A reunião do General Tomás Paiva, que era o comandante militar do sudeste na época, com seus auxiliares em 18 de janeiro foi gravada secretamente e publicada pelo podcast Roteirices. A reunião ocorreu três dias antes do então comandante Júlio César de Arruda ser demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que nomeou Tomás para o cargo.
Nos áudios, o militar faz uma série de comentários sobre a conjuntura política do país e das forças armadas nos últimos anos.
O áudio foi divulgado com o título “Atual comandante apontou interferência política do governo Bolsonaro no Exército”, e sim, o militar fez isso em um tom crítico, mas a situação é muito mais problemática do que se imagina.
É mais de uma hora de um general fazendo análise de conjuntura política como se o Exército brasileiro fosse um partido político.
A análise incluiu recortes de publicações nas redes sociais e análise da opinião pública sobre as forças armadas e seus impactos. A reunião parece ser uma cúpula partidária para o desenvolvimento de estratégias político-eleitorais no curto e médio prazo.
E, claro, tudo sob o pretexto de combater a politização (o termo correto seria partidarização) das forças armadas e repetindo que o exército não é partidário, embora os áudios da reunião mostrem algo diferente.
Eles até discutem economia e os motivos pelos quais um golpe militar no Brasil seria inviável.
Em determinado momento, o general afirma que um golpe militar no Brasil causaria conflitos nas ruas, isolamento internacional do país, desvalorização do real e queda na Bolsa de Valor. Não é apropriado que um general se reúna com seus auxiliares para discutir a viabilidade de um golpe militar ou a reação das redes sociais e da opinião pública.
Em outro trecho, afirma ser favorável ao voto impresso (PEC derrubada pelo Congresso) embora afirme não haver indícios de fraude no pleito do ano passado. Depois afirmou fazer parte de uma “bolha conservadora de direita”.
No mínimo, a reunião é confusa, pois Tomás Paiva se comportou como um verdadeiro dirigente partidário enquanto repetia várias vezes que repudia a partidarização das forças armadas.
Num país sério com uma imprensa comprometida com a democracia, essa reunião seria tratada como um escândalo e não recebida com aplausos.
Para escutar o áudio completo, clique aqui.