Publicado em 13/02/2023
Por Flávia Ribeiro e Rafael Veras (G-Stic)
Agência Fiocruz de Notícias — Os desafios de cooperação internacional, as oportunidades para a transição de uma economia de baixo carbono e as lições aprendidas com a pandemia do Covid-19 foram alguns dos temas que orientaram os debates após a primeira plenária da 6ª Conferência Global de Inovação e Sustentabildiade (G-Stic 2023), que começou nesta segunda-feira (13/2) e vai até o dia 15 de fevereiro no Expo Mag no Rio de Janeiro. O evento, que tem a Fiocruz como coanfitriã, reúne cerca de 200 palestrantes e promete ser um catalisador de diálogos e espaços de compartilhamento de conhecimento entre especialistas, profissionais da área de inovação e sustentabilidade, academia, estudantes, governo, setor privado e sociedade civil.
O primeiro dia de plenárias e debates do G-Stic evidenciou como questões relacionadas à ciência, desenvolvimento de tecnologia e modelos de produção mais sustentáveis são cada vez mais interdependentes. O lema Não deixar ninguém para trás criado em 2015 pela ONU, que passou a guiar a implantação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), orientou o debate em diversos momentos.
O presidente em exercício da Fiocruz, Mário Moreira, destacou que a América Latina tem um alto potencial de desenvolvimento científico, e que a transferência de tecnologia social é uma das grandes contribuições que o Brasil dar dentro do cenário global atual. “A Fiocruz participa da discussão sobre tecnologia e inovação na Agenda 2030 de forma ativa e é reconhecida como hub da Organização Mundial da Saúde [OMS] para desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia RNA mensageiro na América Latina”, comentou.
Mario Moreira frisou ainda a importância da discussão global sobre os direitos de propriedade de vacinas, que a Fiocruz entende ser um bem público. Cerca de 4,5 milhões de mortes no mundo podem ser evitadas se houver uma transição para uma economia de baixo carbono, evitando o aumento de doenças pulmonares em função da poluição.
Em seu discurso de abertura na G-Stic, a ministra da Saúde e ex-presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, corroborou a ideia defendida por Mário Moreira. Para Nísia, a inovação precisa estar a serviço de todos. “Nosso desafio é fazer com que o valor da equidade ocorra também no campo da ciência, tecnologia, inovação e para que essa inovação esteja efetivamente a serviço de sistemas de saúde mais econômicos”, afirmou.
“Quase oito anos após a comunidade mundial ter adotado a Agenda 2030 e os objetivos de desenvolvimento sustentável a ela associados, os desafios permanecem. Ainda há muito a avançar. Os serviços essenciais de saúde estão fora do alcance de pelo menos 50% da população mundial. Pelo menos 2,4 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento adequado. Cerca de 840 milhões de pessoas permanecem sem acesso à eletricidade. Quase 700 milhões de pessoas não têm acesso à água potável. É muito importante demarcarmos esses dados, uma vez que, segundo declarou a organização mundial de saúde, água potável e vacina foram as grandes inovações responsáveis pelo aumento da expectativa de vida. Sem uma visão sistêmica sobre todos esses dados, seria muito difícil alcançarmos objetivo de não deixar ninguém para trás”.
Futuro igualitário e sustentável por meio de mais colaboração entre países
A sessão plenária Rumo a um futuro igualitário e sustentável foi inaugurada com discurso do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, que destacou a importância da cooperação entre países, para incremento da equidade e sustentabilidade em uma conjuntura global crescentemente desafiada por eventos extremos. Adhanom participou da plenária por videoconferência diretamente de Damasco, na Síria, onde visita regiões afetadas pelo terremoto que devastou o país nos últimos dias.
“A pandemia eliminou mais de 40 anos de progresso na saúde e colocou milhões de pessoas na linha da extrema pobreza em 2020. Isso evidencia a importância de desenvolvermos sistemas de saúde mais resilientes. A pandemia mostrou a todos o tamanho das nossas vulnerabilidades na medida em que uma crise de saúde pode escalar rapidamente para uma crise econômica, uma crise social e uma crise política. Pelo menos 24 milhões de crianças correm risco de não voltar nas escolas. E as metas relacionadas a saúde seguem em uma situação muito grave”, complementa.
Adhanom ressaltou que frente a desafios como o da atual conjuntura, torna-se ainda mais crítico que os países unam esforços em busca da erradicação de doenças, orientando esforços no desenvolvimento dos sistemas de atenção primária de saúde, na execução de planos de resposta rápida à situações de emergência, e na realização de parcerias que possam desenvolver a ciência com o objetivo de salvar vidas. “Precisamos aumentar o poder da inovação e aumentar a cooperação entre todos, com base nos principais da equidade, para acelerar a agenda dos ODS”, acrescenta Adhanom.
A chefe adjunta da delegação da União Europeia (UE) no Brasil, Ana Beatriz Martins, por sua vez, propôs a discussão de um novo acordo para a economia verde, que chamou de “green new deal” a fim de acelerar o alcance aos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) e consequentemente a neutralidade em carbono até 2030. “Se formos capazes de chegar a esse new deal, a competitividade da Europa vai crescer. Nosso desafio é compreender como vamos desenvolver as inovações e as tecnologias que levarão a esse desenvolvimento com a devida justiça climática e com o apoio de todas as autoridades globais e parcerias internacionais em um mundo pós-pandemia do Covid-19”.
Paulo Gadelha, ex-presidente da Fiocruz e atual coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), comemora o retorno do Brasil a uma posição de protagonismo nas discussões da Agenda 2030. “Estamos em um momento muito crítico no mundo em que as tendências que já existiam no modelo global de desenvolvimento não sustentável foram intensificadas pelo mesmo processo de exacerbação da questão climática, pela experiência da pandemia e ao mesmo tempo pelo incremento de fatores como as guerras e a diminuição do multilateralismo”, afimou. “A pandemia atingiu todos os processos globais com reflexos sobre a renda e as condições de vida. Precisamos vencer o quadro de extrema iniquidade no acesso às vacinas e garantir maior distribuição da capacidade local de inovação e produção para haver uma resposta rápida e eficaz das demandas globais. É isso que vai nos levar à soberania sanitária”.