Sérgio Mendonça , que coordena a negociação com os servidores federais, aponta limitações orçamentárias, mas intenção é reestruturar o serviço e valorizar os servidores
Publicado em 17/02/2023 – Atualizado às 12h08
Por Victor Nuzzi – RBA
CUT — A primeira rodada de negociação entre representantes do governo federal e dos servidores na quinta-feira (16), deu a dimensão do desafio que as partes têm após quatro anos sem qualquer tipo de diálogo, muito menos reajuste, que na maior parte dos casos já dura seis anos. Enquanto as entidades do funcionalismo apontam perdas acumuladas em 27%, o Executivo propõe, neste momento, 7,8% de reajuste aos servidores a partir de março.
Segundo Sérgio Mendonça, secretário de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, que coordena a mesa de negociações, o Executivo pretende “trabalhar nessa direção”, da recomposição de concursos e salários, nos próximos anos.
“O novo governo vai recompor concursos, coisa que os outros governos não fizeram, praticamente. Porque é um governo que acredita no Estado”, afirma Sérgio Mendonça. Ele cita, por exemplo, defasagem de servidores em órgãos como Funai, Ibama, INSS e ICMBio. Além da falta de concursos, o setor público foi perdendo gente devido a aposentadoria. Segundo o secretário, há diminuição de pessoal desde 2017.
Em muitos casos, a consequência é o prejuízo a serviços prestados à população, como no atraso em benefícios. “A questão do INSS é um bom exemplo. É um órgão que vem com um grau de aposentadorias muito grande, embora nos governos do Lula e da Dilma tenha ocorrido concurso – e agora, no finalzinho do governo Bolsonaro, houve uma proposta de mais mil vagas. Mas é um órgão que foi desestruturado”, afirma Mendonça. “Não há dúvida que essa fila que aparece, da concessão de benefícios, é uma expressão direta de um órgão que foi muito enfraquecido e que precisa ser reforçado e reestruturado.”
De acordo com o secretário, o Executivo pretende também “trabalhar na direção”, da recomposição salarial, nos próximos anos, mas ele aponta dificuldades.
“Nós vamos trabalhar nessa direção, mas é muito difícil imaginar um cenário, a não ser que haja uma surpresa muito positiva do ponto de vista do ciclo econômico. (…) Vai depender do arcabouço fiscal e do ciclo econômico. Se tiver uma aceleração do crescimento muito forte, que a gente não tem desde 2014, na casa dos 4% ao ano, aí sim. Porque você não pode desconsiderar que, além da questão do reajuste, vários servidores têm a progressão na carreira pela lei.”
O cenário muda no próximo ano, mas as limitações continuam. “A partir de 2024, evidentemente vai depender a proposta que o governo quiser fazer, mas acredito que estará fortemente alinhado com a proposta sobre o novo arcabouço fiscal”, observa o secretário. Nas discussões que levaram à aprovação da chamada PEC da Transição, hoje a Emenda Constitucional 126, está prevista a elaboração de proposta, pelo governo, de arcabouço fiscal que vai substituir o teto de gastos criado ainda na gestão Temer.
Os salários ficaram congelados nos últimos anos. “A maioria dos servidores está sem reajuste desde janeiro de 2017”, diz Mendonça. Esse contingente representa 80% do total. Outros 20%, desde 2019. Ele lembra que parte da categoria recebeu reajustes nesse período, mas negociados ainda no governo Dilma Rousseff.
Folha corresponde a 3,5% do PIB
Os valores em discussão correspondem a 3,5% do PIB – já chegaram a atingir 4,8%. Só a folha do Executivo civil – objeto da atual mesa de negociação – é de aproximadamente R$ 170 bilhões/ano.
“Estamos trabalhando com os limites orçamentários que já estão dados na lei de 2023″, lembra Sérgio Mendonça. Isso significa R$ 11,2 bilhões para este ano. “E é dentro desse valor que o governo está trabalhando para tentar achar a possibilidade de um acordo com os servidores.” A proposta feita é de 7,8% em março. Em entrevista, a ministra chegou a falar na possibilidade de 9%, mas nesse caso com reajuste em maio.
Volta das negociações
Instalada na semana passada, após hiato equivalente a um mandato e meio, a mesa permanente de negociação envolve em torno de 200 entidades e representa mais de 1,2 milhão de servidores públicos federais – entre ativos (570 mil), aposentados e pensionistas. A próxima reunião está prevista para o dia 28.
No início da semana, a ministra Esther Dweck anunciou o pagamento de dívidas trabalhistas pendentes. Segundo o governo, a medida vai atingir 14.452 servidores. Foram liberados R$ 364,9 milhões do orçamento, a serem pagos no próximo 1º de março. Esses processos tratam de férias, 13º, horas extras, adicionais e aposentadoria, entre outros itens.
Sérgio Mendonça já ocupou função equivalente nos governos Lula (de 2003 a 2007) e Dilma (de 2012 a 2016). Tem experiência não só na questão da máquina pública, mas na relação com os sindicalistas, já que foi diretor técnico do Dieese durante 13 anos.
Edição: Rosely Rocha
Paulo
17/02/2023 - 21h56
Vou dar um desconto ao Governo Lula, neste início, pois sei que o cenário é realmente desalentador. O Vagabundo-mor, que sempre viveu dos cofres públicos; e Porco Guedes, que também mamou no BNDES, mas odeia o servidor público desde que nasceu, espoliaram os barnabés a mais não poder, seja suprimindo renda, seja desautorizando reposição. Trabalharam nas duas frentes. Mas peço só uma coisa: parem de procrastinar aposentadorias, seja no Regime Geral, seja no Regime Próprio!
Zulu
17/02/2023 - 21h25
Os serviços públicos são uma vergonha em termos de competência, respeito ao usuário, agilidade, etc… merecem é uma palmada na orelha pra ver se acordam e não um aumento.
Mas é óbvio que não poderia se perder a chance de dar um dinheirinho aos funcionários Públicos para agradecer do voto…
Alexandre Neres
17/02/2023 - 19h46
Mesmo em cenário de terra arrasada, em primeiro ano de governo cheio de nós a desatar e de bombas a desarmar, o governo recém-empossado promoverá reposição salarial aos servidores do Executivo depois de longo e tenebroso inverno e retomará concursos para oxigenar carreiras que estão definhando, ao tempo em que restabeleceu a interlocução com a categoria que deixou de existir no decorrer dos governos ultraliberais.