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Serra defende arcabouço de Haddad e juros menores

Não há dúvidas de que o avanço possível com o novo arcabouço fiscal anunciado é substantivo Por José Serra Estadão — Desde o segundo governo Lula, o País vive um clima de desconfiança em relação aos indicadores fiscais, seja pela capitalização da Petrobras, seja pela contabilidade criativa. De fato, a insegurança sobre a mensuração da […]

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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Não há dúvidas de que o avanço possível com o novo arcabouço fiscal anunciado é substantivo

Por José Serra

Estadão — Desde o segundo governo Lula, o País vive um clima de desconfiança em relação aos indicadores fiscais, seja pela capitalização da Petrobras, seja pela contabilidade criativa. De fato, a insegurança sobre a mensuração da situação fiscal e os conceitos de dívida pública foi marca desse período.

Só a falta de credibilidade pode explicar a emergência da Emenda do Teto de Gastos num país que já dispunha do sólido arcabouço de Planejamento e Orçamento, posto pela Constituição de 1988 – à época, mediante emenda de minha autoria como deputado constituinte –, e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

O teto de gastos foi um erro macroeconômico, afinal, qualquer expansão da atividade geraria a retenção da receita pública adicional, com efeito contracionista sobre a demanda da economia, limitando a dinâmica de crescimento. Não bastasse isso, as sucessivas emendas constitucionais para validar as despesas extraordinárias transformaram o teto num piso de referência. Pior, a Emenda do Teto de Gastos desconstruiu políticas públicas, gerando retrocessos onde estavam se consolidando políticas de Estado.

O piso de gastos com a saúde, estabelecido a partir da Emenda 29, e as vinculações para a educação foram submetidos ao teto, gerando imensas perdas para a população assistida por essas políticas. Ademais, o irrealismo deste regime fiscal ante o crescimento dos benefícios previdenciários produziu a aniquilação do investimento público e significativa desorganização de segmentos críticos do aparelho de Estado. Hoje, no entanto, está afastado o equívoco macroeconômico da Emenda do Teto, recolocando a conexão entre receitas e despesas na definição da política fiscal. No novo arcabouço anunciado pela equipe econômica, as despesas podem crescer no próximo Orçamento, no máximo, 70% da expansão das receitas já realizadas no ano de tramitação da proposta de Lei Orçamentária.

O Executivo federal pretende criar um mecanismo anticíclico na calibragem da relação entre a despesa e a receita. Seriam dois condicionantes: 1) o limite de ampliação da despesa de 2,5%, combinado com 2) o piso de crescimento do gasto de 0,6%. A depender do resultado primário registrado no ano, a despesa pode crescer menos ou mais em relação à variação da receita.

A nova regra fiscal proposta segue o padrão que subsistiu por todo o período posterior à crise da dívida externa de 1982/1983 e, mais adiante, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso: compromisso é com superávit primário de 0,5% e 1,0% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2025 e 2026, respectivamente, depois do equilíbrio de 2024. Vale notar que a proposta institui um sistema de bandas de 0,25% acima e abaixo do centro da meta anual.

Ainda há pouca informação sobre aspectos como regras de gastos por Poderes e órgãos, mas há uma tendência de que os gastos com saúde e educação recuperem o valor que foi reduzido quando da vigência do teto de gastos. Piso de enfermagem e Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) já têm previsão constitucional de não contabilização nos limites de crescimento do gasto. O investimento público teria o piso, com base no previsto pelo Orçamento de 2023, de R$ 71 bilhões. Ao mesmo tempo, poderiam ser utilizados os recursos de superávit primário excedente em relação à banda superior, limitado a um determinado porcentual.

As críticas indicam a necessidade de elevar a carga tributária para garantir metas de resultado primário mesmo com as despesas decorrentes das políticas sociais prometidas por Lula. Creio que esses reparos não levam em conta o peso do Congresso Nacional na definição da carga tributária e o fato de que há espaço para ajustes razoáveis na administração dos tributos, como o Imposto de Renda antecipado de fundos de investimento exclusivos, que está consignado no Projeto de Lei do Senado Federal 336/2018.

Não há dúvidas de que o avanço possível com o novo arcabouço fiscal anunciado é substantivo. Podemos fazer previsões de despesas que dialogam com a macroeconomia e as receitas públicas. Ao mesmo tempo, há mecanismos, como as bandas relativas ao resultado primário, razoavelmente flexíveis para estancar a pilhéria das sucessivas emendas para aprovação de gastos superiores ao falecido teto. De fato, podemos encerrar este triste capítulo da gestão fiscal brasileira.

Há que notar que o novo arcabouço fiscal proposto se utiliza do ferramental que o mercado conhece, qual seja, o resultado primário. E propõe uma política fiscal que vai do equilíbrio, em 2024, ao superávit de 0,75% a 1,25% do PIB, em 2026. Assim, o horizonte fiscal do País está desenhado.

Na expectativa de uma convergência entre as políticas fiscal e monetária, cabe ao Banco Central promover os ajustes na taxa de juros condizentes com a nova realidade, assim que ela se concretizar na aprovação da legislação e nas expectativas do mercado. E a melhor parte disso: poderemos escapar do bate-boca institucional sobre a taxa de juros, o que só tem nos levado a mais incertezas econômicas.

Artigo publicado originalmente no Estadão.

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EdsonLuíz.

14/04/2023 - 18h23

Vá comprar um míssil no mercado clandestino da Turquia, Alexandre Neres. Batize o seu míssil de BRASIL171, vista uma farda do exército vermelho e destrua uma creche ou uma maternidade da Ucrânia em homenagem a Vladimir Putin, Lula e Xi Jiping.

Mas vá para a Criméia com um livro de Herman Hesse, para ver se aprende alguma coisa boa sobre o ser humano e consegue melhorar isso no que o ideologismo barato transformou você.

Alexandre Neres

14/04/2023 - 11h37

Senhor Edson, há pouco tempo o senhor disse que a “política brasileira é uma merda”. Por ser udenista e sobretudo lavajatista, só posso concluir que seja da trupe da antipolítica.

A profissão do Roberto Freire é ser presidente perpétuo de partido. Ponto. Daí surge a renda para que possa se manter com sobras.

O senhor enrolou, enrolou, enrolou, como de costume, mas nada respondeu. O que acha do partido com o qual tem vínculo afetivo, qual seja, o Cidadania, estar compondo o blocão do Lira, juntamente com PSDB, PDT e PSB. Sob pena de os partidos desaparecerem, estão se agarrando a Lira como a última tábua de salvação, se aliando ao maior canastrão que existe atualmente na política brasileira. A jornalista Maria Cristina Fernandes comentou hoje no Valor Econômico que os líderes do PSB e do PDT, Felipe Carreras (PSB/PE) e André Figueiredo (PDT/CE), são mais próximos de Lira do que dos presidentes dos seus respectivos partidos.

Pare de tergiversar, de se esquivar, de escapulir como um coelho. Pega mal! Responda ao que lhe foi indagado. Obrigado.

EdsonLuíz.

14/04/2023 - 10h31

Este petista maluco, o Alexandre Neres pirou de vez? Parece que pirou!

Qual é a minha “antipolítica”, como alegada por você, maluquete petista?
▪Se “minha” antipolítica for combater Lula, Bolsonaro’s, Artur Lyra, populistas de qualquer sabor, corruptos de qualquer sabor…. Então eu me orgulho da “minha antipolítica”!

O Brasil precisa se qualificar politicamente e partidariamente. O exercício da política aqui está muito deprimente! Aonde chegaremos com Lula, Bolsonaro, Renan, Lyra, ….???

Antipolítica seria mais a destruição da democracia, o aparelhamento do Estado, a fragmentação das forças políticas, a corrupção de partidos e políticos, a instrumentalização das organizações sociais, a desrespeitosa e abusada captura de escolas e suas salas de aula de todos os níveis para transformar em extensão ideológica de apoiadores de ditadores e populistas…. a lista de práticas antipolíticas vai longe. E são todas elas PRÁTICAS DE… PETISTAS!

Qual é o meu partido, maluco?
▪Meu partido hoje é…NENHUM!
Mas você deve estar se referindo a uma antiguíssima ligação minha com a vertente eurocomunista que existia no “partidão”.

Aquele PCB hoje não existe e o PCB atual é um pequeníssimo aparelho stalinista no Brasil……..

… (como você, jagunço petista, é uma figura insana –como muitos fanáticos e despreparados como você costumam ser — e você distorce, lê errado, altera fatos, vou ter que observar que, quando falo que o PCB atual é um aparelho stalinista, não estou dizendo que enquanto instituição política o atual PCB não seja legítimo ; o PCB e qualquer fração ideológica (QUALQUER!) será legítimo enquanto se conduzir dentro das regras democráticas e não ameaça-la, mesmo não sendo ele um partido que defenda democracia como estratégia política).

Viu, Alexandre Neres, quando alguém afirmar “x”, ainda mais em ciências sociais, que é sempre um pântano e se mexe para todos os lados e com grande grau de subjetividades, não destorça com seu cérebro político doentinho e comece a dizer que a pessoa disse “y”, que a pessoa é “w”… como você costuma fazer!

Mas, voltando, aquele PCB não existe mais e a vertente eurocomunista está, em parte, aglutinada em um partido interessantíssimo e liderado por um dos mais bem preparados e sérios políticos brasileiros de qualquer tempo, embora tenha contradições, como quase tudo tem :: Roberto Freire e o seu Partido Cidadania.

Mas, não! Eu não tenho ligação com nenhum partido político. E mais este seu abuso de dizer que eu sou antipolítico, qualquer pessoa de caráter, honesta, séria, como você não é capaz de ser, sabe que eu tenho tanto apreço por política que::
í) Combato ditadores e populistas;
ii) Defendo autonomia para os movimentos sociais;
iii) Defendo a legitimidade da ação política, — desde que atuem dentro do respeito institucional à democracia— de vertentes ideológicas que até mesmo não sejam democráticas, mesmo as fundamentalistas de ultra-direita e de ultra-esquerda;
iv) E por aí eu vou.

E você, Alexandre Neres? Você é um rastaquerazinho defensor de corruptos e de ditadores! E sem sequer ter vergonha na cara!

edsonmaverick@yahoo.com.br

Alexandre Neres

14/04/2023 - 01h07

Senhor Edson Luiz, sei que surfa na onda da antipolitica. Para quem acompanha a política amiúde, sabe que Lira é infelizmente uma personagem incontornável ns quadra atual e que todo governo terá que lidar com ele e sua tática de criar dificuldades para vender facilidades. Até aí tudo bem.

Outra coisa bem diferente é o que o seu partideco aprontou, que tem um presidente perpétuo cuja profissão é ser dono de partido, de entrar para o blocão do Lira.

Gostaria que o senhor explicasse a safadeza do arremedo de partido Cidadania ao compor o blocão do Lira por sponte propria. Antecipadamente grato.

EdsonLuíz.

13/04/2023 - 21h50

Destaquei uma fração do artigo de José Serra:: o último parágrafo, mais exatamente. E seccionei, separando o que outros “leem”… MAS NÃO LEEM…, para destacar depois mais uma fração,menor, do mesmo parágrafo::

Talvez assim aprendam a ler mais corretamente o que escrevem o Stiglitz, o Serra e tantos outros. E talvez também consigam verificar que muitas vezes chamamos outros de “apedeuta” e, no entanto, os ignorantes podemos estar sendo nós!

Agora, pode até repetir a leitura do parágrafo inteiro::

Zé Serra escreve::
▪”Na expectativa de uma convergência entre as políticas fiscal e monetária,…………… /cabe ao Banco Central promover os ajustes na taxa de juros condizentes com a nova realidade, assim que ela se concretizar na aprovação da legislação e nas expectativas do mercado./…………..E a melhor parte disso: poderemos escapar do bate-boca institucional sobre a taxa de juros, o que só tem nos levado a mais incertezas econômicas.”

Vou destacar mais ainda, em fração menor::
▪Serra escreve::
“…cabe ao Banco Central promover os ajustes nas taxas de juros condizentes com a nova realidade, ASSIM QUE ELA SE CONCRETIZAR NA APROVAÇÃO DA LEGISLAÇÃO …e prossegue escrevendo assim::… E NAS EXPECTATIVAS DO MERCADO…”

Veja algumas condições que Serra coloca, que são as que qualquer profissional de economia coloca e nem pode ser diferente. O resto, é grito bobão de APEDEUTA.

Condição 1 do Serra::
▪”ASSIM QUE ELA SE CONCRETIZAR NA APROVAÇÃO DA LEGISLAÇÃO”
(e não antes); e

Condição 2 do Serra, e mais importante::
▪”…E NAS EXPECTATIVAS DO MERCADO…”

Veja:: Zé Serra escreve que para Roberto Campos mexer na taxa de juros, deverá esperar primeiro que::
1) O arcabouço seja aprovado;
2) o arcabouço se concretize na expectativa do mercado.

-A CONCRETIZAÇÃO da aprovação deve ser maio.
-A CONCRETIZAÇÃO da expectativa do mercado sobre os efeitos do arcabouço deve ser em setembro ou outubro.

Até lá, cabe esperar.
É ISTO o que Zé Serra escreveu!

Eu, pessoalmente, até penso que o comportamento da taxa de juros nos Estados Unidos e o da inflação aqui até pode adiantar uma baixa inicial de 0,25% na Selic antes de serem medidos os efeitos da Nova Política Fiscal.

Mas tudo neste caso é “se”. E não é com grito que resolve, mas com técnica, informação e paciência!

Tony

13/04/2023 - 20h03

Tutancâmon também…kkkkkkkkkkkk

Alexandre Neres

13/04/2023 - 16h09

Até tu, Brutus? Agora o lambe-botas do Roberto Freire vem junto…

Lula venceu com folga o debate dos juros, deixando seus adversários isolados e atônitos.

Tem um apedeuta aqui no Portal que não se cansa de exercer seu jus sperniandi.

O choro é livre!


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