Publicado em 28/02/2023 – 14:40
Por Caê Vatiero
Abraji — Um dos principais suspeitos de mandar matar o jornalista Léo Veras foi morto no estacionamento de um supermercado no Bairro Las Mercedes, em Assunção, no Paraguai, no sábado, 25 de fevereiro. Chefe da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) na fronteira do Paraguai com o Mato Grosso do Sul, Ederson Salinas Benítez, conhecido como Ryguaçu, foi abordado por dois atiradores que desceram de um veículo branco e realizaram 34 disparos contra ele.
Salinas estava envolvido nas investigações sobre a morte de Lourenço Veras, o Léo, de 52 anos. O jornalista foi assassinado em 12.fev.2020 em sua casa, na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã (MS). Ele era dono do portal Porã News, que noticiava a disputa do narcotráfico na fronteira entre Brasil e Paraguai, e os crimes ligados ao PCC.
À época, as autoridades paraguaias responsáveis pelo caso apontaram Ryguasu como um dos possíveis mandantes do crime. Um mês antes do assassinato de Veras, Ryguasu e seu primo, ambos armados, foram detidos por policiais brasileiros após se envolverem em uma briga de trânsito em Ponta Porã. Ao chegar na delegacia, ele apresentou um documento falso com o nome de Edson Barbosa Salinas e, por não haver antecedentes criminais, foi liberado depois de pagar fiança de R$ 80 mil.
Um pouco antes de deixar o local, os agentes da Polícia Federal, com o auxílio da polícia paraguaia, confirmaram que o documento apresentado por Salinas era falsificado. Segundo o comissário Gilberto Freitas, chefe do Departamento contra o Crime Organizado do Paraguai, Ryguasu encomendou a morte de Veras após tomar conhecimento de que o jornalista havia revelado a sua verdadeira identidade às autoridades. Apesar disso, a Justiça de Ponta Porã não avançou nas investigações.
Rumo à impunidade
A morte de Léo Veras segue sem esclarecimento. A última movimentação do caso foi em novembro de 2022, quando o Tribunal de Sentença da cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, absolveu o principal suspeito de assassinar o jornalista. Waldemar Pereira Rivas, conhecido como Cachorrão, foi solto sob a alegação de que não havia provas suficientes para condená-lo pela autoria do crime.
Rivas foi preso no dia 1.mai.2020. Ele estava foragido desde fevereiro daquele ano e, segundo informações, integrava a quadrilha de traficantes do PCC, que atua na fronteira do Brasil com o Paraguai. O suspeito morava a poucas quadras da casa do jornalista assassinado e é o proprietário de um Jeep Renegade branco, que teria sido usado para transportar os três homens que estiveram na casa de Veras na noite de sua execução.
Também no mesmo ano, o promotor responsável pela Unidade Especializada de Crime Organizado e Narcotráfico do Paraguai e uma das autoridades envolvidas no caso, Marcelo Pecci, foi assassinado na Colômbia, durante uma viagem de lua de mel. De acordo com o jornal paraguaio ABC Color, a morte do promotor está relacionada a outro esquema de tráfico de drogas. Os suspeitos confessaram o crime e admitiram que a motivação da execução foi por vingança.
Programa Tim Lopes
O assassinato do jornalista Léo Veras foi o terceiro caso a ser incluído no Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji, com o apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis.
Outros quatro casos integram o programa. São eles: Jefferson Pureza, de 39 anos, assassinado em Edealina, Goiás, enquanto descansava na varanda de sua casa; Jairo de Sousa, de 43 anos, morto com dois tiros no tórax quando chegava para trabalhar na rádio Pérola FM, em Bragança, no Pará; Givanildo Oliveira, de 46 anos, assassinado logo após publicar uma reportagem sobre a prisão de um suspeito de homicídio; e o jornalista britânico Dom Phillips, de 57 anos, executado em Atalaia do Norte (AM), durante uma expedição pelo Vale do Javari, acompanhado do indigenista Bruno Pereira.