O PT está aproveitando a falta de oposição

Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Não é a primeira vez que falo (veja aqui e aqui) que o Brasil não tem mais uma oposição organizada que discuta projetos e visões de país, apenas views e likes nas redes sociais. E na ausência de uma oposição organizada, capaz de pautar o governo e ser propositiva, é normal que alguns achem que o Partido dos Trabalhadores está fazendo oposição.

É um partido sólido e robusto, com suas posições e agendas bem definidas. É normal que acabe ganhando destaque nas discussões para pautar o governo.

E inclusive, não há momento melhor balizar o governo do que agora enquanto ele define as fundamentações do seu governo e constrói uma base no Congresso Nacional. Hoje, toda a governabilidade que o governo pode e vai ter será emprestada pelos presidentes do senado e câmara que são políticos pragmáticos, vão onde enxergam mais benefícios para eles próprios e seu grupo político.

Ou seja, Pacheco e Lira as vezes podem até dificultar a vida do governo em um tema ou outro, mas não necessariamente o farão por serem contra o governo, talvez só não enxerguem os benefícios que podem obter com aquela pauta.

E sem precisar se preocupar com a oposição, o PT tem a oportunidade discutir o país praticamente sozinho e fazer cobranças mais incisivas ao governo. O que o governo federal não pode fazer é virar as costas para a sua própria bancada e limitar o diálogo, ou então enfrentará problemas.

Um exemplo disso foi no próprio governo Dilma Rousseff, muitos parlamentares petistas reclamavam constantemente que não eram recebidos ou ouvidos pelo Planalto, o que enfraqueceu ainda mais a sua própria base.

Ainda ali entre 2013 e 2016 havia uma oposição mais propositiva, por isso, a “oposição” do PT acabou agravando ainda mais o cenário, principalmente quando se iniciaram as discussões do problemático ajuste fiscal e o final dessa história todos nós sabemos.

O governo precisa manter o diálogo com a própria base, assim como precisa também conversar com os presidentes das casas legislativas.

Talvez o único sinal de alerta ao governo seja a frequência em que essas discussões estão indo parar na imprensa, um sinal de que o dialogo possa não estar tão fluente assim e que parlamentarem estão precisando usar a imprensa para que sejam ouvidos, embora talvez estejam indo para imprensa justamente por essa “ausência” de oposição.

O governo não precisa atender todas as demandas, os parlamentares sabem que isso não é possível, o que querem é dialogo. Política é assim, se discute 100 para pedir 70 e no fim chegar em 30 e todo mundo fica satisfeito.

Vivemos tempos novos e diferentes de um Brasil pós-bolsonarismo e pós-antipolítica. Tudo é novo e tudo é uma oportunidade.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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