O IBGE divulgou ontem o índice oficial de inflação (IPCA) para o mês de novembro. Com isso, já podemos examinar a inflação durante os quatro anos do governo Bolsonaro.
A inflação é considerado um dos índices mais determinantes da aprovação de um governo e, portanto, de suas chances de reeleição.
No livro A Mão e a Luva, dos cientistas políticos Alberto Carlos Almeida e Tiago Garrido, eles estudam o processo que levou a vitória ou derrota de todas as forças políticas desde a redemocratização, e a conclusão é que o elemento mais importante tem sido justamente a… inflação.
FHC perdeu para Lula em 2002 por causa do descontrole inflacionário. E o PT venceu quatro eleições consecutivas porque levou adiante iniciativas bem sucedidas de combate à inflação.
Bolsonaro por pouco não se reelege este ano, aliás, porque a inflação começou a cair sensivelmente nos meses que antecederam as eleições. Hoje está mais claro que boa parte dessa queda foi artificial, criada a partir de uma redução forçada no preço dos combustíveis, que já produziu um rombo recorde no tesouro de estados e municípios.
Uma inflação relativamente baixa, para os padrões brasileiros, precisa estar em um dígito. Entretanto, para se avaliar corretamente o impacto da inflação sobre a economia real das famílias é preciso olhar, sempre, para a evolução do poder aquisitivo do trabalhador.
É nesse sentido que o governo Bolsonaro é um dos piores da história. O trabalhador brasileiro perdeu renda durante a sua administração.
E perdeu renda porque não houve reajuste de salário, o desemprego se manteve elevado e as vagas criadas foram de empregos de baixa remuneração.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) fez a comparação dos preços relativos do botijão de gás na média de janeiro a outubro de 2019 a 2022.
Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, um salário mínimo comprava 14,4 botijões de gás. Já em 2022, último ano de Bolsonaro, e apesar do esforço em reduzir artificialmente os preços às vésperas das eleições, o brasileiro podia comprar apenas 10,7 botijões.
Em suma, o brasileiro ficou mais pobre durante o governo Bolsonaro.
Entretanto, como sempre acontece em sociedades extremamente desiguais, a compressão da renda dos trabalhadores mais pobres, além do aumento do desemprego, reduziu o custo da mão de obra, beneficiando as classes mais abastadas, que vivem de explorar o trabalho alheio. A empregada doméstica e o operário tiveram de cobrar menos, para felicidade da patroa e do patrão.
Bolsonaro ofereceu o melhor dos mundos para alguns setores abastados: uma inflação relativamente controlada e uma atmosfera de forte opressão econômica e política – via desemprego e salários em declínio – sobre os trabalhadores mais pobres, gerando taxas de lucros mais elevadas para quem domina os meios de produção.
Mais uma vez: não foi a tôa que a eleição presidencial ganhou um aspecto fortemente classista, com os mais pobres votando em Lula e os mais ricos, em Bolsonaro.
Vejamos os números divulgado há alguns dias pelo IBGE. A inflação de novembro ficou em 0,41%, contra 0,59% em outubro e 0,95% em novembro de 2021.
No acumulado de 12 meses, a inflação ficou em 5,9%.
São taxas de inflação relativamente baixas, pelo menos para os padrões nacionais.
Depois dos gráficos, eu continuo.
No último gráfico, com a inflação média em 12 meses desde janeiro de 2003, a gente pode tirar algumas lições políticas. Os tucanos perderam as eleições presidenciais em 2002 porque não estavam conseguindo controlar a inflação. O PT manteve uma popularidade elevada enquanto manteve a inflação sempre abaixo de 10%. A atmosfera para o impeachment, porém, aconteceu exatamente quanto a inflação estourou os 10%, em 2015. No caso, houve um movimento artificial para elevar a inflação, porque as elites tinham decidido dar um golpe em Dilma Rousseff, e nada melhor do que inflação alta para derrubar sua popularidade. Bolsonaro, por sua vez, perde as eleições em 2022 também porque, dentre milhares de outras razões, não conseguiu controlar a tempo um movimento inflacionário, que fez o índice de 12 meses do IPCA atingir quase 12% em junho de 2022. Foi uma inflação muito alta, numa data muito próxima da eleição de outubro.
O principal desafio de Lula, cuja diplomação oficial como presidente da república está marcada para esta segunda-fera 12 de dezembro, é o mesmo de todos os governos progressistas dos últimos 100 anos: promover crescimento econômico sem gerar inflação. Para isso, uma das iniciativas mais importantes será retomar o controle do preço da energia, insumo básico que, agora está claro, determina o custo de todos os produtos brasileiros.