Por Fernando Brito
Leitura das mais importantes dos jornais de hoje é a do artigo de João Camargo, presidente do think tank empresarial Esfera Brasil, na Folha de S. Paulo, mostrando que, finalmente, aparecem grupos na elite de negócios brasileira mais preocupados em ganhar dinheiro do que em exercitar ódios e preconceitos políticos.
Camargo propõe a questão direta e indispensável:
“Desafio qualquer liderança a vir a público para dizer que seu setor perdeu dinheiro durante os dois mandatos do petista. Isso não aconteceu. Ao contrário, todos ganharam.“
Embora seja curioso que esta seja uma razão para achar Lula “democrático”, ao menos é uma das raríssimas vezes em que a elite assume o óbvio: Lula jamais lhes foi um prejuízo. Ao revés, foi uma oportunidade de ganhos econômicos advindos do aumento do volume de negócios e não, simplesmente, da pura e simples apropriação da riqueza do país pelo capital.
Camargo, é claro, como qualquer líder empresarial, quer sinalizar uma posição de interlocutor da categoria com o governo e isso é naturalíssimo nos momentos de formação de governo. Mas tem a virtude de falar com clareza aos seus pares, tão pródigo em mimimis sobre o tal “mercado” que a tudo torce o nariz quando vem de Lula, sem que nunca o tivesse feito diante de desastres como Paulo Guedes.
“Não temos mais espaço para erros. O brasileiro escolheu Lula, e o empresariado, insisto, precisa apoiar e fazer o que estiver ao seu alcance para que seu governo seja exitoso, inclusive pedindo ao Congresso para viabilizar a adoção das políticas sociais do presidente eleito.
A PEC da Transição precisa ser aprovada pelo Parlamento, de maneira a garantir, por quatro anos, o Bolsa Família com renda de R$ 600 fora do teto dos gastos. Num cenário desolador como o atual, em que o Brasil voltou ao mapa mundial da fome, seria desumano qualquer decisão que colocasse em risco a segurança alimentar do brasileiro. Tentar colocar uma espada sobre o pescoço do futuro presidente, negando-lhe esse mínimo, seria atentar não contra ele, mas contra a parcela mais vulnerável da nossa sociedade.”
Convenhamos: quando vemos o jornalismo econômico pintar uma imaginária hecatombe na economia pela exclusão do teto daqueles recursos necessários a mitigar a fome de multidões de brasileiros, não é pouca coisa que um líder empresarial afirme o óbvio.
É só o que se pede a eles, que ganhem dinheiro com a riqueza, não com a pobreza.
Texto publicado originalmente no Tijolaço