Acusado de receber milhões de dólares em propina da empreiteira brasileira Odebrecht, ele será extraditado para o Peru e afirma ser inocente.
Publicado em 21/04/2023
DW — O ex-presidente peruano Alejandro Toledo, procurado pela Justiça de seu país, entregou-se nesta sexta-feira (21/04) a uma corte judicial na cidade de San Jose, na Califórnia, Estados Unidos, para ser extraditado para o Peru.
Toledo é indiciado em seu país pela suposta prática dos crimes de lavagem de dinheiro, conluio e tráfico de influência envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht, em um caso ligado à Operação Lava Jato. Há um mandado de prisão preventiva expedido contra ele no Peru em aberto desde 2017.
Em setembro do ano passado, a Justiça americana havia autorizado a extradição de Toledo para o Peru, após reunir provas suficientes para justificar a medida, homologada em fevereiro deste ano pelo Departamento de Estado dos EUA.
Um juiz americano havia expedido uma ordem de detenção contra Toledo para executar a extradição, e o horário e local em que ele se entregaria foi previamente combinado com as autoridades dos EUA.
“Já está lá em cima”, disse uma fonte à agência de notícias EFE, acrescentando que a esposa do ex-presidente, Eliane Karp, também havia entrado no edifício.
Toledo deve ser levado a uma prisão do condado de San Mateo antes de ser extraditado ao Peru. Na quinta-feira, o ex-presidente disse à agência de notícias EFE que exigia que a Justiça peruana não permitisse sua “morte na prisão”.
Suposta propina envolvendo a Odebrecht
Toledo, de 77 anos, presidiu o Peru de 2001 a 2006. Ele é acusado de receber milhões de dólares em subornos da Odebrecht quando era chefe do Executivo, que seriam ligados a licitações para a construção da Rodovia Interoceânica entre o Brasil e o Peru. Ele nega as acusações.
Em fevereiro de 2019, o Ministério Público peruano anunciou que havia firmado um acordo de delação premiada com o empresário peruano-israelense Josef Maiman, que disse ter ajudado Toledo a receber propinas distribuídas pela Odebrecht e a lavar o dinheiro em paraísos fiscais.
Maiman disse ao Ministério Público que a Odebrecht depositou em contas que pertenciam a ele cerca de 35 milhões de dólares em propinas para Toledo.
Prisão anterior
Toledo já havia sido detido em 2019 na Califórnia, onde viveu nos últimos anos e lecionou na Universidade Stanford. Ele passou oito meses na prisão devido ao risco de fuga, mas foi colocado em prisão domiciliar em março de 2020, depois de a Justiça americana considerar que sua saúde poderia estar em perigo durante a pandemia.
“Estou profundamente desapontado com o que aconteceu no Departamento de Justiça e no Departamento de Estado (EUA), mas isso não tira minha gratidão a este país que me deu tudo”, disse Toledo à EFE.
O capítulo peruano do caso Odebrecht, considerado o maior escândalo de corrupção na América Latina, envolveu também os ex-presidentes Alan García (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), bem como a ex-candidata presidencial e líder do partido Força Popular Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, que foi derrotada por Castillo no pleito de 2021. García cometeu suicídio em 2019, antes de ser preso.
No Brasil, as delações premiadas de executivos da Odebrecht levaram à abertura de inquéritos e ações penais contra dezenas de políticos, inclusive contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – cujos processos foram anulados posteriormente pelo Supremo Tribunal Federal. Em 2020, a Odebrecht mudou de nome e hoje se chama Novonor.