É só geopolítica

Reprodução/TV Brasil

Ao final da sua viagem à China, o presidente Lula deu uma coletiva de imprensa onde disse que é preciso que os Estados Unidos parem de “incentivar” a guerra na Ucrânia. E assim como a fala da ex-presidente Dilma Rousseff sobre o conceito de Sul Global que virou motivo de riso e histeria da turma do fundão, foi mais uma fala que gerou uma gritaria injustificável e desnecessária.

É mais uma vez a praga da despolitização (ou antipolítica) corroendo o bom debate, a troca de ideias e o diálogo.

E por isso tentativas de explicar o debate estão sofrendo acusações de que serem propagandas pró-Putin e justificativas para a injusta e criminosa invasão Russa na Ucrânia. Explicar não é o mesmo que justificar!

A justificativa de que Putin quer desnazificar a Ucrânia é tão sincera quando a alegação dos EUA de que queriam levar democracia para o Afeganistão e Iraque. Esse é o mesmo Putin que faz um governo hostil contra a população LGBTQIA+, se aconselha com Alexandr Dugin, teórico da quarta teoria política (um tipo de fascismo repaginado) e que recorre à mercenários neonazistas do Grupo Wagner (em homenagem ao músico preferido de Hitler: Richard Wagner), mantidos pelo oligarca Yevgeny Prigozhin, amigão do Putin.

Ao mesmo tempo, é fato notório que desde 2014 a Ucrânia virou território livre para o neonazismo, com organizações e batalhões neonazistas organizando operações de recrutamento de brasileiros para suas tropas. Não faltam relatos (massacre de Odessa) e até mesmo agora durante o conflito, latinos, africanos e indianos dizem ser alvos de racismo ao tentarem deixar o país.

E ainda temos os americanos e a OTAN que já invadiram e bombardearam um terço da população mundial, desestabilizaram governos e presentearam o mundo com a Al-Qaeda e depois com o Estado Islâmico.

Na maioria das vezes não existem heróis os vilões na geopolítica, basta ver que o presidente dos EUA, Joe Biden que liderou a mobilização global em prol da democracia brasileira é o mesmo que vê o fim da resolução do conflito na Ucrânia apenas com a derrota absoluta da Rússia, não importando quantas vidas isso custe.

Desde a segunda guerra mundial os EUA invadiram, interviram e/ou bombardearam mais de 71 países ao redor do mundo.

Infelizmente os EUA não possuem condições (e acredito que tampouco interesse) em negociar os termos para o fim da guerra na Ucrânia.

Não foram capazes de acabar nem com as suas próprias guerras com alguma dignidade. No Afeganistão criaram o Bin Laden, a Al-Qaeda e posteriormente entregaram o país (e armas) para o Talibã, o Iraque ficou devastado, na Síria criaram o Estado Islâmico e assim por diante.

Goste-se ou não, a mediação do conflito precisará ser feita por países que não estejam envolvidos com o conflito ou com o financiamento de algum dos lados, a Rússia em seus delírios duginistas desconfia do ocidente, já a Ucrânia se sente, justamente, agredida e teve sua integridade nacional, autodeterminação e orgulho feridos pela invasão da Rússia.

E infelizmente a fama que os EUA possuem perante o mundo inteiro é de incentivadores de guerras, promotores de massacres e crimes de guerra dos mais diversos também é histórica a oposição dos americanos contra a Rússia, logo, o envolvimento direto dos americanos apenas aumenta a fervura do conflito.

E mais, Lula ainda vive o sonho de colocar o Brasil como membro permanente do conselho de segurança da ONU e se colocar como mediador do conflito é um dos caminhos para esse objetivo para isso, Lula precisa escantear os EUA e se impor no cenário global.

Não tem nada de alarmante e grave na declaração, é só geopolítica.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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