Por Fernando Brito
O domínio do “mercado financeiro” sobre o pensamento econômico brasileiro é algo impressionante.
Essa história em torno da tal “moeda comum” com a Argentina – e não há nada de “moeda” do que se pretende – é tratada como uma “aventura”, quando é uma imposição diante das perdas que o Brasil vem sofrendo com o comércio com seu terceiro maior parceiro comercial e, além disso, o que mais nos compra mercadorias de alto valor agregado, os bens manufaturados, cuja repercussão interna na economia do país é, evidentemente, muito maior.
Qualquer olhar, mesmo superficial, sobre nossa corrente de comércio com os argentinos deveria deixar o “mercado” de cabelo em pé, se este olhasse para o Brasil como algo além de exportador de commodities.
O gráfico aí de cima, publicado pelo Valor, mostra isso para qualquer um.
Em dez anos, de 2011 a 2021, as exportações brasileiros para los hermanos caíram US$ 10 bilhões, perdendo a metade de seu valor. E não se diga que é só a crise da economia argentina a responsável por isso. A participação dos chineses no mercado de importação portenho subiu 50%, enquanto a nossa fatia caía 33%.
E isso com a desvantagem da distância: 2 mil km contra 20 mil km, apenas isso, a distância de São Paulo a Buenos Aires e desta cidade a Beijing.
Toda esta história está sendo facilitada com um nome incorreto, o de “moeda”, quando se trata de uma espécie de “câmara de compensação” entre os dois países, que assegure – para quem compra e para quem vende – uma relativa estabilidade dos valores através de um colchão cambial e o oferecimento de garantias reais, em mercadorias, que evitem oscilações abruptas causadas no câmbio livre.
É bom negócio para os argentinos – com moeda fraca – e para nós, que realizamos vendas industriais fracas para eles. E a exportação, apesar de tudo, ainda representa 20% da receita da indústria brasileira de máquinas e equipamentos.
A iniciativa é menos, muito menos, do que as vantagens de crédito oferecida pelos chineses, operando crédito em sua própria moeda, o Renminbi.
Texto publicado originalmente no Tijolaço