Opositores do projeto que prevê mudanças nas regras da aposentadoria na França se manifestaram também em outras cidades, como Lyon, Estrasburgo e Bordeaux.
Publicado em 17/03/2023 – 20h42
Por DW Made for minds
DW — A noite desta sexta-feira (17/03) registrou novos protestos na França contra o projeto de reforma da Previdência apresentado pelo presidente Emmanuel Macron. O texto aumenta a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos e vem sendo contestado por meio de protestos e greves desde janeiro, com reflexos na vida cotidiana de milhões de franceses.
Em Paris, milhares de pessoas se reuniram na Place de la Concorde, perto do prédio do Parlamento, o que levou a confrontos com as forças de segurança.
A polícia usou gás lacrimogêneo na tentativa de dispersar a multidão, que atirou garrafas, pedras e fogos de artifícios nos policiais. Objetos também foram incendiados. Ao menos 12 pessoas teriam sido presas.
Protestos também foram registrados em cidades como Lyon e Estrasburgo. Em Bordeaux, no sudoeste da França, dezenas de manifestantes invadiram os trilhos da principal estação de trem, segundo um fotógrafo da agência de notícias AFP.
Os sindicatos convocaram mais greves e protestos em massa para a próxima quinta-feira, classificando a atitude do governo como “uma completa negação à democracia”.
“Mudar o governo ou o primeiro-ministro não vai apagar esse fogo, apenas retirar a reforma [vai diminuir a fúria de parte da população]”, disse o chefe da Confederação Francesa Democrática do Trabalho, Laurent Berger.
Os manifestantes pedem a renúncia de Macron, que havia colocado a reforma nas pensões francesas como centro de sua campanha de reeleição no ano passado.
Em um editorial, o jornal Le Monde advertiu que Macron estava “brincando com o fogo”: “Se o país deslizar em um novo surto de raiva ou se trancar em uma paralisia vingativa, o executivo só terá a si mesmo para culpar”.
O artigo 49.3
Os atos desta sexta dão continuidade aos protestos ocorridos nesta quinta, quando a primeira-ministra da França, Élisabeth Borne, comunicou à Assembleia Nacional que o governo dispensaria a votação dos deputados para aprovar o projeto, recorrendo, assim, ao artigo 49.3 da Constituição Francesa.
O artigo 49.3 permite que o primeiro-ministro dispense a votação de um projeto de lei, mas costuma ser usado apenas em situações limite e representa um risco para o governo.
A reforma foi aprovada no Senado por 193 votos a favor e 114 contra, mas o governo não estava certo se teria maioria na Assembleia Nacional – a câmara baixa do Parlamento francês.
Os membros da Assembleia Nacional podem reagir apresentando e votando uma moção de desconfiança, que, se aprovada, resultaria no arquivamento do projeto, na renúncia do governo e na convocação de novas eleições.
A decisão de recorrer a esse mecanismo, em vez de optar por uma votação que era considerada arriscada, foi tomada após três reuniões realizadas nesta quinta-feira entre Macron, a premiê e membros do governo.
Mais de 300 presos
Desde janeiro, diversos serviços públicos, como transportes, escolas e portos têm sido afetados por greves protagonizadas por opositores da reforma da Previdência na França.
Em Paris, segundo a prefeitura, a paralisação dos serviços de coleta deixou cerca de 10 mil toneladas de lixo amontoadas nas ruas.
Nesta quinta-feira, 310 pessoas foram presas devido às manifestações, 258 delas em Paris, informou o ministro do Interior, Gerald Darmanin.
“A oposição é legítima, os protestos são legítimos, mas causar destruição não é”, disse ele.
De acordo com pesquisas de opinião, ao menos dois terços dos franceses se opõem à revisão da aposentadoria.