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Ciro rompe silêncio de seis meses

Ciro voltou. Após seis meses recluso, em silêncio, tendo passado boa parte do tempo em Boston, o ex-candidato a presidência da República participou, neste sábado, da convenção municipal do PDT em Fortaleza. Curiosamente, nem o PDT, nem nenhum militante da “turma boa”, teve a iniciativa de fazer um registro decente do discurso de Ciro Gomes. […]

3 comentários
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Capa do site do jornal Diário do Nordeste, dia 15 de abril de 2023. A foto é de Fabiane de Paula.

Ciro voltou.

Após seis meses recluso, em silêncio, tendo passado boa parte do tempo em Boston, o ex-candidato a presidência da República participou, neste sábado, da convenção municipal do PDT em Fortaleza.

Curiosamente, nem o PDT, nem nenhum militante da “turma boa”, teve a iniciativa de fazer um registro decente do discurso de Ciro Gomes.

A participação de Ciro havia sido anunciada na véspera. Não foi, portanto, uma surpresa.

Essa absoluta despreocupação do PDT em registrar a primeira fala de Ciro após tanto tempo em silêncio, não me parece um bom sinal.

Roberto Claudio não registrou nada em suas redes. Tampouco Sarto. Todo esse bloqueio de silêncio erguido em torno da primeira aparição pública de Ciro após seis meses de reclusão, reforça as suspeitas de que há um mal estar no PDT com a postura adotada por Ciro desde a campanha.

A conta Todos com Ciro conseguiu um registro informal, de 9,59 minutos, mas de péssima qualidade de imagem e som.

O próprio Ciro Gomes também não se preocupou em divulgar a fala em suas contas sociais, que continuam sendo usadas apenas para registrar óbitos e feriados religiosos.

A reunião no PDT também não contou com a presença do senador Cid Gomes, irmão de Ciro, nem de Evandro Leitão, deputado estadual do PDT e presidente da Assembléia Legislativa do Ceará.

E o que disse Ciro Gomes?

Qual o recado ao povo brasileiro após seis meses de silêncio?

Ciro iniciou seu discurso com elogios inflamados ao trabalho de Carlos Lupi à frente do ministério da Previdência Social.

Em seguida, elogiu a administração do prefeito de Fortaleza, José Sarto, e fez uma longa defesa da “taxa de lixo”, uma decisão do prefeito tomada ao final do ano passado, que provocou muitas críticas, inclusive dentro do próprio partido. Alguns vereadores do PDT de Fortaleza, Julio Brizzi e Ana Paula, romperam com a base do governo por divergências sobre essa taxa.

O ex-ministro foi duro contra quem não apoiou a implementação da taxa do lixo, falando em demagogia.

Por fim, Ciro Gomes disse que Roberto Claudio, ex-prefeito de Fortaleza, é “o maior quadro político do Brasil dos últimos vinte anos”.

Vou deixar os registros da fala de Ciro, e prossigo comentando mais abaixo.

Aqui o registro encontrado pelo Todos com Ciro:

E aqui um outro registro, de melhor qualidade, porém mais curto, de um repórter do jornal O Povo.

***

A presença de Ciro Gomes ganhou destaque na mídia cearense. Os dois principais jornais do estado, Diário do Nordeste e O Povo deram a notícia na capa dos jornais.

Opinião: Ciro Gomes tem um timing diferenciado para a política.

Sem querer entrar no mérito da taxa, imagino que os eleitores queriam ouvir Ciro falando de valores, projetos, sonhos, pautas positivas, ou propositivas. Que desse sua opinião sobre os cem dias de Lula na presidência, e de Elmano de Freitas no governo do Ceará. O PDT cearense, dividido, precisa de orientação e liderança. Há notícias de que diversos quadros do PDT, sobretudo aqueles mais ligados a Roberto Claudio e Ciro Gomes, estariam de malas prontas para ingressar no PSDB.

Ao se rebaixar a um discurso estritamente local, Ciro Gomes se apequenou.

E dar tanta centralidade à taxa de lixo, como se isso fosse uma medida revolucionária, não deve ter ajudado Sarto a recuperar sua popularidade.

Tenho minhas dúvidas, igualmente, se essa narrativa de “perseguido” seja benéfica para Sarto. A população precisa de lideranças dispostas a enfrentar as adversidades sem apelar para o vitimismo.

Ciro fez questão de dizer que será um cabo eleitoral de Sarto em 2024, nomeando cada bairro que percorrerá para fazer campanha de reeleição de seu correligionário. Essa também não é uma afirmação que ajude muito a Sarto, porque o seu maior desafio, para se reeleger, será construir um amplo de leque de alianças do centro à esquerda. Com a direita ocupada pelo capitão Wagner e a esquerda tomada pelo PT, Sarto terá muita dificuldade para ampliar, e a presença agressiva de Ciro pode levar ao mesmo tipo de desastre que  foi a campanha do próprio Ciro. A única saida para Sarto seria uma recomposição com o PT, hipótese hoje muito remota, ou pelo menos uma reaproximação com setores menos partidários da esquerda cearense, o que também parece cada vez mais difícil.

A propósito, a convenção do PDT realizada neste sábado tinha como um de seus propósitos chegar a um entendimento sobre se o partido deveria compor oficialmente base do governo Elmano de Freitas ou não. O grupo de Roberto Claudio, que é a ala mais cirista do PDT, não quer ser base de Elmano. Esse grupo é uma minoria, contudo. Dos 13 deputados estaduais do PDT, 10 apoiam firmemente o governo Elmano, incluindo o presidente da Assembleia. Os prefeitos do PDT todos apoiam Elmano. O grupo de Roberto Claudio está cada vez mais isolado, mas ainda tem força em virtude de seu peso na prefeitura de Fortaleza. Segundo André Figueiredo, presidente nacional do PDT, não se chegou a nenhuma decisão consensual sobre o apoio a Elmano, de maneira que o partido meio que “liberou geral”.

A presença de Ciro Gomes na convenção nacional deixou claro que o ex-ministro é o chefe político do grupo de Roberto Claudio. É Ciro que tenta evitar, em todas as esferas, que o PDT reestabeleça parcerias com o PT.

Antes de defender tão ardorosamente o prefeito de Fortaleza, porém, seria interessante que Ciro assistisse a entrevista que Sarto deu, dias atrás, na qual ele lança algumas indiretas que possivelmente tenham sido destinadas ao próprio Ciro.

Quando é perguntado sobre a ruptura entre PT e PDT, Sarto qualifica o que aconteceu de um “fracasso absoluto da diplomacia política”. E diz que ficou “muito decepcionado” com todos, citando Camilo, Cid, Ciro e Roberto Cláudio.

Um bom entendedor, porém, identifica ali uma crítica sobretudo a Ciro Gomes.

Camilo jamais cometeu nenhuma violência “diplomática” contra ninguém do PDT, ao passo que Ciro Gomes passou toda a campanha agredindo violentamente o PT, que ele chamava de “organização criminosa”. Ciro também xingava Lula de “maior corrupto da história brasileira”. E passou a fazer ataques pesados à honra de Camilo Santana. Um dos assessores mais próximos de Ciro costumava xingar Camilo de “traidor miserável”.

Ciro terminou seus últimos dias de campanha atacando seus próprios irmãos, com indiretas sobre “facada nas costas”, levando a militância da “turma boa” a xingar Cid Gomes de “traidor”.

Se houve “fracasso absoluto da diplomacia política”, é fácil saber quem foram os culpados.

O prefeito também deu indiretas filosóficas: “a gente pensa que aprende na vida, muitas vezes o que a gente faz é desaprender.  Ao invés de nos tornar maduros, nos tornam imaturos, como pequenas crianças que ficam ali em torno de um brinquedo. Espero que o conselheiro tempo nos dê bons conselhos, inclusive para mim”.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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carlos

16/04/2023 - 12h18

O Timaia uma vez ao Jó Soares e disse que no Brasil as coisas aconteciam tudo de forma intuitiva porque cultura mesmo ninguém, tem tem um pessoal aí se achando superior, mas é tudo na base do improviso.

carlos

16/04/2023 - 12h12

O Ciro é um grande candidato inteligente, mas enfrenta resistência, do povo que se acha super raça do sul, estou falando de uns tais juízes que resolveram aparecer do nada e inauguraram um circo, prá fazerem a palhaçada, que fizeram em relação ao povo brasileiro, taxando-os de sub-raça.

João Ferreira Bastos

15/04/2023 - 17h49

Então não foi convenção

Foi velório


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