Sob a ameaça do anonimato

Fonte: Divulgação/Exército Brasileiro

No dia em que prestou depoimento na Polícia Federal, o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, do CMP (Comando Militar do Planalto), teve a sua saída do posto oficializada pelo presidente Lula.

Dois dias antes, na madrugada do dia 10, saiu mais uma (de tantas) ameaça de generais sob anonimato, fazendo uma série de exigências. Digno de um vídeo da Al Qaeda. A matéria em questão teve o título com o nome “Depois de enquadrar Exército, Lula busca reconstruir pontos com militares” e embora Lula seja o destaque no título, o foco do texto foi um grupo de generais das forças armadas, o mesmo grupo que publica ameaças sob anonimato da imprensa, no mínimo, nos últimos 10 anos.

Um dos militares escutados na matéria disse que existem pedras no caminho para a conciliação entre os militares e o comandante-em-chefe, o presidente da República,o que por si só já é inacreditável e é uma ameaça velada. Segundo o texto, uma dessas pedras no caminho seria os processos em curso contra militares suspeitos de participação no 8 de janeiro.

10 horas depois, saiu na imprensa uma matéria falando sobre a intimação do general Gustavo Dutra e mais 88 militares.

Já na manhã do depoimento que estava marcado para esta quarta-feira (12), outra nota na imprensa: agora detalhando qual seria a linha de argumentação do general Dutra para o depoimento, nela o general alegaria que impediu a remoção dos criminosos no QG do Exército em Brasília pois, segundo ele, iria morrer gente.

Ficam as questões: se a preocupação era com segurança da operação, por qual motivo os militares estavam virados para a PM e não vigiando os criminosos, conforme diversos relatos de policiais militares e bolsonaristas alegavam na ocasião? Por qual motivo não faltam relatos de que militares estavam orientando a fuga dos acampados? E, por último, por qual motivo temos a discussão entre Flávio Dino e Júlio César?

Vale ressaltar mais uma vez que a matéria saiu antes dos depoimentos dos militares para a PF. Logo, Dutra ainda havia falado com a PF!

O que “vazou” é o que ele ainda iria falar! E quem saberia o que general ainda iria falar?

Se não bastasse a flagrante ação política de mobilização da opinião pública, ainda há a absurda intenção de colocar as forças armadas como moderadoras do 8 de janeiro.

Em março, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou que a Corte deveria julgar os militares envolvidos nos atos extremistas, o MPM (Ministério Público Militar) encaminhou à PGR (Procuradoria Geral da República) as investigações contra os oficiais e aí que vai o mais interessante: antes do envio das investigações à PGR, o general Dutra já era investigado em um inquérito do MPM.

No final do mês a Câmara Legislativa do Distrito Federal irá ouvir militares na CPI dos atos antidemocráticos, entre eles, estará o General Dutra. Seguem as datas:

27/04 – Coronel Cíntia, da PMDF;
04/05 – General Augusto Heleno;
11/05 – Coronel Fábio Vieira, da PMDF;
18/05 – General Gustavo Dutra de Menezes, ex-comandante do Planalto.

As notas podem estar só começando e podem estar piorando. Vamos ver até onde a República irá suportar isso.

Até quando a República ficará refém de notas e infinitas notas, declarações e ameaças anônimas feitas pelos generais? Quando essas coisas serão apuradas e os militares envolvidos serão responsabilizados?

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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