“Achei uma expressão impressionante da arrogância do BC de extrapolar sua competência, suas atribuições jurídicas”, disse o economista, sobre a ata do Copom que manteve juros abusivos de 13,75%
Publicado em 30/03/2023 – 18h53
Por Redação PT
PT — A última ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, divulgada na terça-feira (28), elevou o tom beligerante adotado pelo presidente Roberto Campos Neto sobre os juros básicos, mantidos em 13,75% e confirmando a agenda em curso de sabotagem ao crescimento do Brasil. As reações ao descolamento da realidade impresso no comunicado do banco, no entanto, soaram alto no país. Uma delas veio do economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real.
Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, da GloboNews, na quarta-feira (29), Lara Resende não apenas considerou a medida do BC completamente equivocada, como nociva ao desenvolvimento do país. E mais: Campos Neto foi intoxicado por delírios de grandeza, ao interferir nas atribuições do Executivo e do Legislativo, extrapolando as atribuições legais da instituição.
“Achei uma expressão impressionante da arrogância do BC de extrapolar sua competência, suas atribuições jurídicas”, disse o banqueiro, sobre a ata do Copom emitida por Campos Neto. Em seguida, Lara Resende lembrou as reais atribuições do BC: “Por lei, autonomia operacional para garantir a estabilidade de preço e sustentabilidade do sistema financeiro e o pleno emprego”, pontuou.
“Mas o BC não tem o que dizer sobre questão fiscal, não é atribuição do Banco Central. O BC está se arvorando com uma equipe de jovens tecnocratas que acreditam piamente nos modelinhos equivocados que eles estão olhando e se acham no direito de passar pito no Congresso, o presidente eleito e o Judiciário”, lamentou o economista.
Em seguida, sentenciou: “O BC, com a autonomia que lhe foi concedida, passou a se considerar um quarto poder. É um quarto poder que dá lições de moral e se considera acima dos demais poderes. É muito preocupante”, advertiu o economista.
Sobre a política monetária, Resende apontou onde o Banco Central erra ao determinar a taxa de juros, justificada no patamar atual por um suposto temor inflacionário: “A inflação certamente não é de demanda no Brasil”, afirmou Resende.
Taxa de juros espreme economia
“É inequívoco que taxa de juros alta comprime, espreme a economia, provocando desemprego e recessão, mas isso não significa necessariamente capacidade de reduzir a inflação”, esclareceu o economista. “Muito pelo contrário, pode, inclusive se a inflação for de oferta, você pode agravar o problema de insuficiência de oferta e agravar a inflação”, alertou.
Resende encerrou o debate inflacionário ao declarar: “A taxa de juros [do Brasil] é uma excrescência no mundo, é a mais alta do mundo, a taxa real é o dobro da segunda mais alta, que é a do México e do Chile, e não faz o menor sentido, é completamente estapafúrdia.
O economista condenou a visão hegemônica de economia no Brasil, segundo a qual a austeridade fiscal deve imperar sobre todos os aspectos macroeconômicos de um país. “Essa visão é dominante entre os economistas do mercado financeiro. Quem aparece na grande mídia são 99% os economistas que trabalham no mercado financeiro”, apontou. ‘
“A grande mídia está completamente dominada por essa percepção, essa visão de mundo”, fulminou. “É mercadismo. E nem o FMI acredita mais nisso. O Banco Mundial não acredita. Não é mais a visão hegemônica que foi até a crise de 2008”.
Paulo
31/03/2023 - 21h39
Não sei até que ponto o presidente do BC acredita piamente no que diz, ou se ainda se vê como garante não da economia, propriamente, mas da política. É o mesmo que acontece com os acionistas majoritários da Petrobrás: deram poder pra essa gente, e, sem serem sufragados nas urnas ou ungidos ao coração do Estado brasileiro por concurso público, acham-se no direito de falarem grosso e impor suas diretrizes e interesses mais venais e obscuros sobre a economia e o patrimônio público do país…
Alexandre Neres
31/03/2023 - 21h27
Esta matéria é dedicada ao nosso querido Homer Simpson.
Uz mercaduz e suas caixas de ressonância.
A imprensa dita profissional cujo modo de agir parece o de uma torcida de futebol, quiçá organizada.
EdsonLuíz.
31/03/2023 - 21h11
Lara Rezende estava ali, no grupo de trabalho de transição. Eis, então, que Lara Rezende NÃO foi convidado para assumir o Ministério da Fazenda (S erá por quê?)
Pérsio Arida, amigo pessoal de Lara Rezende e com ele não cocordante em política monetária, até onde eu sei, também estava no grupo de transição. ▪Pérsio Arida, um gênio da economia –ex-marido da também gênia da economia Helena Landau, aquela que comandou o programa de desestatização do governo Fernando Henrique, comandou a formulação do programa de governo da candidata à presidência Simone Tebet e lidera o grupo liberal “Livres”– percebendo que o Lula que assumiria neste quinto mandato não seria o Lula1, o Lula do primeiro mandato de 2003/2006, que seguiu todas as orientações liberais que vinham desde Fernando Henrique e que fechou aquele ciclo em 2006, mas viria seria um Lula muito mais parecido com o populista dos mandatos seguintes, foi se afastando do grupo de transição deste quinto mandato de Lula.
Lara Resende permaneceu no grupo de transição e alimentou identidades com as visões econômicas do PT, com as quais Fernando Haddad não se identifica tanto (ou não se identifica quase nada; cedendo muito, no entanto, por conhecer o gado e os vaqueiros do PT).
Lara nutria a esperança de ser indicado Ministro da Fazenda. Não foi indicado! Lara Rezende seria muito mais parecido com o PT do que Haddad e a sociedade que organiza a produção (empresários bilionários e rentistas incluídos, porque são parte importante nesse arranjo) confiaria mais em Haddad que em Lara Rezende.
Indicado Haddad para ministro da fazenda, Lara Rezende foi indicado para o Ministério do Planejamento.
Agora foi Lara Rezende que não aceitou!
Por quê? Por que para Lara Rezende só serviria ser Ministro da Fazenda?
No Planejamento Lara Rezende poderia planejar e decidir a alocação dos gastos no Orçamento. No Planejamento Lara Rezende poderia implantar controles e políticas de qualidade de gasto, qualidade de que ele tanto fala: é a diferença que ele fala em relação ao gasto dos outros. E claro que tem razão quando fala em os gastos terem qualidade!
Se assumisse o Ministério do Planejamento, para o qual foi convidado, Lara Rezende daria a contribuição que mais ilustra as políticas que ele defende. Mas ele se negou a contribuir com o Brasil no posto do planejamento.
Por quê? Arrogância?
Por que Lara Rezende não aceitou ir para o Planejamento fazer os gastos que ele fala que o Brasil precisa e com a qualidade que ele diz que precisa ter os gastos?