Ato contra envio de armas à Ucrânia reúne milhares em Berlim

Monika Skolimowska/ DPA/Picture Alliance/ Direitos Reservados

Protesto pacifista foi convocado por autoras de controverso manifesto condenando o apoio militar a Kiev e acusando o governo alemão de promover escalada belicista.

Publicado em 25/02/2023 – 15h

DW — Chamada “Rebelião pela paz”, a marcha concentrou neste sábado (25/02) cerca de 13 mil pessoas no centro de Berlim, segundo a polícia, apesar das advertências de praticamente todo o espectro político alemão sobre uma possível participação de radicais de direita e de esquerda.

O protesto foi convocado pela controversa líder da ala comunista do partido A Esquerda, Sahra Wagenknecht, e pela autora e ativista Alice Schwarzer, ícone do feminismo alemão, que nos últimos tempos tem se destacado por defender inclusive posições mais identificadas com a direita mais conservadora.

A passeata terminou com um comício nas imediações do emblemático Portão de Brandemburgo. Um efetivo policial de cerca de 1.400 agentes foi destacado para a segurança do ato. O esquema de segurança foi reforçado após o anúncio de participação de vários representantes de extrema direita.

Os organizadores estimaram um provável comparecimento de cerca de 10 mil pessoas, mas as estimativas da polícia excederam esses números, apesar das temperaturas congelantes e da fina neve que caía sobre a capital alemã.

“Manifesto pela Paz”

Wagenknecht e Schwarzer lançaram há duas semanas o chamado Manifesto pela Paz contra o fornecimento de armas à Ucrânia e acusando o governo do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, de promover uma escalada belicista com a ajuda militar a Kiev. A petição online obteve apoio de mais de 620 mil assinaturas, de acordo com o site change.org.

A dupla diz que querer ver “negociações e comprometimentos” de ambos os lados do conflito na Ucrânia, para evitar que ele se transforme em uma possível guerra nuclear.

Schwarzer argumenta que o fornecimento de armas para a Ucrânia deveriam ser acompanhadas por esforços diplomáticos. “Depois de um ano de morte e destruição, pergunto: o que nos impede de iniciar as negociações agora, em vez de esperar três anos?”

As posições da dupla desencadearam críticas tanto de membros da coalizão de governo liderada por Scholz – formada por social-democratas, verdes e liberais -, quanto da oposição conservadora liderada pelo partido União Democrata Cristã (CDU).

A direção do A Esquerda se distanciou da convocação de Wagenknecht, cujas posições se aproximam dos postulados pró-Rússia da legenda de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o partido mais próximo da linha do Kremlin no Parlamento alemão.

Schwarzer, que é um ícone do feminismo alemão, defende a necessidade de iniciar imediatamente negociações de paz.

Wagenknecht disse à multidão que “o movimento pela paz precisa voltar às ruas”. Schwarzer, por sua vez, afirmou que o comparecimento mostrou: “Este é claramente o início de um movimento de cidadãos. E só podemos esperar que a mídia e os políticos percebam isso.”

Iniciativa “ingênua e perigosa”

Em entrevista à emissora estatal alemã ZDF, Olaf Scholz esta semana que não compartilha da convicção do manifesto de Schwarzer e Wagenknecht. “O presidente russo atualmente aceita apenas uma forma de negociação, ou seja, a rendição incondicional, o que lhe permite alcançar todos os seus objetivos”, disse.

A ministra do Exterior da Alemanha, a verde Annalena Baerbock, e seu correligionário Robert Habeck, vice-chanceler e ministro da Economia, tacharam a iniciativa de “ingênua” e “perigosa”, além de alertarem que a passeata poderia atrair radicais e seria explorada pelo Kremlin. “Todos mentalmente saudáveis querem paz”, comentou Habeck.

Baerbock defende a linha mais crítica dentro do governo alemão em relação a Moscou e na última Assembleia Geral da ONU advertiu, discursando sobre as resoluções pedindo a retirada russa, que uma submissão [da Ucrânia] não equivale à paz.

Cláudia Beatriz:
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