciamento, Cristina advertiu que “o passado reaparece aqui no presente” e afirmou que a Argentina vive uma “situação em que figuras, ideias e acontecimentos do passado parecem querer voltar para se instalar no presente para nos condicionar e condicionar o futuro”.

Ela também afirmou que o acordo assinado com o FMI é “inflacionário” e acrescentou que esse efeito é o “grande problema da sociedade argentina”.

“É possível que 20 anos depois estejamos discutindo o que falhou e destruiu a Argentina 20 anos antes? O que acontece conosco compatriotas? O que acontece conosco que é como uma Argentina circular que volta a seus fantasmas e seus velhos fracassos?”, questionou.

“Não estou dizendo que estamos certos, mas, por favor, não queira me convencer de que temos que voltar para resolver este presente e o futuro.”

“Estamos todos discutindo o que falhou há 20 anos. A bomba explodiu na cara de 40 milhões de argentinos, nas praças, no desemprego e no recrutamento. Disseram-nos que um peso era igual a um dólar, era a dolarização da economia”, disse a vice-presidenta.

“O que acontece conosco é como uma Argentina circular, que retorna a seus fantasmas e seus velhos fracassos.”

“Imagine um país em que não haja política monetária e política cambial. Um país onde nossos principais parceiros comerciais, por exemplo, Brasil e China, desvalorizam suas moedas e não temos o instrumento monetário porque estamos com moeda forte. Sem política monetária, sem política cambial e também dependendo de uma moeda com uma economia como a dos EUA que é absolutamente competitiva com a Argentina”.

O ato da vice-presidente Cristina Kirchner concentrou a atenção de toda a Frente governista, que compareceu majoritariamente, embora tenha havido faltas como a do presidente Alberto Fernández.

Outro que não esteve presente foi o chefe de gabinete, Agustín Rossi, além dos ministros mais próximos de Fernández, como o ministro das Relações Exteriores, Santiago Cafiero, e o ministro da Segurança, Aníbal Fernández.

O evento foi organizado para comemorar os 20 anos do triunfo que levou Néstor Kirchner (2013-2019) à presidência, (exercida de 2003 a 2007), e para inaugurar a Escuela Justicialista Néstor Kirchner, que pretende ser um espaço de discussão e formação de novos quadros políticos. O local do encontro tem um significado especial em sua história, pois, além de ser sua cidade natal, foi o local onde Cristina, em 2005, anunciou que seria candidata a senadora, e onde, dois anos depois, lançou sua campanha presidencial, que culminaria no primeiro de seus dois mandatos e lançou a implementação da Lei da Mídia, em 2009.

A Escola será um espaço para a formação de quadros e dirigentes políticos, criado pela UMET em conjunto com La Cámpora e a Frente Renovadora, mas que, segundo disse um dos seus membros pretende ser um espaço do justicialismo, onde os governantes também estejam representados. A Universidade Metropolitana de Educação e Trabalho (UMET) nasceu em 2013 com um forte compromisso com a comunidade, educação e desenvolvimento profissional.

Bruno Falci


A UMET é a primeira universidade promovida e cogerida por mais de 70 organizações sindicais, o que lhe permite ter carreiras inovadoras e agendas de investigação fortemente ligadas ao desenvolvimento produtivo e tecnológico do país. La Cámpora é uma organização política fundada formalmente em 2006. Com forte orientação kirchnerista, o grupo apoiou os esforços governamentais de Néstor Kirchner e Cristina Fernández de Kirchner, em seus mandatos presidenciais, desde o início. Seu nome é uma homenagem ao ex-presidente peronista Héctor J. Cámpora.

A Frente Renovadora é um partido político argentino de orientação peronista, sincretista e transversalista, legalmente reconhecido em 2019.

Ao longo do dia, havia uma grande expectativa para um pronunciamento sobre as eleições presidenciais de 2023. “Cristina candidata” e “Cristina está concorrendo” eram as mensagens mais presentes no Twitter. Como já afirmavam diversas pessoas próximas a Cristina Kirchner ao longo do dia, a vice-presidente em seu discurso se concentrou em desenvolver o título da palestra, denunciando o modelo predatório do FMI. Dessa forma, foram contornadas as expectativas sobre alguma definição eleitoral.

Confira abaixo mais imagens e vídeos do evento.

Bruno Falci:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.