Infelizmente a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que se buscava instalar no senado federal para apurar as responsabilidades e crimes no 8 de janeiro acabou virando água e embora eu geralmente subestime a capacidade de articulação dos nossos pitorescos políticos de extrema direita, nessa eles conseguiram.
Tudo começou com senadores como Marcos do Val (PODEMOS-ES) apresentando alegações das mais estapafúrdias para culpar o governo pela destruição provocada por manifestantes que almejavam derrubar o governo (?), na ocasião todos ficaram sem entender as 5 versões diferentes do senador para uma mesma história ou suas declarações alucinadas e efusivas de que teria documentos sigilosos sobre o tema.
O senador chegou ao ridículo de exibir um simples calendário da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) como se fosse um documento sigiloso e depois disso sumiu.
Agora tudo começou a fazer sentido.
Enquanto isso, se desenrolava e viabilizava a CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e que provavelmente atingiu um dos seus pontos máximos na ultima quinta-feira (16) com o depoimento do coronel da Polícia Militar do Distrito Federal, Jorge Eduardo Naime ao responder os questionamentos do deputado distrital, Fábio Felix (PSOL-DF) e que colocou os generais no centro do caos instalado em Brasília.
É claro que por ser uma câmara de nível estadual, ela possuí suas limitações não só para investigar mas também para gerar repercussão e infelizmente, o dia 16 de março talvez se torne apenas mais um dia.
Já no Congresso Nacional, com a extrema direita prometendo transformar a CPI num verdadeiro circo de alucinações de Q-Anon, acovardou o governo e a sua base, que retiraram o apoio a qualquer iniciativa do tipo no Congresso.
Há quem justifique que a CPI se tornou desnecessária já que o Supremo Tribunal Federal já investiga o ocorrido. Bem, por um lado é verdade, por outro, afasta a população de participar de um processo necessário de apuração histórica e responsabilização dos criminosos que ameaçam o Brasil desde a sua formação como República: as forças armadas.
Faria bem ao país colocar um general no banco dos depoentes do Congresso Nacional para mostrar que quem manda é o poder civil (não o contrário) e então se fazer todas as inquirições necessárias. Seria bom um general responder em alto e bom som porquê as três forças assinaram uma nota em conjunto chancelando os acampamentos delinquentes ou porque agiram de forma intencional para suscitar desconfianças sobre o sistema eleitoral.
Seria bom entender porque os criminosos não foram na noite do dia 8 de janeiro e qual era o papel da esposa do general Villas Bôas no acampamento no QG de Brasília.
Seria melhor ainda poder convocar Jose Múcio Monteiro, Ministro da Defesa, e cobrar explicações sobre seus posicionamentos lenientes e inconsequentes antes do caos em Brasília. Seria bom passar a limpo o episódio onde um general decidiu afrontar um ministro de Estado, no caso Flavio Dino.
São muitas coisas que não saberemos por medo de alguns arruaceiros e suas teorias da conspiração que certamente seriam ditas impunemente sem qualquer implicação penal ou responsabilização por parte do Senado federal e seu conselho de ética.
Vencem os generais que seguiram dando as cartas no Brasil e colocando o arcabuz na nuca de todo e qualquer presidente eleito, tal qual um criminoso ao extorquir suas vítimas.
Enquanto isso, os generais saem de mais dadas com o Ministro da Defesa em seu projeto de PEC que mandará candidatos-militares para candidatos militares com menos de 35 anos de serviço para a reserva não remunerada.
Num primeiro momento parece bom e positivo uma iniciativa neste sentido mas basta lembrarmos que hoje o alto comando das forças armadas exerce poder e atuação política sem precisar de um número de legenda ou partido sequer.
E mesmo que um ou outro deseje se aventurar nas urnas, esse luxo ficará restrito apenas ao oficiais generais que serão os únicos com condições de financeiras de irem para a reserva (remunerada, é claro) e infestarem o processo eleitoral da mesma forma que infestam o processo político no país.
A extrema direita venceu e deixou a esquerda (e o governo) achando que ganhou.
A extrema direita talvez tenha vencido a batalha mais importante: a batalha pela legalidade.