Por Elias Jabbour
Uma verdadeira tempestade de contrainformações tem sido acionada no mundo no sentido de espalhar mentiras sobre o comportamento e as pretensões chinesas no mundo. Nenhuma boa notícia sobre a China é anunciada no Ocidente.
A guerra de informações contra o país é intensa, intermitente e busca passar a pior imagem possível da China no mundo. Por exemplo, nenhuma notícia sobre a eliminação da pobreza extrema na China foi exposta pela grande mídia ocidental. A China é vista como um país perigoso e uma ameaça à ordem mundial. É como se a China fosse a responsável por cercar os Estados Unidos com cerca de 80 bases militares e não o contrário. A China sofre da lógica nazista de propaganda: transformar em verdade uma mentira contada mil vezes.
Da mesma forma que se vende a imagem dos Estados Unidos como os “defensores da liberdade”, poucos sabem do caos social vivido neste país: atualmente as ruas de Nova Iorque estão repletas de pessoas sem casa, o racismo é parte do horizonte do país e a violência é a linguagem usada pelo Estado para reprimir qualquer movimento de contestação de um país onde a “democracia” é controlada por meia dúzia de bilionários.
Uma grande mentira transformada em verdade envolve a “luta” de Taiwan por sua “independência” e o apoio dos Estados Unidos a esta “nobre” causa inclusive com apoio militar, conforme apontado pelo presidente Biden recentemente no programa 60 minutes.
Ele negou dois fatos. Primeiro, Taiwan é parte da China há séculos e qualquer tentativa separatista não correspondente nem à verdade, nem tampouco à justiça histórica. O segundo, os Estados Unidos respeitaram oficialmente desde o Comunicado de Shanghai (1972) e a retomada das relações diplomáticas entre os dois países (1979) que existe uma única China e Beijing é sua capital.
Na verdade, os Estados Unidos – mesmo em momentos de paz com a China – nunca esconderam um certo desejo de vingança contra a China. A fundação da República Popular da China mudou completamente a correlação de forças no mundo e na Ásia em particular. Foi uma dura derrota para os Estados Unidos.
E desde o momento em que Taiwan tornou-se o refúgio dos derrotados do Kuomintang em 1949, o imperialismo usa aquele território como uma base de provocação aberta à China na mesma proporção em que sua presença nos arredores da China só aumenta: como disse no início do texto, são cerca de 80 bases militares cercando a China, e a utilização tanto do Estreito de Taiwan quanto do Mar do Sul da China como locais de provocação é óbvia.
Imaginem o escândalo internacional se a China decidisse implantar dezenas de bases militares ao redor dos Estados Unidos, seus porta-aviões fossem vistos nas águas do golfo do México e o governo chinês decidisse enviar apoio militar para Porto Rico, um Estado associado dos Estados Unidos?
As provocações têm aumentado ultimamente, desde a declaração da “guerra comercial e tecnológica” contra a China. Taiwan é um dos maiores fornecedores de chips de última geração ao continente. As tecnologias que servem de base à construção dos semicondutores são a última barreira para a China alcançar sua independência tecnológica, fazendo com que pela primeira vez desde a Revolução Russa o socialismo tome a dianteira do progresso tecnológico no mundo.
Os Estados Unidos tentam impedir isso de todas as formas. Desde a guerra aberta de propaganda, visita de altas lideranças do país à ilha, não cumprimento de acordos com a República Popular da China sobre o reconhecimento de Taiwan como parte do território chinês.
A violação maior à soberania nacional chinesa e as provocações abertas à China têm sido o expediente da venda de armas à região de Taiwan. Informações simples que podem ser obtidas no site Wikipédia (https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_US_arms_sales_to_Taiwan#cite_note-73) demonstrando que somente durante o governo Biden já foram repassados para Taiwan cerca de US$ 3,5 bilhões em armas.
Essa política não foi inaugurada por Biden, mas tem sido potencializada por seu governo. Um governo que não consegue enfrentar as imensas contradições de uma sociedade em franca decadência, mas que busca exportar a forma como o país mais racista do mundo trata, por exemplo, os negros e os latinos: na base da violência.
Taiwan é um grande exemplo da escalada desestabilizadora exercida pelos Estados Unidos no mundo. O Estreito de Taiwan tem se tornado um dos lugares mais perigosos do mundo. Uma pergunta que devemos fazer: por que a China não tem nenhuma base militar próxima dos Estados Unidos, muito menos sua marinha chega próxima às águas territoriais dos EUA?
Qual a necessidade do imperialismo estadunidense em cercar a China e armar Taiwan? Quem quer a paz e quem quer a guerra? A resposta a essas questões abrirá um horizonte para entender as razões pelas quais o mundo hoje tem nos Estados Unidos o seu maior elemento de desestabilização.
Elias Jabbour é professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Vencedor do Special Book Award of China 2022. Artigo produzido em colaboração com o Grupo de Mídia da China.