Hora do governo ter coragem de enfrentar os militares

Lula e os militares, 19 de abril de 2023. Foto de Ricardo Stuckert.

É claro que não demitir o Ministro da Defesa, José Múcio, após o caos do 8 de janeiro e permitir que ele e o General Gonçalves Dias mantivessem bolsonaristas entre os seus quadros iria acabar dando no que deu nesta quarta-feira.

Imagens divulgadas pela emissora CNN revelaram que o Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estava presente no Palácio do Planalto durante o 8 de janeiro. As imagens reveladas estão anexadas nas investigações da Polícia Federal e também haviam sido enviadas para a justiça militar. Mas tem um porém nisso tudo: segundo o jornalista Gerson Camarotti, o GSI negou as imagens ao governo, alegando não ter essas informações. Depois, quando solicitadas por jornalistas, o GSI negou o acesso às imagens via Lei de Acesso à Informação e colocou 5 anos de sigilo.

E aí está outro erro do governo nessa história que aceitou essa situação. Além disso, já foi confirmado que o GSI também dispensou o reforço de guarda do Planalto horas antes da invasão do prédio.

Além disso, cabe lembrar que os Ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Paulo Pimenta (SECOM), já aviam denunciado o roubo de armamentos, informações e documentos da sala da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) no Palácio do Planalto e que segue sem solução.

Por fim, no dia 12 de janeiro deste ano, o presidente Lula disse estar “convencido” de que portal do Planalto foram abertas para a entrada dos criminosos que destruíram o prédio.

Outro ponto interessante nessa história é que o general Gonçalves Dias é conhecido do Lula há mais de 10 anos, inclusive, ele aparece ao fundo da emblemática foto do Lula com uma criança negra e seu pai tirada em março de 2006.

Gonçalves foi responsável pela segurança do presidente Lula em seus dois primeiros mandatos e até onde se sabia, ele era mal visto por oficiais das forças armadas que julgavam ele não ter merecido receber a promoção para general, segundo oficiais, ele teria sido promovido por ser “amigo” do Lula.

Foto: Ricardo Stuckert

Como mencionei no início do artigo, a estrutura do GSI ainda naquele momento e até agora, é de subordinados do general Augusto Heleno, militares que compactuam com as teses golpistas do aprendiz de Sylvio Frota.

É claro que a situação toda acabou alvoroçando os bolsonaristas que reforçaram ainda mais a tese amalucada de que o 8 de janeiro foi uma grande conspiração do próprio Lula!

Há dois dias atrás eu havia dito que o governo não deveria temer uma CPMI agitada pela oposição para apurar os ataques e destruição em Brasília, hoje, o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), defendeu a CPMI.

Essa situação toda terminou com o governo descobrindo tais imagens pela televisão, mesmo sendo a “dona” das filmagens originais, mesmo que tais imagens tenham sido feitas na sede do governo federal.

E mais uma vez temos as forças armadas no centro de mais uma confusão envolvendo a tentativa de solapar o Estado Democrático de Direito, já passou do tempo de o governo entender que foram eles, os militares que afundaram o Brasil no caos.

O Brasil tem sim outras urgências, mas se o governo Lula não ter a coragem de enfrentar os militares, viveremos sempre em crise e sempre com as mesmas urgências, o Brasil não vai avançar se mantivermos o velho hábito de virar páginas sem sequer lê-las.

Chegou a hora da verdade e muita gente pode não gostar do que irá ver.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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