Por Felipe Nunes
A partir de hoje vamos começar um novo ciclo de trabalho para decifrar as prioridades da população, que deveriam orientar o futuro governo eleito. A pesquisa Genial/Quaest, ‘O Brasil que queremos’, terá 3 etapas. A primeira, publicada hoje!
Na avaliação dos brasileiros, resolver os problemas econômicos do país deveria ser prioridade absoluta do próximo governo (25%), seguido pela busca de soluções para as questões sociais (20%) e para os problemas de saúde que enfrentamos (16%).
Na economia, investir em políticas para gerar emprego (24%) e controlar a inflação (23%), devem ser prioridades para o próximo governo. A diminuição dos impostos (18%) aparece como prioridade também, assim como a facilitação de crédito para pequenas e médias empresas (9%).
No campo político, a expectativa da população é que haja mais conflito entre o governo e o Congresso (47%), comparado ao que vimos no governo Bolsonaro; mas que tenhamos menos conflitos entre o governo e o STF (46%).
A população também espera que no governo Lula a imagem do Brasil no exterior melhore (43%). A ida de Lula à COP e as conversas dele com líderes internacionais são provas da boa vontade do mundo com o país sob nova direção, indo ao encontro do que esperam os brasileiros.
Quando o assunto é corrupção, as opiniões se dividem: 34% acham que no governo Lula a corrupção tende a aumentar, enquanto 30% acham que ela tende a diminuir. Há outros 28% que acham que vai continuar tudo igual, para o bem e para o mal.
Chama atenção como essas opiniões estão ‘contaminadas’ pela posição política de cada. Eleitores de Lula acreditam que a corrupção diminuirá, eleitores de Bolsonaro acham que ela vai aumentar. Sugerindo que possa haver um raciocínio motivado em todas essas opiniões.
Na economia, o otimismo que vinha sendo formado a partir da esperança de cada um dos lados de que venceria a eleição, deu lugar a um certo temor de que as coisas podem piorar nos próximos 12 meses. Caiu de 75% para 48% quem dizia que a economia ia melhorar.
Essa mudança abrupta de expectativa foi produzida pelos eleitores derrotados que estavam otimistas com a possibilidade de Bolsonaro continuar a frente do governo federal. Entre eleitores de Bolsonaro, o otimismo com a economia caiu de 81% para 30%, é quase um luto coletivo.
Segundo a pesquisa, 90% dos brasileiros acredita que o país saiu desta eleição dividido. Como o novo governo pode governar com tamanha cisão social?
Lula contará, em primeiro lugar, com uma torcida quase unânime para que seu governo dê certo: 93% dos brasileiros torce para que ele faça um bom governo. Já é um bom começo.
Lula também vai contar com uma base forte, mesmo que heterogênea. A avaliação até aqui é a de que Lula está se saindo melhor do que 41% dos brasileiros esperava, enquanto apenas 24% acham que ele está pior do que eles imaginavam.
Como já mencionado, essas opiniões estão muito contaminadas. O apoio de quem votou em Lula chega a 69%, e a avaliação negativa de Lula até aqui entre eleitores de Bolsonaro chega a 49%. Ou seja, no começo, Lula deve tentar governar para entregar o prometido para a sua base.
Bolsonaro, por sua vez, se mantém como uma figura importante, forte e polarizadora do jogo. Diante do resultado das eleições, Bolsonaro se comportou bem para 41% dos entrevistados e mal para 45%.
O comportamento que não agradou as pessoas e que deve estar aumentando a rejeição do presidente Bolsonaro foi o questionamento do PL (seu partido), com o seu aval, sobre os resultados da eleição.
Quando segmentamos o dado vemos que: (1) o eleitorado de Lula inteiro desaprova o comportamento de Bolsonaro, e (2) 1/4 do eleitorado dele desaprova o questionamento das eleições. Ou seja, esse caminho tem altos custos para Bolsonaro, embora mantenha sua base.
No conjunto da obra, no último retrato, Bolsonaro termina seu mandato com 36% de avaliação positiva, 24% de avaliação regular e 38% de avaliação negativa. Ou seja, o presidente termina seu governo com um saldo negativo frente a opinião pública.
A pesquisa mostra que essa avaliação negativa foi mesmo consolidada durante a pandemia. Para a maioria dos brasileiros, a pior área de atuação do governo foi na saúde/pandemia (31%). Em compensação, Bolsonaro não conseguiu consolidar uma marca de trabalho positiva.
O levantamento ouviu 2.005 pessoas em 120 municípios das 5 regiões do país entre os dias 2 e 6/dez. A margem de erro é de 2 pontos percentuais e o nível de confiabilidade de 95%.
Felipe Nunes é PhD em Ciência Política, professor da UFMG, especialista em pesquisa de opinião e diretor da Quaest