Para economistas os 13,75% de taxa de juros fixada pelo Banco Central, chefiado por bolsonarista, é um entrave à proposta de crescimento da economia de Lula. Índice prejudica empresários e trabalhadores
Publicado em 14/02/2023 – Atualizado 09h14
Por Rosely Rocha – Central Única dos Trabalhadores – Notícias
CUT — Desde que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou no início deste mês de fevereiro, que a taxa básica de juros do país, a Selic, ficará em 13,75% ao ano, o maior patamar desde janeiro de 2017 no país e o maior do mundo, o presidente Lula (PT) tem criticado essa decisão dizendo que assim não é possível o país crescer.
O presidente Lula não está sozinho nas críticas ao presidente do BC Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL) e que teve o seu nome aprovado pelo Congresso Nacional, após o banco ter se tornado independente do governo federal. As críticas vieram também da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e de diversos economistas como André Lara Resende, um dos “pais” do Plano Real, e de Luiz Gonzaga Belluzzo, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Leda Paulani, entre outros. Para eles, a taxa de juros trava o crescimento do país. Veja abaixo o que eles disseram sobre a Selic.
Outro crítico da decisão do Copom é o economista e professor da PUC de São Paulo, Ladislau Dowbor. Para ele, o presidente Lula tem toda razão em entender que a taxa de juros impede o crescimento do país e a geração de empregos.
A taxa de juros do Banco Central nada mais é do que apropriação indébita porque tira entre R$ 600 a R$ 700 bilhões ao ano de dinheiro público
“É dinheiro dos impostos do povo brasileiro utilizado para pagar títulos da dívida pública, impedindo que o governo federal invista em políticas públicas como aberturas de estradas, construção de escolas e moradias populares, entre outras. Você drena a capacidade do Estado de fazer políticas sociais e de infraestrutura”, acrescenta o economista.
Segundo Dowbor, a taxa Selic ficar neste patamar só interessa a um por cento da elite econômica do país que compra títulos do governo para investimentos (a arrecadação dos governos depende de impostos recolhidos e parte de títulos vendidos no mercado), e a cerca de 10% da classe média que têm aplicações financeiras, pois com a alta dos juros vale mais a pena deixar o dinheiro aplicado em algum título do governo do que abrir uma empresa e gerar empregos. São os chamados rentistas que vivem dos juros de suas aplicações.
Pelas contas do economista, o custo dos juros do BC ao governo federal daria para pagar dez vezes mais a 50 milhões de pessoas que dependem do Bolsa Família de R$ 600 e mais R$ 150 por cada criança de até seis anos de idade.
“O Bolsa Família custa ao ano cerca de R$ 65 bilhões, dez vezes menos do que o pagamento de juros. O comprometimento do PIB [Produto Interno Bruto] com o pagamento de juros é 6,5% enquanto o Bolsa Família compromete apenas 1,5%”, compara Dowbor.
Outro ponto abordado pelo economista é que não há justificativa técnica para se manter os juros em 13,75% pois não há excesso de demanda para que o consumo cause inflação. A inflação prevista pelo BC para 2023 é de 3,5% com variação de 1,5% para cima ou para baixo.
“A economia do Brasil parou de crescer em 2014 e o que fizeram no final de 2016 [ano do golpe contra Dilma] foi puxar a taxa de juros pra cima. A dívida pública cresceu 82% nos governos de Michel Temer (MDB) e Bolsonaro. Por isso é desnecessário manter esse patamar para combater a inflação, já que esses governos não investiram para que a economia crescesse.
Dowbor chama a atenção para os dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que mostram que de janeiro de 2021 a janeiro de 2023, o Banco Central subiu os juros da Selic em 587,50%. Saiu de 2% para 13,75% ao ano. Neste mesmo período a taxa de juros média para pessoa física subiu de 92,59% para 123,96% ao ano. Confira aqui a tabela.
Os interesses do mercado financeiro
O professor da PUC explica que aliado à alta da Selic nos dois últimos governos, os juros cobrados pelos bancos privados que chegam a 410% no cartão de crédito ao ano, estrangularam a capacidade de compras das famílias (79% estão inadimplentes e 30% em bancarrota); e os investimentos de empresas. Isso é mais um componente que não justifica os juros de 13,75% praticados pelo BC.
“O empresário não tem crédito para investir e mesmo que tivesse ele evita, pois não tem quem compre o seu produto tal o grau de endividamento das famílias, impedindo a geração de empregos”, pondera.
Dowbor conta que em 2003 no primeiro mandato do governo Lula, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de José Serra (PSDB-SP), foi aprovada e eliminou o artigo 192 da Constituição que permitia ao governo federal interferir nos juros praticados pelos bancos privados.
“Muitos congressistas têm dinheiro aplicado e para eles interessa a alta da Selic, o que inviabiliza o governo Lula de poder interferir nos juros cobrados pelos bancos privados”, diz.
Ele ressalta ainda que nos anos de 2012 e 2013, Dilma diminuiu os juros cobrados pela Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco do Brasil (BB), o que fez parte da população migrar dos privados como Bradesco, Santander, Itaú e outros para os bancos públicos, atraindo a ira da elite econômica.
“Esse é o momento que começaram a articular o golpe que culminou em 2016. Hoje apenas cinco bancos detêm 85% do crédito do país. É um cartel que prática agiotagem”, diz.
Taxa ideal de juros
Segundo Ladislau Dowbor, a taxa de juros ideal seria a de 1% a 1,5% ao ano mais a inflação, média do que é cobrado pelos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
O economista cita como exemplos os juros cobrados para pessoa jurídica (empresas) em países europeus que ficam em torno de 2,5% a 4% ao ano. Na China os juros para pessoa física são de 4,6% ao ano com uma inflação de 2%. Já no Canadá o juro do cartão de crédito rotativo chega no máximo a 11% ao ano.
“ O Santander cobra na Espanha zero por cento de juros para quem pede empréstimos de até 5 mil euros a serem pagos em seis meses. Aqui no Brasil chega a 100% no mesmo período”, conta o economista.
As críticas de Dilma e economistas ao Banco Central
A ex-presidenta Dilma Rousseff disse que a atual taxa de juros, de 13,75% ao ano, o que significa uma taxa real de 8% acima da inflação, condena o Brasil a “uma depressão, um momento de perda de renda, de emprego”.
“Quando o presidente Lula questiona as taxas de juros, ele está defendendo o futuro do seu governo. Então, portanto, nós temos de entender e defender o governo”, disse Dilma.
O economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real também criticou a taxa de juros básica. Segundo ele, o índice de 13,75% está profundamente errado.
“Faz sentido nesse contexto você ter uma taxa de juros que há dois anos nesse nível? Claramente não. Os objetivos do Banco Central, determinados na lei que deu autonomia ao Banco Central são o controle da inflação, a estabilidade do sistema financeira e a garantia do pleno emprego. Obviamente essa taxa de juros de 13,75%, é incompatível com esses objetivos. Ela está errada”, disse.
Os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Monica de Bolle, Luciano Coutinho, Nelson Marconi, Leda Paulani, Antonio Corrêa de Lacerda, Clélio Campolina, Paulo Nogueira Batista Jr. e Lena Lavinas são alguns dos nomes que participam de um movimento no qual defendem, por meio de um manifesto divulgado no último sábado (11), a “razoabilidade” da taxa básica de juros, a Selic. Publicado como abaixo-assinado na plataforma Change.org, o texto tinha mais de 2.800 assinaturas até o início da tarde desta segunda-feira (13).
No texto, os economistas dizem que “a eleição de outubro renovou as esperanças de que o Brasil possa reencontrar os caminhos para a estabilidade política e um lugar respeitável no mundo. O Brasil precisa de paz e de perspectivas. O mundo precisa da estabilidade do Brasil”. Os signatários afirmam que “a superação dos desafios brasileiros só pode ser alcançada com uma nova política econômica, promotora de crescimento e prosperidade compartilhada”.
Editado por: Marize Muniz
Luiz Cláuddio Fonseca
15/02/2023 - 22h05
Pro sujeito ser “revolucionário” só falta dizer que a desoneração da folha de pagamento é corrupção e que genocídio é saneamento.
EdsonLuíz.
14/02/2023 - 17h58
▪▪e mais ▪, com alguns ●juntos!
… E como o que faz a taxa de juros ser alta são
▪Políticas fiscais irresponsáveis baseadas no estímulo ao consumo;
▪Liberação de gastos extras fora do orçamento por meio de PEC’s além do necessário para o que é realmente emergência, como para combater a fome;
▪Financiamento de empresários “coleguinhas” de Clube de Corrupção (moralismo meu?);
▪Gastos e gastos e mais gastos sem exigir nem mesmo a elaboração de um projeto executivo e com nenhum acompanhamento e avaliação da qualidade e resultado desses gastos…
… o Banco Central NADA PODE FAZER para resolver os motivos de a taxa de juros estar alta no Brasil; só quem pode tomar as medidas necessárias e que sejam fiscal e orçamentariamente RESPONSÁVEIS para que a taxa de juros caia é LULA e seu governo.
E até agora Lula e seu governo
▪Disputaram a eleição sem um projeto de governo;
▪Ganharam e passaram toda a transição de governo sem providenciarem um projeto que eles já deviam ter quando estavam disputando;
▪Assumiram em janeiro e até agora NADA de eles apresentarem um Projeto de Governo que permita que a taxa de juros caia e a economia do Brasil cresça.
■Desse jeito:
▪O Presidente da República faz merda na economia; o Banco Central limpa!
▪O Presidente da República se mexe para INVENTAR crescimento econômico “CLOROQUINA”, que só serve para a imagem e o culto fanático a ele crescer e não serve para o Brasil crescer ; o Presidente do Banco Central aumenta a taxa de juros para imunizar o Brasil dessa “Política Econômica Cloroquina”.
●No governo Bolsonaro o atual presidente do Banco Central fez assim :: Bolsonaro “inventava” gasto para “inventar” crescimento econômico forçado e insustentável; o Roberto Campos Neto subia a taxa de juros para anular as invencionices de Bolsonaro.
●No governo Lula3 vai ser a mesma coisa:: Lula vai ficar querendo repetir a enganação que fez no governo Lula2 e Dilma1e2 e suas políticas econômicas “CLOROQUINA” aumentando gastos de forma irresponsável para fingir que o Brasil está crescendo (e como é crescimento fingido, lá na frente a economia vai desabar novamente, como desabou de 2013 para cá e até hoje não levantou) e o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto vai se mexer para vacinar a economia brasileira dessa doença que o Brasil começou a espalhar desde 2006/2007, que é a doença de gastar o dinheiro que não tem para fingir crescimento econômico e obrigar o presidente do Banco Central a adotar uma “Política Monetária CLOROQUINA” de derrubar a taxa de juros na marra.
●Eu DUVIDO que Lula e o PT consigam obrigar Roberto Campos Neto a adotar a mesma Política Monetária Cloroquina que eles implementaram no Brasil junto com a mesma CLOROQUINAGEM que faziam na Política Fiscal.
●Lula e o PT fizeram isso em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014(aqui a recessão econômica explodiu e deu em desemprego). Em 2018 as consequência dessas cloroquinagens econômicas petistas deu em Bolsonaro, que é a própria cloroquina, e com Bolsonaro até o aumento da fome veio:: o aumento da fome no Brasil é uma soma de Lula+Dilma+Bolsonaro.
●Se Roberto Campos Neto não se submeteu à “Política Cloroquina” de Jair Bolsonaro, o que leva alguém a pensar que ele vai se submeter à CLOROQUINICE do PT e de Lula?
Zulu
14/02/2023 - 16h36
Faltava só a CUT nessa palhaçada, o circo está ao completo.
Quem vai salvar o Brasil dos brasileiros e quando … alguém sabe ?
Luiz Cláudio Fonseca
14/02/2023 - 16h34
Alguém terá a coragem de propor o controle rígido do juro, talvez acompanhado da emissão de moedas, da correção monetária mensal e de uma URV cíclica? Outra alternativa para o controle do juro seria a absorção rápida pela sociedade, já que o tempo é a questão, da utilidade social do investimento, quer dizer, o uso da tributação sobre toda e qualquer forma de enriquecimento rápido. Tributar dividendos na fonte progressivamente deveria significar que se é possível diminuir a tributação sobre o dinheiro que passa mais tempo investido, então deveria ser possível aumentar a tributação sobre o dinheiro que aufere lucro mais rápido. Maior lucro em menos tempo, maior tributação, progressiva em relação à origem, sem bitributação (evita “pirâmides). Dessa forma, a variável “tempo” faz a política fiscal contribuir desde logo para a política monetária. A democracia é um artigo de luxo, o Estado de Direito paga um preço alto quando não entendemos isso.