Por Gilberto Maringoni
ATÉ A NOITE DA SEGUNDA-FEIRA (16), pode-se contabilizar sete ataques a torres de transmissão de energia no Paraná, São Paulo e Rondônia. Todos aconteceram após o terror fascista de 8 de agosto, em Brasília e nenhum resultou em interrupção no fornecimento de energia. Até aqui, as forças de segurança não têm pistas dos criminosos. Detalhe: nos três estados, Jair Bolsonaro saiu-se vitorioso em 30 de outubro.
Examinando a sequência de atentados, fica difícil entender a destruição das sedes dos três Poderes como uma tentativa clássica de golpe. Vamos combinar que, por mais violentos que fossem as depredações – e mesmo se houvesse GLO, como sugeriu José Múcio ,- dificilmente a extrema direita conseguiria derrubar o governo naquele dia. A reação interna – incluindo as manifestações populares – e externa foi fulminante. Não vai aqui uma subestimação do inimigo, mas a tentativa de entender qual o roteiro desenhado pelo inimigo e suas táticas sediciosas.
PENSANDO ALTO, VAMOS ENUMERAR:
- O TERROR EM BRASÍLIA – ao contrário dos golpes de 1964 e 2016 – entre outros pelo mundo – não foi precedido de nenhuma ação política visando ampliar as bases de apoio ao fascismo. Ao contrário, a ação mereceu condenação popular ampla (como mostrou o Datafolha);´
- PARECE POUCO CRÍVEL que alguém dê golpe atacando de uma só vez e em bloco os três poderes. Se o golpe visasse derrubar Lula, a direção do ataque principal seria o palácio do Planalto. Ao fazer uma investida atabalhoada às sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário, até mesmo um bolsonarista de ocasião, como Arthur Lira, fica obrigado a condenar o terror;
- GOLPE SE DÁ A PARTIR DE ALGUM PROJETO, mesmo que tosco. Os golpistas de1964 tinham projeto, os picaretas de 2016 também, idem os que derrubaram Evo Morales em 2019. Agora a meta é colocar os coturnos de volta no planalto, com boquinhas para a família militar, e pedir a volta de Paulo Guedes? Detalhe: apesar do apoio expressivo, foi derrotado nas urnas;
- SE CONSIDERARMOS tentativa de golpe o que houve no dia 8, temos de completar o raciocínio e afirmar que ele foi derrotado pela prisão de cerca de 1500 criminosos e que o inimigo está desorganizado.
Neste último item está uma questão chave: não me parece que o ataque tenha sido derrotado. Os mandantes militares, a família militar e as instituições militares estão até aqui limpas. Não se pode cantar vitória quando apenas a arraia miúda e um governador pagarão o pato.
O que parece haver é algo mais sofisticado, um processo ou sequência de agressões muito violentas para produzir um efeito de choque e pavor – shock and awe – para deixar a sociedade em permanentre sobressalto. A cada semana ou quinzena, uma propriedade pública será atacada: um palácio, uma torre de transmissão, uma adutora de água etc, numa dinâmica de geurrilha de desgaste permanente do governo Lula.
Isso não é novo: todo o governo Bolsonarocom sua sucessão de ameaças, chantagens, iniciativas dentro e fora do Congresso se fez no sentido de acabar com qualquer lógica cartesiana de ação política. O objetivo sempre foi o de nos desnortear para se manter na ofensiva. Agora na oposição, os talheres são outros, mas o padrão continua.
É uma espécie de golpe em processo, ou golpe in progress. Que não para por aqui.
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