Indicações para o conselho da estatal, feitas pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, foi criticada pela FUP. “Atrapalha os planos de Lula de abrasileirar o preço do petróleo”, diz sindicalista
Publicado em 02/03/2023 – 19:13
Por André Accarini – Redação CUT
CUT — A indicação de novos membros do Conselho de Administração (CA) da Petrobras, imposta pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG) foi vista com preocupação pela direção da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Quatro dos oito nomes indicados são ligados ao bolsonarismo e ao mercado financeiro e poderiam causar entraves ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua missão de pôr fim às privatizações na estatal e à famigerada Política de Paridade de Importação (PPI), instituída no governo de Michel Temer (MDB) e mantida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Pela PPI o preço do barril de petróleo é cobrado em dólar enquanto os custos de produção aqui no Brasil e os salários dos petroleiros são em reais.
Os quatro nomes em questão são o de Pietro Adamo Sampaio Mendes, indicado para presidente do CA; Carlos Eduardo Turchetto Santos; Vitor Eduardo de Almeida Saback; e Eugênio Tiago Chagas Cordeiro e Teixeira.
Todas as indicações têm de passar por avaliação de comitê interno da Petrobrás que analisa currículos e eventuais vedações e conflitos e, além disso, deverão passar pela Assembleia Geral prevista para a segunda quinzena de abril. O tempo até lá servirá crucial para um ‘freio de arrumação’ na situação, conforme apontou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, em entrevista ao jornalista Luiz Nassif do GGN.
Além de serem nomes bolsonaristas, desalinhados com os planos de Lula para a estatal, as indicações foram feitas pelo ministro à revelia do que já havia sido articulado pelo Palácio do Planalto.
“Tivemos a informação e vimos com estranheza. Havia uma discussão sobre as possiblidades de que o governo estava tendo de indicações. Vários nomes rodaram pela imprensa, porque era nomes debatidos pelo Palácio do Planalto, junto com próprio presidente da Petrobras” [senador João Prates/ PT-RN], afirmou o Coordenador-Geral da FUP.
O alerta feito pela direção da FUP e de seus sindicatos filiados é de que esses quatro nomes formariam maioria no Conselho de Administração, de forma a fazer com que a União e o próprio presidente Lula não tenham controle no conselho, formado por sete membros.
“Entendemos que as indicações feitas pelo ministro vão totalmente contra ao que o presidente vem falando desde a campanha, de abrasileirar o preço dos combustíveis e da Petrobras servindo à população”, pontuou Deyvid, em referência ao fim da PPI.
Nova Assembleia para aprovar indicados será em abril
Até a assembleia, a Petrobras, mesmo tendo como presidente Prates, indicado por Lula, ainda tem toda a gestão formada por bolsonaristas, indicados no governo anterior.
“Todo o corpo gerencial da Petrobras, inclusive a alta administração, indicada por Bolsonaro, continua. A assembleia geral é importante para mudar essa gestão, para atender aos interesses e estratégias do acionista principal, que é a União”, disse o dirigente. Ou seja, trocam-se nomes, mas não a mentalidade neoliberal econômica do conselho da estatal
Portanto, é importante esclarecer que o governo Lula ainda não assumiu totalmente a Petrobras e suas subsidiárias, e “até o fim de abril ainda teremos de conviver com esses bolsonaristas no Conselho. Jean Paul tem feito o que pode para segurar o andamento da empresa”, reforça o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa.
As indicações
Eduardo Turchetto, empresário do setor de açúcar e álcool, responde a processo relacionado à destruição de floresta, com corte de árvores no bioma da Mata Atlântica, em Minas Gerais, “sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes ou contrariando normas legais de regulamentos pertinentes”, como escrito na ação.
Vitor Sabak, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), onde está hoje por indicação do senador bolsonarista Rogério Marinho, foi assessor especial de Paulo Guedes e articulador da reforma da Previdência. No governo Temer, trabalhou no Palácio do Planalto, como assessor de Relações Parlamentares, responsável pelas articulações com o Congresso.
Eugênio Teixeira foi sócio do vice-governador de Minas Gerais e ex-senador Cléssio Andrade – vacinado contra covid-19 gratuitamente e às escondidas, numa garagem -, na empresa Aurium Trading Importação e Exportação S/A.
O também bolsonarista Wagner Granja Victer havia sindo indicado, mas após movimentação do presidente da estatal, o Ministério de Minas e Energia retificou a lista, substituindo-o por Bruno Moretti, atual secretário especial de Análise Governamental da Presidência da República, assessor do PT no Senado, mais aliado às linhas econômica e política do atual governo.
Papel do movimento sindical
Ainda na entrevista ao GGN, Deyvid Bacelar destacou a independência do movimento sindical, cujo papel é também fazer resistência frente ao que considera lesivo aos trabalhadores e à nação.
Nossa autonomia existe para ajudar o presidente Lula, que precisa ter uma Petrobras atendendo aos interesses do Brasil e não a interesses escusos”, afirmou o dirigente que considerou a indicação do ministro uma ‘punhalada nas costas de Lula’.
Lucro da Petrobras
A estatal fechou o ano de 2022 com um lucro de R$ 188,3 bilhões, o maior da história e 76,6% maior que o lucro de 2021. O total de dividendos a ser repassado aos acionistas é de R$ 35,8 bilhões, no entanto Jean Paul Prates propões reter R$ 6,5 bilhões a título de reserva estatutária. A proposta ainda deverá ser avaliada pelos acionistas na assembleia-geral, prevista para o dia 27 de abril.
Edição: Rosely Rocha