Más notícias para o último bastião cirista do país

Ciro e Sarto. Fonte: Facebook. O candidato de Ciro Gomes, que tenta a reeleição, enfrenta rejeição crescente e deve ficar fora do segundo turno.

Há algumas semanas, o ex-ministro Ciro Gomes voltou ao Brasil, após um longo período de silêncio nos Estados Unidos, e participou de um evento em Fortaleza.

Era uma eleição para o diretório municipal do PDT, para confirmar Roberto Claudio como chefe do partido na cidade, embora isso apenas oficializasse uma situação provisória de muito tempo.

Entretanto, uma ocasião exclusivamente local e partidária, que geralmente acontece de maneira discreta, longe dos holofotes da imprensa, chamou atenção dos principais jornais do estado. A imprensa nacional chegou a levantar a sobrancelha de curiosidade, mas achou que não valia a pena.

Os motivos para o burburinho, maior do que o normal para um processo que, numa legenda com vida interna discreta, estável, como o PDT, transcorreria sem provocar grandes ruídos, eram vários.

Seria a primeira vez que Ciro Gomes, desde a eleição presidencial, apareceria publicamente, para fazer um discurso. Com uma presença ativa na vida política nacional de 2016 a 2022, dando entrevistas quase diariamente, Ciro Gomes mergulhou no mais absoluto silêncio após a divulgação dos resultados do primeiro turno. A razão do silêncio não era difícil entender: conquistando apenas 3% dos votos, Ciro havia obtido o pior resultado de sua história política, passando vergonha inclusive em seu estado. Até mesmo em sua cidade natal,  Sobral, Ciro Gomes ficou em terceiro lugar em todas as zonas do município.

O segundo motivo é a crise no PDT cearense, dividido entre o grupo de Roberto Cláudio, ainda muito ligado a Ciro Gomes (como a presença de Ciro no evento comprovaria) e um outro mais próximo do atual senador Camilo Santana, governador do Ceará por dois mandatos consecutivos, e que se elegeu em 2022 com 69,8% dos votos, ou 3,38 milhões de votos. Para efeito de comparação, Ciro obteve 369 mil votos no estado…

Roberto foi candidato ao governo do estado em 2022 e também teve um desempenho decepcionante, registrando 14% das intenções. Elmano de Freitas venceria no primeiro turno, com 54% dos votos, ou 2,8 milhões de votos.

Havia ainda um terceiro motivo, bastante importante para Ciro Gomes e para o PDT, que é a crise de popularidade do atual prefeito José Sarto, que teria desabado sobretudo após a aprovação da famigerada “taxa do lixo”.

O grupo de Roberto Claudio queria usar o evento como uma demonstração de força, daí a presença tanto de Ciro Gomes quanto do próprio presidente nacional do partido, o deputado federal André Figueiredo, além do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi,  presidente licenciado.

Seria também o lançamento informal da reeleição de José Sarto, um quadro político com qualidades éticas e morais de primeira grandeza, mas que parece abatido pelo fogo cruzado vindo de três lados, todos eles muito agressivos: a direita bolsonarista, a esquerda petista, o cirismo ressentido.

Em recente entrevista ao podcast cearense #quenemtu, do grupo Diário do Nordeste, o próprio Sarto admitiria o seu abatimento, reclamando contra o “fracasso absoluto da diplomacia política”, e dizendo-se decepcionado inclusive com seus aliados políticos mais próximos, como Ciro Gomes e Roberto Claudio, por liderarem uma ruptura com o PT e, na prática, com toda a esquerda cearense, que acabou gerando enormes dificuldades para sua administração. A entrevista mostra um político desanimado, pronto a jogar a toalha e desistir da reeleição.

O motivo do abatimento de Sarto agora está claro na pesquisa divulgada hoje, do Paraná Pesquisas, a primeira para as eleições de Fortaleza em 2024.

É uma pesquisa presencial, que entrevistou 742 eleitores de Fortaleza, entre os dias 20 a 23 de abril. A margem de erro é de 3,7 pontos para cima ou para baixo.

Os números da pesquisa, todavia, não surpreenderam ninguém. Qualquer analista político com um pouco de conhecimento da realidade de Fortaleza e do Ceará imaginaria que os números não deveriam ser muito diferentes do que todo mundo já podia observar a olho nu.

Vamos aos números.

No cenário 1 da pesquisa estimulada, o bolsonarista Capitão Wagner, do PP, lidera quase isoladamente, com 38,1%, seguido de Luizianne Lins, do PT, com 26,5%. José Sarto, o atual prefeito do PDT, aparece com 13,9%.

No cenário 2, sem nenhuma candidatura petista, Capitão Wagner teria 42% dos votos, contra 18,9% de Sarto.

A pesquisa também sondou a aprovação do prefeito, do governador e do presidente da república no município de Fortaleza, e também trouxe más notícias para Sarto e o PDT.

O atual prefeito enfrenta um problema de popularidade relativamente grave na classe média da cidade, o que nem sempre é um problema, se o mandatário lidera um movimento popular, o que não é o caso de Sarto.

Segundo a Paraná Pesquisa, Sarto é aprovado por 43,5% dos eleitores, e desaprovado por 50,9%. Não seriam números tão ruins, mas examinando a qualidade dessa aprovação, a situação dele é preocupante: ele tem apenas 5% de ótimo, a nota positiva máxima, e 26,3% de péssimo, que é a pior nota negativa.

Quando a pesquisa se divide por nível de instrução, nota-se ainda que o problema maior de Sarto se encontra entre os mais educados. Entre eleitores com ensino médio, por exemplo, a aprovação de Sarto é de 42,2%, contra 52,4% de desaprovação. Entre aqueles com ensino superior, sua aprovação cai para 33% e sua desaprovação explode para 61,5%.

Vamos olhar agora para a aprovação do governador e do presidente. Comecemos pelo governador Elmano de Freitas, do PT.

Elmano é aprovado por 62,4% dos eleitores de Fortaleza (ou pelo menos por aqueles entrevistados por essa pesquisa), e desaprovado por 31,3%.

A sua nota positiva máxima, o Ótimo, é de 9,6%, enquanto sua pior nota negativa, o Péssimo, é de 14,7%.

Entre eleitores mais instruídos, Elmano tem uma excelente aprovação: pontua 61,3% entre aqueles com ensino médio e 57,5% entre os que tem ensino superior.

Entre o eleitor menos instruído de Fortaleza, a aprovação de Elmano é impressionante: 67%.

Agora vejamos o caso do presidente Lula.

Segundo essa pesquisa, Lula é um fenômeno de popularidade na capital do Ceará, com aprovação de 68,9%! Apenas 27% disseram que o desaprovam.

Entre eleitores mais instruídos, Lula tem aprovação de 66,5% entre aqueles com ensino médio e 65,4% entre aqueles com ensino superior.

Entre o eleitor menos instruído, a aprovação de Lula é de 74,4%.

Conclusão

Considerando a impopularidade de Sarto,  num ambiente em que o governador Elmano de Freitas e o presidente Lula detêm impressionante aprovação popular, e isso sem falar no senador Camilo Santana, não é difícil prever que o atual prefeito encontrará grande dificuldade para sua reeleição, pois perderá votos à direita para o Capitão Wagner, e à esquerda, para a candidatura escolhida pelo Partido dos Trabalhadores.

Também não é difícil prever que essa pesquisa, mexendo no tabuleiro das perspectivas de poder, dificulta mais ainda as movimentações de Sarto e seus aliados, com impacto muito negativo para o grupo de Roberto Cláudio, que vive hoje uma queda de braço com o grupo do PDT, majoritário, que apoia o atual governador Elmano de Freitas.

A consequência é simples: o aumento do isolamento do grupo de Roberto Cláudio. Alguns de seus aliados já estão migrando para outros partidos. O vice de Sarto, por exemplo, Élcio Batista, até então filiado ao PSB, decidiu migrar para o PSDB, em busca de uma estratégia mais alinhada com a direita.

Um aspecto interessante dessa situação, quando analisada em termos mais gerais, é que a administração de Sarto pode ser considerada como o último bastião do cirismo. A prefeitura abriga vários militantes que apoiaram ferozmente Ciro Gomes, e que, até hoje, seguindo a orientação apontada pela campanha do candidato em 2022, se mantém profundamente hostis ao governo do presidente Lula.

Em termos práticos e institucionais, contudo, a tendência é que o grupo de Roberto Cláudio tenda a sofrer a mesma implosão experimentada por Ciro Gomes nas eleições de 2022. Seus aliados mais pragmáticos devem seguir a maioria do partido, aliando-se a Elmano de Freitas e alinhando-se às diretrizes nacionais, de ajudar o governo Lula. Uma minoria mais raivosa possivelmente seja atraída para a direita, engajando-se na candidatura do Capitão Wagner.

A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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