Texto e imagens de Bruno Falci, de Buenos Aires, especial para O Cafezinho
Após o choque causado pelo anúncio do presidente Alberto Fernández, na sexta-feira, 21 de abril, de que não deseja disputar a reeleição, criou-se um fato novo e inesperado na narrrativa política da Argentina.
Com a retirada de sua candidatura às eleições presidenciais que serão realizadas em outubro de 2023, o chefe de Estado abriu caminho para que os diferentes setores que compõem a Frente de Todos (FdT) decidam, por acordo de unidade, quem será o candidato a sucedê-lo no cargo que assumiu em dezembro de 2019.
No dia seguinte, sábado, 22 de abril, os grupos kirchneristas da Frente de Todos, voltaram a se reunir em entusiasmado evento de militância que lotou totalmente o ginásio do Club Ferro Carril. localizado no bairro de Caballito, em Buenos Aires. Em um pronunciamento de quase duas horas, o deputado nacional e presidente do PJ – Partido Justicialista, Máximo Kirchner, convocou os diversos setores da Frente de Todos a construir e debater um programa de governo com o lema “La Ciudad con Cristina.”
A convocatória ao ato, que começou às 10 horas da manhã, reuniu partidos políticos e organizações sociais que esperam uma nova candidatura da vice-presidente Cristina Kirchner, uma possibilidade que está mais próxima agora que Fernández declinou suas chances de disputar uma reeleição. A notícia, conhecida nas primeiras horas do dia, reanimou os setores desencantados com a condução nacional. Para a militância reunida no ginásio do Clube Ferro Carril Oeste, não cabe dúvida que deve encabeçar a fórmula: “A liderança de Cristina é hoje insubstituível e sem alternativa”.
“Como Cristina nos pediu, é hora de assumirmos a liderança coletiva que a hora exige”, diz o documento divulgado pelas lideranças. O texto, sustenta que “estamos diante de uma nova ofensiva do neoliberalismo sobre nossa América” instrumentalizada através de “um poderoso dispositivo midiático e judicial que persegue, estigmatiza, aprisiona e processa os principais líderes progressistas da região por causas -inventadas- que os vinculam a supostos atos de corrupção”.
Como nas plenárias anteriores realizadas em Avellaneda e Resistencia, o objetivo foi “quebrar a interdição” que impede a vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner de concorrer à coligação, dada a eventual ratificação da sentença que a condenou a seis anos de prisão e inabilitação para cargos públicos.
Houve inicialmente um debate nas comissões reunidas em diversos espaços do estádio do Ferro Carril, que contou com a participação de numerosas lideranças sindicais. Em seguida, houve uma cerimônia de encerramento da liderança peronista de Buenos Aires, juntamente com legisladores e autoridades nacionais, onde foi encaaminhado o pedido à ex-presidente para rever sua recusa em concorrer a um terceiro mandato.
Esta foi a terceira plenária da militância, que discutiu os desafios e propostas do espaço em uma situação adversa para o partido governista e de olho na “quebra da proibição” de Cristina Kirchner. A estrutura foi a mesma das reuniões anteriores, realizadas em 11 de março na cidade portenha de Avellaneda e em 1º de abril em Resistencia, Chaco.
O parlamentar portenho Matías Barroetaveña assinalou que “a reunião de sábado é mais um passo para superar a proibição de Cristina e consolidar o caminho para a candidatura à presidência”. Nesse sentido, indicou que “é fundamental que a Argentina volte ao único caminho que deu resultados nestes 40 anos de democracia”.
Junto com ele, estiveram presentes o senador e chefe do Partido Justicialista Mariano Recalde e as deputadas Gisela Marziotta e Paula Penacca, entre outras lideranças portenhas. Por sua vez, o deputado nacional da Grande Frente Pátria Itai Hagman afirmou: “Nos momentos difíceis e decisivos é quando mais precisamos de organização, militância e debate.”
Abaixo, as imagens do evento. Ao final, há também vídeos.