Bancada indígena demonstra força e vence corrida contra extrema direita para reinstituir coletivo parlamentar de defesa dos povos originários
Publicado em 08/03/2023 – 11:18
Por Oswaldo Braga de Souza – Jornalista do Instituto Socioambiental
ISA — O movimento indígena ganhou uma primeira disputa com a extrema direita no Congresso: a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) garantiu mais de 200 assinaturas de deputados e senadores para protocolar o pedido de recriação da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. O mínimo exigido é de 198 subscrições.
Célia conseguiu se antecipar ao deputado ruralista-bolsonarista Coronel Chrisóstomo (PL-RO), que pretendia fazer o mesmo e tomar de assalto o coletivo para usá-lo contra os direitos das populações originárias. Chrisóstomo defende o garimpo em Terras Indígenas (TIs) e é contra a demarcação dessas áreas, entre outras posições consideradas anti-indígenas.
Agora, só é preciso que a Presidência da Câmara faça a conferência das assinaturas para oficializar o ato de recriação. No início de cada legislatura, é necessário reinstituir esses coletivos. Eles não têm prerrogativa formal na atividade legislativa, mas são espaços de articulação política e, em alguns casos, com influência considerável, a exemplo da frente ruralista e da ambientalista.
O risco de existir mais um coletivo parlamentar para supostamente defender os direitos dos povos originários não acabou, porém. Chrisóstomo segue recolhendo assinaturas para criar uma entidade equivalente, mas restrita à Câmara, de acordo com sua assessoria. As normas da casa não impedem que isso aconteça.
A frente indígena tornou-se um espaço importante porque a agenda indígena ganhou relevância política nos últimos anos, reproduzindo a polarização política do país e provocando polêmicas importantes na legislatura passada. A mesma coisa deverá acontecer na legislatura que acaba de começar. Em sentidos opostos, tanto ruralistas e bolsonaristas quanto agora o governo Lula vêm dando prioridade ao assunto.
“Está aqui a nossa frente parlamentar, para conduzir e para pensar soluções estratégicas para esse parlamento, que não pode ser omisso [na pauta indígena]”, disse Célia, no evento de relançamento do grupo, no final da tarde desta terça (7), no Salão Verde da Câmara. “Esse vai ser um espaço de debate técnico e político”, continuou.
Célia será a coordenadora da frente na Câmara e Eliziane Gama (PSD-MA) terá a mesma função no Senado. A deputada também tenta ser indicada para liderar a recém-criada Comissão dos Povos Originários, essa, sim, parte do sistema oficial de tramitação da Câmara, com a atribuição de debater projetos e realizar audiências, e que também tornou-se estratégica diante do aumento da relevância política do tema.
A definição sobre as presidências das comissões da Câmara deverá ser fechada nos próximos dias, numa reunião de líderes partidários. As indicações para a função dependem do tamanho de cada bancada partidária e, a partir daí, de negociações espinhosas. A disputa é acirrada porque o cargo tem grande poder no controle do trâmite das propostas legislativas.
“A recriação da frente antes da extrema direita é uma demonstração de força política”, avalia o sócio fundador do ISA Márcio Santilli. “Vamos entrar numa nova etapa da vida dessa frente, em que permanecem presentes as demandas de resistência aos ataques contra os direitos indígena. Ao mesmo tempo, vamos ter de reforçar a agenda positiva, de construção de uma nova política indigenista, agora com cara e atores de uma nova política indígena, que começa permanecer nos espaços institucionais desse país”, ponderou, também no evento de terça.
Prioridades
Célia informou que a luta contra o Projeto de Lei (PL) 490, que pretende inviabilizar as demarcações de TIs; a implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de TIs (PNGAT); o combate ao racismo; e a defesa do direitos das mulheres indígenas serão prioridades da frente parlamentar.
“A demarcação dos territórios indígenas é reconhecida pela ONU como a solução número um para barrar a crise climática. Então, defender os direitos dos povos indígenas, defender os territórios indígenas é defender a própria vida”, reforçou.
“Este momento é um momento histórico das nossas vidas. Um momento que temos pressa, pressa de articulação política”, afirmou a deputada Juliana Cardoso (PT-SP), que também se autoidentifica indígena. Ela destacou a necessidade de articular no governo recursos orçamentários para implementar as políticas e projetos de defesa dos direitos dos povos originários.
Representatividade
A tentativa de usurpar a frente parlamentar indígena tende a ser a primeira de uma série de ações de ruralistas e bolsonaristas que o movimento indígena terá de enfrentar no Congresso, inclusive uma possível disputa pela representatividade política dos povos originários.
Em 2022, foram eleitos para o Congresso sete candidatos autoidentificados indígenas, o maior número da história. Entre eles, está Silvia Waiãpi (PL-AP), bolsonarista de carteirinha que também defende posições contrárias às do movimento indígena ou abertamente anti-indígenas. Ela deve usar sua origem étnica para se contrapor às propostas e aos parlamentares progressistas.
Integrante da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kléber Karipuna reforçou que Célia Xakriabá e Juliana Cardoso são “a verdadeira representatividade, legítima, do movimento indígena” no Legislativo Federal.
“Qualquer outro que se identifica como indígena, mas que não pisou no chão [da aldeia], não tomou bala de borracha, não levou spray de pimenta na cara não nos representa nesse Congresso”, defendeu. Karipuna mencionou ainda o PL 191, que prevê a legalização da mineração em TIs, e as propostas de alteração da legislação sobre o licenciamento ambiental como duas ameaças aos direitos indígenas.
EdsonLuíz.
11/03/2023 - 21h24
Repudio k e-maiill que me mandaram. Se fpi ameaca, não me intimida.
Farsante é você!
EdsonLuíz.
11/03/2023 - 15h26
Vou exagerar!
. .”Desejo que cada um se realize, se consuma, por seu poder de palavra, por seu poder de silêncio.”*
*Adélia Prado(suponho).
Os povos originários que habitam esta terra, os chamados “índios”, constituem, de fato, nações:: Nações Indígenas!
Os “índios” estão e sempre estiveram organizados politicamente e são n-a-t-u-r-a-l-m-e-n-t-e mais integrados a esta terra e ao seu ambiente do que nós, os habitantes emigrados e seus descendentes.
Os hábitos, costumes e culturas que os “índios” seguem são originais e próprios deste território, diferentemente das nossas características, que foram transplantadas e adaptadas para aqui.
Os “índios” são os povos originários deste território, não nós, e eles sempre constituiram várias nações aqui nesta terra, que eles denominavam de Pindorama (Terra das Palmeiras).
▪O que vou dizer só é exagerado se considerado o quadro político e geográfico estabelecido hoje, de termos nós —e não eles— formalizado aqui um Estado e nele termos aplicado as nossas leis, leis essas que são, assim como a essência de toda a nossa cultura, um transplante e adaptação das leis que conhecíamos e trouxemos de nossos territórios originais.
■ que digo?
▪O Brasil ser um Estado Europeu em Pindorama é uma artificialidade e é menos meritório e legítimo em relação à utopia de ter aqui um Estado Indígena, por qualquer ângulo que se possa abordar seriamente e com isenção essa questão.
É dado que a existência do Estado brasileiro é uma realidade e um fato consumado que não vai se alterar. Mas um fato consumado não impede que se sonhe e se consuma outros fatos, como a construção de um Estado multinacional no Brasil.
Falo de ter neste mesmo território um Estado multinacional que tenha nele, além de nós, nacionais exóticos, os habitantes originários, com suas nações desfrutando conosco de um Estado soberano comum.
Isso de ter aqui um Estado multinacional causa um estranhamento imediato. Porém, o que soa estranho pode começar a ser superado se soubermos, por exemplo, que a Espanha é um Estado multinacional. Você sabia disso? Então, por que não reconhecermos efetivamente que nações indígenas já estavam organizadas aqui neste país, que eles denominavam Pindorama e da qual eles já eram proprietários quando nos apossamos da terra e a denominamos, por final, Brasil? Não vejo como justificar que os povos originários tenham que ser tutelados por nosso Estado.
Expressei o que pode ser uma possibilidade estranha para você, de consumar o Brasil como um Estado multinacional que inclua as nações originárias daqui em sua composição e participação política efetiva. Você pode se calar ou reagir ao que expresso, mas entre nós dois estará faltando um Estado em que os povos originais dessa terra tenham territórios definidos para suas nações e se apresentem com autonomia.
O parlamento pode ser comum.