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Elias Jabbour: A China hoje não é o Japão de 1985

Por Elias Jabbour No começo da década de 1980 deu-se início ao que muitos intelectuais chamaram de “recuperação do poder americano”. Essa recuperação estaria, à época, ocorrendo em várias frentes. Na frente monetária, o rompimento com Bretton Woods abriu caminho para o poder incontestável do dólar diante de outras moedas nacionais. No âmbito geopolítico, uma […]

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Por Elias Jabbour

No começo da década de 1980 deu-se início ao que muitos intelectuais chamaram de “recuperação do poder americano”. Essa recuperação estaria, à época, ocorrendo em várias frentes. Na frente monetária, o rompimento com Bretton Woods abriu caminho para o poder incontestável do dólar diante de outras moedas nacionais. No âmbito geopolítico, uma verdadeira contrarrevolução foi aberta mundo afora com os Estados Unidos financiando todas as formas de combate militar ao socialismo, principalmente na África e na América Central e de forma direta desafiou e sufocou a União Soviética, acelerando sua desintegração no início dos anos de 1990.

Muitos países do mundo aproveitaram a oportunidade oferecida pela Guerra Fria no sentido de construir projetos nacionais apoiados pelos Estados Unidos como forma de contraposição ao socialismo, seja o soviético, seja o chinês. Países como o Brasil, México, Coreia do Sul, Alemanha e principalmente o Japão foram se tornando grandes potências comercias e industriais. Os Estados Unidos trataram de colocar um fim a esse processo. A cobrança da dívida externa de países como o México e o Brasil abriu às portas ao neoliberalismo na América Latina e no caso japonês uma verdadeira humilhação foi imposta em 1985 pelo famoso Acordo de Plaza quando os Estados Unidos decretaram o fim do desenvolvimentismo japonês com a imposição de altas tarifas de importação a produtos japoneses e uma valorização cambial que destruiu com boa parte da competitividade da economia japonesa.

Esse é o comportamento histórico dos Estados Unidos com os países que possam um dia vir a “ameaçar” a sua hegemonia. Bullying militar, monetário, ideológico e as formas mais sujas de calúnia e difamação. Com a China hoje não está sendo diferente. Muito antes da atual guerra tecnológica que o imperialismo está promovendo contra a China, a taxa de câmbio chinesa e as leis que protegiam determinados setores da economia nacional da China eram alvo de “denúncias” por parte dos Estados Unidos. Mas grande parte das próprias leis chinesas eram resguardadas por seu status de país em desenvolvimento conferido pelos próprios Estados Unidos durante o governo de Clinton.

Porém, a temperatura aumentou com a tentativa, no âmbito do Congresso dos EUA, de retirar o status de “país em desenvolvimento” conferido à China, abrindo caminho para mais sanções e tentativas de frear o desenvolvimento econômico chinês. Uma justificativa para este absurdo é o apelo ao papel negativo que a China tem jogado nas chamadas “alterações climáticas”.

A grande questão é que, apesar de todos os avanços econômicos e em setores de alta tecnologia, a China continua e continuará a ser um país em desenvolvimento. Por exemplo, um país desenvolvimento tem a esmagadora maioria de sua população vivendo nas cidades, não no campo. Dados do Banco Mundial indicam que em 2021 os EUA tinham 83% de sua população vivendo nas cidades, Reino Unido, 84%; Alemanha, 78%; França, 81%, e Japão, 92%. Porém, a China com centenas de milhões de pessoas ainda ocupadas em formas agrícolas ainda não modernas tem apenas 63% de sua população vivendo em cidades. A renda per capita é outra forma muito útil de averiguar o nível de desenvolvimento de um país. Também segundo o Banco Mundial, a renda per capita dos EUA é de US$ 70.248, a Inglaterra, US$ 46.510; Alemanha, US$ 51.203, e a China vem muito atrás com uma renda per capita de US$ 12.556.

Como afirmar então que a China deixou de ser um país em desenvolvimento diante de pelo menos duas robustas evidências do contrário? A questão é puramente política e ideológica e serve a propósitos que não servem nem aos EUA, muito menos aos chineses e, principalmente, ao mundo. A tentativa de frear o desenvolvimento econômico chinês poderá ser algo catastrófico para o mundo, pois a China tem se tornado um grande dinamizador da economia internacional. Por outro lado, os Estados Unidos equivocam-se não somente na forma como eles operam o conceito de “país em desenvolvimento”.

Ao contrário do Japão, que é um país ocupado militarmente pelos Estados Unidos, a fundação da República Popular em 1949 permitiu aos chineses lidarem com seus objetivos estratégicos dentro de marcos geopolíticos programados pela própria liderança chinesa. O sonho do imperialismo é colocar a China e o mundo de joelhos e varrer o socialismo do horizonte civilizatório da humanidade. A questão é que a China não é o Japão de 1985. Ela se colocou de pé em 1949 e nada, nem ninguém, a colocará de joelhos novamente.

Elias Jabbour é professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Vencedor do Special Book Award of China 2022. Artigo produzido em colaboração com a Rádio Internacional da China

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Comentários

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Miron Parreira Veloso

18/03/2023 - 11h00

Intrigante o comportamento que se esgrima visando ferir e não aferir evolução. Quantos milhões de famintos o capitalismo (substituto do feudalismo) produz? É humano permanecer 1 vivendo às custas de 100, 1000…? Qual o sentido da razão quando a razão perde o sentido na exploração? Ninguém, repetindo: Ninguém tem mais direito quando o direito perde o sentido humano da compaixão do outro ter direito. Foda-se o individualismo egoísta do capitalista… Senhor feudal!

José Joaquim Gonçalves

18/03/2023 - 06h52

É TUDO QUE OS EUA QUEREM: O Mundo subdesenvolvido, prefere discutir modelos alheios e não as referências que podem servir de base para construir os seus próprios. Os EUA tem o seu modelo que só serve para ele. Porque ele tem os meios de dominar, oprimir e rapinar os recursos naturais das outras nações. (…) Gente, pfvr, vamos pensar e crescer como pessoas pensantes, capazes por isso, e só por isso já basta , para formar uma nação racional.

Cisso Pazei

18/03/2023 - 02h14

Os EUA já destruíram muitas economias mundo a fora através de sansões infundadas e agora quer destruir a China militarmente só não sei se vai conseguir.

Alexandre Neres

17/03/2023 - 16h27

O senhor Edson Luiz só entende que uma crítica é dirigida a ele quando o comentarista o cita nominalmente. Esses ele rebate. Por aí se vê sua capacidade cognitiva para interpretar um texto. Vai ser burro assim lá na casa do caraleo…

EdsonLuíz.

17/03/2023 - 14h59

Alexandre Nada::
Cresça um pouquinho!
Deixe de ser o Neres que você é!

Eu torço, mas duvido que consiga crescer 1 cm!
Um imbecil ossificado se identifica ao longe.

EdsonLuíz.

17/03/2023 - 14h56

Rodrigo Souza:
Ao menos leia as coisas com um pouco mais de atenção.

“Capitalismo como produto histórico surgido internamente como resultado quase natural do amadurecimento dos processos e das forças produtivas do Sistema Medieval.”
▪”…internamente como resultado QUASE natural…” .

Só não lhe falo outra coisa porque não identifico você e posso incorrer em injustiça e leviandade.

De mais a mais, em você pode haver alguém interessado em pensar a sério, e não em ser mais uma destas feras imbecís que desfilam aqui (imbecís, no caso, significando essa gente doutrinada, seguidista e sem autonomia, além de profundamente ignorantes sobre tudo –mas se não fossem ignorantes ao ponto que são, não seriam isso que mostram ser).

Alexandre Neres

17/03/2023 - 11h40

Gente, o dito cujo tá levando porrada de todo lado, trôpego, com a vista embaçada, pronto pra beijar a lona. Pobre Pianca!

Andre Dias

17/03/2023 - 10h05

Tem uns comentários sem estudo algum , a china de Mao Tse Tung a expectativa de vida melhorou muito , e ainda conseguiu tirar os colonizadores que lá permaneceram no domínio do território Chines , a China tem capitalismo mais e muito controlado pelo governo, e um socialismo de mercado

Rodrigo Souza

17/03/2023 - 05h14

Resposta ao comentário do EdsonLuíz:
Se algo é histórico, não pode ser natural (e vice-versa). Seu comentário logo de cara já não se sustenta.

Alexandre Neres

16/03/2023 - 21h55

O senhor Edson Luiz é daqueles que gosta de falar grosso com Venezuela e Bolívia e fala fino com os EUA.

Fico envergonhado ao ver a sabujice desse senhor. Não passa de um caudatário dos ianques.

Um senhor de idade que fica igual a uma criança, se deixa seduzir pelo poderio bélico dos Isteites, inda que em franca decadência. Em que pese vender armas para o mundo inteiro, lucrando com os conflitos ao redor do mundo, é curioso como o fanfarrão fica embasbacado como se tivesse ante uma autoridade que fez por merecer uma superioridade moral.

EdsonLuíz.

16/03/2023 - 16h23

●Já chegou o que você temia, Nelson.
▪”Vociferar” é contrastar o que populistas ditos “de esquerda” ou ditos “de direira” não querem? Para mim, vociferar é provicar a dor, a opressão, a miséria e se impor usando a força policial.

Já estava aqui, lá mais embaixi, o que para quem se desagada é “vociferar”.
▪Mas se quiser, é só não ler.
Começa assim:

■ ” EdsonLuíz.
16 de março de 2023 às 10h15

A realidade econômica da China atual, pós fracasso de Mao SeTung e de seu “socialisto” é uma realidade econômica capitalista.
▪A experiência artificial e fracassada de inventar Estado e Modelo econômico é delirante e não existe, constituindo apenas uma experiência violenta de imposição de vontades de autoritários desejosos de poder! ”

E se quiser ler, é só seguir lá, bem abaixo.

Admar

16/03/2023 - 13h20

Tio Sam quer a Guerra!!!

Nelson

16/03/2023 - 11h47

Dando sequência ao comentário que postei há pouco.

As evidências históricas de que não é a democracia e o respeito ao direito dos povos que têm prevalecido nas relações internacionais vigentes sob o comando dos ditos países capitalistas democráticos.

No entanto, é quase certo que logo surgirá por aqui um comentarista a vociferar contra o que chama de ditaduras da China, da Rússia, de Cuba, da Venezuela, etc. E o faz apenas porque esses povos ousam não obedecer à ditadura imposta nas relações internacionais por esses países ditos democráticos.

Em sua eterna arenga, o comentarista em questão de tudo fará para que fiquem escondidas todas as trapaças – para não falar de morticínios – já perpetradas e que seguem sendo perpetradas pelos países “democráticos” para evitar que outros povos sigam seu próprio caminho, live, autônomo, soberano, independente.

Na verdade, ainda que diga abominar ditaduras nosso comentarista não consegue esconder toda a sua sabujice, todo o seu servilismo a uma das piores ditaduras já vistas pela humanidade, a imposta pela plutocracia que domina os Estados Unidos.

Para concluir, por ora, demonstrando qual o espírito que embala os ditos países democráticos, notadamente os EUA, voltemos a Noam Chomsky.

Segundo o linguista estadunidense, nos documentos internos os estrategistas de seu país se referem às riquezas existentes no Brasil, na Argentina, no México, na Venezuela, enfim, pelo restante do mundo, como “as nossas (deles) riquezas”.

Nelson

16/03/2023 - 11h44

“A cobrança da dívida externa de países como o México e o Brasil abriu às portas ao neoliberalismo na América Latina e no caso japonês uma verdadeira humilhação foi imposta em 1985 pelo famoso Acordo de Plaza quando os Estados Unidos decretaram o fim do desenvolvimentismo japonês com a imposição de altas tarifas de importação a produtos japoneses e uma valorização cambial que destruiu com boa parte da competitividade da economia japonesa.”

Aqui, Elias Jabour nos dá uma “pequena” mostra de como a democracia dos Estados Unidos procede com os povos que ousam trilhar seu caminho próprio na direção do desenvolvimento.

E há que se ressaltar que ele cita três países que trilharam o caminho CAPITALISTA do desenvolvimento. Nem Brasil, nem México e nem o Japão ousaram implantar medidas mais profundas do tipo socialista como Cuba e União Soviética.

Uma mostra de que nem mesmo sob o viés capitalista nossos países poderão desenvolver suas potencialidades. Pelo simples fato de que nosso desenvolvimento nos tornará fortes competidores dos EUA. Algo tão evidente que chega a ofuscar, de tal forma que muita gente inteligente não consegue enxergar. Há, claro, aqueles que enxergam, mas preferem optar pela “cegueira intencional”.

Aliás, a coisa toda não é exatamente nova. Em “Novas e Velhas Ordens Mundiais”, Noam Chomsky nos conta que, na primeira Revolução Industrial, a têxtil, Egito e Índia tinham um potencial igual ou superior ao da Inglaterra para galgarem novos patamares de desenvolvimento. Produziam um algodão de melhor qualidade que o inglês, assevera Chomsky.

O que teria havido, então, que, enquanto a Inglaterra “decolou”, Egito e Índia ficaram a patinar, condição em que se encontram até hoje? Não, cara pálida, não foi a tão invocada “mão invisível” do Mercado a determinar quem poderia ser o vencedor e quem ficaria na “rabeira’.

Possuindo um poderio militar muito superior – era o grande Império da época – a Inglaterra simplesmente “abafou” a possibilidade de esses dois países desenvolverem seus parques industriais exatamente para que não se tornassem seus competidores.

Egito e Índia deveriam permanecer na sua condição para que fornecessem matéria prima barata para os industriais ingleses. Simples assim.

EdsonLuíz.

16/03/2023 - 10h15

A realidade econômica da China atual, pós fracasso de Mao SeTung e de seu “socialisto” é uma realidade econômica capitalista.
▪A experiência artificial e fracassada de inventar Estado e Modelo econômico é delirante e não existe, constituindo apenas uma experiência violenta de imposição de vontades de autoritários desejosos de poder!

■Há o Capitalismo como produto histórico surgido internamente como resultado quase natural do amadurecimento dos processos e das forças produtivas do Sistema Medieval.
▪E houve, e ainda há resíduos, de uma experiência artificial de Sistema, a que chamaram Socialismo, de memória triste por só existir quando imposto à força, por ruptura institucional e sustentado por numerosas tropas policiais intolerantes e truculentas e por soldados-divulgadores, com a eliminação de toda contestação e divergência por métodos repressivos. Eliminação física inclusive!
▪Um dia a sociedade acaba se revoltando, juntando forças e acabando com a repressão a que é submetida por esses jagunços políticos que chamam a si mesmos de socialistas.

■O modo natural como o mundo produz e reproduz de forma sistêmica sua realidade é produto histórico e se dá em processo. Em um único processo!

Dois modos consistentes e legítimos de produção e reprodução da realidade subsistindo juntos nunca ocorre na história, por ser uma impossibilidade que a mesma história humana gere dois modelos sistêmicos.
▪houvesse a possibilidade de a mesma história engendrar concomitantemente mais ďe um caminho e teria engendrado muitos e não dois Sistemas concomitantes.

O que existe como resultado histórico é o Capitalismo. O Socialismo foi uma experiência artificial cujos resquícios não subsistirá à história. O Socialismo, por ser artificial, já não subsistiria à história mesmo se fosse uma experiência de sucesso. Mas o fracasso absoluto como economia e como modelo social e que por isso não conseguiu estabelecer nova Forma Social e ter umTeoria de Estado própria condena o chamado Socialismo a ter sido apenas uma experiência de generalização da miséria e do emprego da força máxima para reprimir quem resiste à sua desumanidade.

Sendo processo histórico, o Sistema Capitalista, séculos à frente, amadurecerá em outro Sistema econômico e social. Uma vez estabelecido, esse novo Modo de Produção mostrará suas características e receberá um nome de batismo, que certamente não pode ser dado hoje porque nem imaginamos ainda a Forma Social que se desenvolverá para que sejam estabelecidas relações sociais no que será no novo regime.

A defesa do fracassado socialismo como alternativa ao Capitalusmo é uma farsa!


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