Tinha tudo para dar errado – e deu.
A extrema-direita brasileira importou dos EUA a obsessão doentia por armas e agora estamos às voltas com mais um massacre a tiros em uma escola, desta vez na cidade de Aracruz, no Espírito Santo. É ao menos o quinto ataque desse tipo em escolas brasileiras desde 2019, segundo o Instituto Sou da Paz.
O (ainda?) presidente do país não conseguiu proferir uma palavra de conforto às famílias das vítimas. Também pudera: Jair Bolsonaro é o líder máximo do movimento armamentista em nosso país. A autoridade e a influência do cargo presidencial foram utilizadas inúmeras vezes para propagandear a aquisição de armas pela população.
A fala do vídeo abaixo foi uma das que mais repercutiu, não à toa: Bolsonaro menospreza o feijão – em um país com milhões de famintos – e enaltece o fuzil:
Bolsonaro é um profeta macabro do culto às armas. Mas ele não ficou apenas na retórica.
O presidente editou mais de 40 decretos facilitando o acesso a armas – o número de armamentos nas mãos de civis triplicou em seu governo. Agora são mais de 1 milhão de armas em posse de pessoas comuns, que podem resolver usá-las caso se envolvam em brigas de trânsito, ou de festa, ou de vizinhos e familiares. Os filhos e filhas dessas pessoas podem achar a arma em casa e provocar uma tragédia – acidentes fatais com armas de fogo envolvendo crianças aumentaram 25% entre 2018 e 2020, segundo a pesquisadora Erika Tonelli.
É matemático: mais armas, mais tiros, mais mortes. Alguém sai ganhando com isso?
Sim, alguém sai ganhando.
Fabricantes de armas, como a Taurus, cujos lucros explodiram graças ao atual presidente. E o próprio Jair Bolsonaro, que arma seu exército amador de apoiadores e potencializa seu método fascista: o uso da violência como arma de “convencimento” político.
Se jovens intoxicados pelos ideais violentos e preconceituosos da extrema-direita invadirem cada vez mais escolas e matarem mais e mais crianças e professoras, que seja. Esse tipo de massacre deve ser brincadeira de criança para quem é fã de torturador.
Se muitas das armas compradas por civis forem parar nas mãos de criminosos, que seja também. A milícia precisa de estrutura, afinal.
O sonho de Bolsonaro deve ser alcançarmos os EUA, a “terra da liberdade”, onde ocorreram, só neste ano, mais de 200 tiroteios em massa. Duzentos.
Enquanto esse tipo de crime cresce assustadoramente por aqui, não há política governamental alguma para frear a tragédia. Pelo contrário: a facilidade do acesso a armas e o caldo cultural que desemboca em massacres a tiros são fomentados dentro do Palácio do Planalto.
O pai do atirador de Aracruz é um PM que compartilhou foto do livro “Minha Luta”, escrito por Adolf Hitler, em seu Instagram. Ele deu o livro de presente para o adolescente de 16 anos, segundo este relatou à polícia. O jovem usou a arma do pai para matar 4 pessoas e deixar 12 feridas. Ele usava também uma roupa militar, um colete à prova de balas e uma braçadeira com um símbolo nazista.
Eis o país que Bolsonaro entrega ao fim de seu governo: infestado de armas, de paranoia, de fascismo e nazismo. O trabalho de limpeza será longo e árduo, e passa necessariamente pela responsabilização dos que cometem esse tipo de atrocidade. E principalmente dos poderosos agentes públicos que geraram este estado de coisas.
Bolsonaro não pode ficar impune.