Em 1910, ativista propôs data internacional para celebrar luta das mulheres por igualdade de direitos e pelo voto feminino.
Publicado em 08/03/2023 – 07h30
Por Laianna Janu – DW Made for minds
DW — O 8 de Março é fruto de lutas internacionais pelos direitos das mulheres na Europa e nos Estados Unidos, e um dos nomes de destaque na sua criação é o da feminista e sufragista alemã Clara Zetkin. Foi ela que, em 1910, em Copenhague, propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher como uma jornada de manifestações anuais pelos direitos das mulheres e pelo socialismo.
O primeiro Dia da Mulher já havia sido celebrado um ano antes, nos Estados Unidos, por iniciativa de mulheres do Partido Socialista da América. No entanto, seria a proposta de Zetkin, inspirada na bem-sucedida experiência americana, que originaria a comemoração universal. As celebrações tiveram início em 1911, em 19 de março, que seria oficialmente o primeiro Dia Internacional da Mulher, na Alemanha, na Dinamarca, na Suíça e no Império Austro-Húngaro.
A ideia, que foi apresentada por Zetkin na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, na capital dinamarquesa, era celebrar a luta das mulheres de todo o mundo pela igualdade de direito e pelo voto feminino. Em seu discurso, Zetkin clamou, sobretudo, pela necessidade de espaços políticos pensados por e para mulheres.
Com a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, a data passou a ser celebrada em 8 de março nos países comunistas e pelos movimentos socialistas, sendo definitivamente fixada nessa data em 1921. O 8 de Março acabou sendo incorporado pelas Nações Unidas em 1975, em meio às comemorações do Ano Internacional da Mulher.
Quem foi Clara Zetkin?
Clara Josephine Eissner (mais tarde Zetkin) nasceu em 1857 e faleceu em 1933, o ano da ascensão dos nazistas ao poder na Alemanha. Ela cresceu numa família ligada aos ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa e se tornou uma política influente na República de Weimar, bem como ativista pela paz e pelos direitos das mulheres.
Devido à ligação da mãe com líderes do movimento feminista, Zetkin ingressou num seminário para professores na cidade onde vivia, Leipzig. No local, ela se destacou como uma das melhores alunas e tornou-se professora especialista em línguas modernas, atuando na Alemanha e na Áustria.
Em 1878, ela entrou para o Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (SAP), que dois anos depois trocaria o nome para Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), como ainda hoje se chama. Zetkin integrava a ala mais à esquerda do partido, ao lado de nomes como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.
Entre 1882 e 1891, devido à repressão aos socialistas na Alemanha, ela viveu no exílio em Paris, onde adotou o sobrenome do companheiro, o revolucionário russo Ossip Zetkin, deixando de lado o sobrenome do pai, Eissner. Na capital francesa, ela também participou ativamente da fundação da Segunda Internacional. O casal teve dois filhos, e o marido dela morreu em 1889.
Quando retornou à Alemanha, tornou-se editora do periódico socialista Die Gleichheit (A Igualdade), posto que ocupou de 1891 a 1917. Ela via com desconfiança o feminismo burguês, composto por mulheres de classes sociais mais elevadas, e acreditava que o socialismo era o caminho para a libertação das mulheres.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o pacifismo de Zetkin a colocou em oposição a posições adotadas pelo SPD, e assim ela se tornou uma dissidente em 1917. Em 1919, ela ingressou no então recém-criado Partido Comunista da Alemanha (KPD), pelo qual foi deputada no Reichstag de 1920 a 1933, na chamada República de Weimar. A partir de 1920, já doente, passou a alternar estadas entre a Alemanha e a União Soviética.
O último pronunciamento público de Zetkin ocorreu em 1932, como decana do Reichstag. Ela presidiu a abertura da cerimônia de posse do novo legislativo e, já muito doente, discursou contra o fascismo – os nazistas eram a maior bancada do Parlamento.
A tomada de poder por Adolf Hitler, em 1933, e o incêndio do Reichstag, pelo qual os comunistas foram acusados, levou Zetkin a um novo exílio, desta vez na União Soviética. Ela morreu pouco tempo depois, em 20 de junho de 1933, aos 75 anos.
Desde 2011, o partido político alemão A Esquerda entrega um prêmio com o nome dela a mulheres que se destacam pelo seu engajamento social ou político.