Não é a primeira vez que falo (veja aqui e aqui) que o Brasil não tem mais uma oposição organizada que discuta projetos e visões de país, apenas views e likes nas redes sociais. E na ausência de uma oposição organizada, capaz de pautar o governo e ser propositiva, é normal que alguns achem que o Partido dos Trabalhadores está fazendo oposição.
É um partido sólido e robusto, com suas posições e agendas bem definidas. É normal que acabe ganhando destaque nas discussões para pautar o governo.
E inclusive, não há momento melhor balizar o governo do que agora enquanto ele define as fundamentações do seu governo e constrói uma base no Congresso Nacional. Hoje, toda a governabilidade que o governo pode e vai ter será emprestada pelos presidentes do senado e câmara que são políticos pragmáticos, vão onde enxergam mais benefícios para eles próprios e seu grupo político.
Ou seja, Pacheco e Lira as vezes podem até dificultar a vida do governo em um tema ou outro, mas não necessariamente o farão por serem contra o governo, talvez só não enxerguem os benefícios que podem obter com aquela pauta.
E sem precisar se preocupar com a oposição, o PT tem a oportunidade discutir o país praticamente sozinho e fazer cobranças mais incisivas ao governo. O que o governo federal não pode fazer é virar as costas para a sua própria bancada e limitar o diálogo, ou então enfrentará problemas.
Um exemplo disso foi no próprio governo Dilma Rousseff, muitos parlamentares petistas reclamavam constantemente que não eram recebidos ou ouvidos pelo Planalto, o que enfraqueceu ainda mais a sua própria base.
Ainda ali entre 2013 e 2016 havia uma oposição mais propositiva, por isso, a “oposição” do PT acabou agravando ainda mais o cenário, principalmente quando se iniciaram as discussões do problemático ajuste fiscal e o final dessa história todos nós sabemos.
O governo precisa manter o diálogo com a própria base, assim como precisa também conversar com os presidentes das casas legislativas.
Talvez o único sinal de alerta ao governo seja a frequência em que essas discussões estão indo parar na imprensa, um sinal de que o dialogo possa não estar tão fluente assim e que parlamentarem estão precisando usar a imprensa para que sejam ouvidos, embora talvez estejam indo para imprensa justamente por essa “ausência” de oposição.
O governo não precisa atender todas as demandas, os parlamentares sabem que isso não é possível, o que querem é dialogo. Política é assim, se discute 100 para pedir 70 e no fim chegar em 30 e todo mundo fica satisfeito.
Vivemos tempos novos e diferentes de um Brasil pós-bolsonarismo e pós-antipolítica. Tudo é novo e tudo é uma oportunidade.