Gilberto Maringoni: A estranha omissão da equipe econômica

Rovena Rosa/Agência Brasil/Direitos Reservados

Por Gilberto Maringoni

Numa semana excepcionalmente boa para o governo, causa estranheza a omissão dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet em pautar o aumento da meta de inflação na reunião do Conselho Monetário Nacional nesta quinta (16). O órgão congrega, além dos dois, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O gesto desmoraliza o vitorioso combate que o presidente Lula faz à alta dos juros, mostrando a impossibilidade de haver desenvolvimento e emprego se a situação perdurar.

Como se sabe, em sua discutível lógica, o BC define a selic com base no comportamento da oscilação dos preços da economia em relação ao limite definido previamente com a meta. Na alucinação neoliberal em que estamos imersos há três décadas, só existe inflação de demanda.

A fixação da taxa pelo BC serve para comprimir ou estimulá-la. Lógica binária explícita que ocorre não por inépcia, mas por existirem setores rentistas que ganham muito com a política dos juros altos.

Se a omissão é iniciativa dos dois auxiliares do presidente, há uma clara divergência pública na ação do governo. O chefe do Executivo caminha numa direção e é, aos olhos de todos, contrariado por seus subordinados.

Se, ao invés de omissão, tivermos um jogo combinado de morde e assopra– a velhíssima história do “good cop/bad cop” -, a tática pode funcionar uma vez, mas nunca duas. O “funcionar” será aferido na próxima reunião do COPOM, em 21 e 22 de março. Se os juros caírem, o governo terá feito um golaço.

Mesmo assim, se a extrema direita e “o mercado” perceberem que as ações do governo seguirão um jogo pré-definido de soma zero, um futuro enfrentamento contra interesses do topo da pirâmide não será levado a sério por inimigos e mesmo por possíveis aliados.

Gostaria muito de saber o que houve na reunião de 28 minutos entre os dirigentes da política econômica. Talvez exista uma explicação que eu, com minhas limitações, não percebi. Aliás, em reuniões de 28 minutos mal dá para se falar boa tarde e perguntar como vai a família.

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