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Advogados apontam falha de bancos em relação a Lojas Americanas

Profissionais consideram auditoria insuficiente Publicado em 21/02/2023 – 14:23 Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil – Brasília Agência Brasil — A recuperação judicial das Lojas Americanas envolveu falhas não apenas dentro da empresa. Especialistas em direito empresarial consideram que o rombo, que começou em R$ 20 bilhões e depois subiu para R$ 43 […]

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Tânia Rêgo/Agência Brasil

Profissionais consideram auditoria insuficiente

Publicado em 21/02/2023 – 14:23

Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Agência Brasil — A recuperação judicial das Lojas Americanas envolveu falhas não apenas dentro da empresa. Especialistas em direito empresarial consideram que o rombo, que começou em R$ 20 bilhões e depois subiu para R$ 43 bilhões, poderia ter sido descoberto mais cedo não fossem as falhas nos bancos e na auditoria.

Mestre em direito empresarial e cidadania, o advogado Alcides Wilhelm, com atuação em reestruturação de negócios, fusões e aquisições e Direito Tributário, diz que o elevado endividamento da empresa indica que a provável fraude contábil durou anos. “Ou houve má-fé, fraude, por trás, ou incompetência geral, por todos os lados”, critica.

Segundo Wilhelm, os problemas contábeis vinham de 5 a 10 anos para chegar no valor atual. “Os bancos passaram por cima de regras de compliance [cláusulas de responsabilidade], de análise de risco, de governança. As empresas de auditoria passaram por cima de regras de auditoria. Os bancos, que hoje estão extremamente indignados, também foram causadores, ao permitirem os descontos de títulos [das Lojas Americanas] sem a análise adequada”, avalia.

Em relação à auditoria, o advogado estranha como nunca houve desconfiança do alto volume de empréstimos com bancos numa empresa que tinha lucros elevados. “Quando se audita uma empresa, é necessário verificar se ela continuará existindo. Mesmo que a companhia tenha apresentado números bonitos, caberia à auditoria perguntar por que a Americanas buscava tanto recurso financeiro se apresentava tanto lucro. É uma contradição”. diz.

O advogado Renato Scardoa, que lidera um grupo de médios fornecedores das Lojas Americanas e participou do grupo que redigiu a Nova Lei de Falências, diz que existe um mistério em relação ao caso. “O Grupo Americanas tinha uma dívida alta, mas aparentemente pagável. Estava num fluxo de pagamento aparentemente equilibrado”, ressalta. Mesmo assim, aponta falhas dos bancos e da auditoria e até dos órgãos públicos de fiscalização.

“A gente tem uma participação das instituições financeiras, que não fizeram a análise de risco como deveriam ter feito. Teve uma falha nas empresas de auditoria, certamente. Teve uma falha nos órgãos de controle e de fiscalização. Teve uma falha no conselho fiscal [da empresa], que não conseguiu enxergar isso. E a gente teve atos fraudulentos na contabilidade”, destaca.

Títulos vencidos

Considerada um caso atípico de recuperação judicial por envolver suspeitas de fraude em vez de uma crise comum, a situação atual das Lojas Americanas, segundo os especialistas, não se gerou da noite para o dia. A relação da empresa com as instituições financeiras, apontam os especialistas, merece ser investigada com o mesmo destaque que os procedimentos internos do Grupo Americanas.

Embora ainda não seja possível apontar de onde partiram as ordens para as irregularidades contábeis, Wilhelm disse que as informações divulgadas até agora permitem traçar um fluxo de como o rombo se originou e cresceu com o tempo. Segundo ele, a triangulação entre a empresa, os bancos e os fornecedores que recebiam com atraso é um elemento central das dificuldades financeiras das Lojas Americanas.

Na versão de Wilhelm, tudo começa com o estilo de administração das Lojas Americanas e de outras empresas que estiveram sob o controle do trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Com gestões marcadas pela redução agressiva de custos, as empresas costumam esticar o pagamento a fornecedores, pagando em média com 6 meses de atraso. Em alguns casos, os atrasos se estendiam por até 2 anos.

Com um comitê interno para renegociar as dívidas com fornecedores, as Americanas faziam empréstimos com bancos, num tipo de operação conhecida como risco sacado, onde a empresa repassa o título vencido (uma espécie de promissória) aos fornecedores, que vão aos bancos e usam o documento como lastro para sacar o dinheiro, disse o especialista.

Problema duplo

Os fornecedores conseguiam o dinheiro original, que era registrado como dívida com fornecedores no balanço das Americanas. No entanto, aponta Wilhelm, a partir daí ocorreram dois problemas. Primeiramente, os débitos deveriam ter sido trocados para dívida financeira no balanço após o fornecedor sacar o valor no banco. Além disso, os juros desses títulos vencidos deixaram de ser contabilizados por anos, sendo essa a provável origem da dívida bilionária.

“Essa questão não está totalmente esclarecida, mas a conclusão a que chego é que o fornecedor X vendeu R$ 1 mil para as Americanas. Como a empresa não tinha recursos, ela fazia esse desconto, mas colocava na planilha um título vencido de R$ 1,1 mil, para que o fornecedor pudesse receber os R$ 1 mil da venda. Então, esses juros para cima cuja responsabilidade a Americanas acabou assumindo pode ter gerado esse buraco que não foi contabilizado”, explica Wilhelm.

Outra crítica apontada pelo advogado diz respeito a que as Lojas Americanas repassavam aos bancos a lista de títulos vencidos por meio de uma planilha de Excel, sem que as instituições financeiras se preocupassem com a veracidade dos números. “Qual empresa consegue mandar aos bancos uma planilha Excel, sem segurança nenhuma de que aqueles números batem com as notas fiscais emitidas, com os vencimentos dos títulos?”, questiona. “As instituições financeiras, como sabiam que havia um grupo de bilionários por trás, emprestaram o dinheiro sem o devido cuidado. O mesmo vale para as auditorias”, critica.

Edição: Fernando Fraga

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Comentários

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Pedro Neto

22/02/2023 - 17h39

O problema não é o dinheiro ou capitalismo. O problema está em quem manipula o dinheiro. E o primeiro problema se inicia no desvio de caráter. Coisas simples são transformadas em coisas complicadas apenas para confundir o ignorante(aquele que ignora). Dinheiro serve apenas para pagar, emprestar ou doar. E olha só o que as faculdades de administração, economia e contabilidade(ainda existe?) fizeram! Essas faculdades deveriam ser suspensas por pelo menos 15 anos e transformadas em escolas técnicas. Os atuais professores de faculdades deixam muito a desejar no quesito capacidade técnica. Não se precisa de tanta faculdade assim. Lembro sempre que o primeiro professor de faculdade da História da Humanidade não tinha diploma universitário.

Renato Marcos Endrizzi Sabbatini

22/02/2023 - 13h22

Para mim, é óbvio que foi uma gigantesca fraude por parte dos executivos, que recebem bônus em cima de resultados de lucro. Acharam um jeito de gerar lucros fictícios fraudando a contabilidade, e a auditoria, tanto interna quanto externa, foram cúmplices (porque também ganharam). Quando a coisa estava para estourar depois de anos de impunidade e incompetência, os executivos venderam suas ações com o preço das ações lá em cima. Sairão impunes? Provavelmente. Nos EUA dá cadeia brava esses abusos. Quem se ferrou: todo mundo, menos eles, mas principalmente os fundos de ações muito representados com AME3, e os pequenos investidores. O mercado de ações no Brasil é uma patifaria só, manipulações nunca punidas pela CVM, portanto fáceis de lucrar.

Paulo

21/02/2023 - 23h54

Exato, a minha opinião, como mero palpiteiro, é que se fiaram demasiadamente no triunvirato dos bilionários como garantia. Isso não existe, assim na economia como na vida. Mas, de certa forma, é inevitável. Não se consegue fugir disso no capitalismo. As crises são recorrentes – e a superação também. O triste é que os espertos se locupletam e os inocentes são prejudicados. Minha visão ideal de mundo não é essa. Mas quem sou eu na fila do pão?


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