Futebol se mistura com política?
É claro que sim. O esporte mais popular do planeta, ao atrair os olhares de bilhões de pessoas, é uma ótima oportunidade de chamar a atenção para a luta política – que influencia tanto no destino dos povos, afinal.
A copa do Catar, por exemplo, é palco de debates interessantes. É justíssimo criticar o país sede da competição por seus ditames medievais sobre direitos humanos básicos, como o de exercer a própria sexualidade em paz. Os jogadores da Alemanha taparam suas bocas na foto oficial antes do jogo de estreia contra o Japão, em protesto contra a proibição de manifestações sobre as violações de direitos humanos que ocorrem por lá.
E aí vem a réplica, também justíssima: não dá pra criticar o Catar sem lembrar que os países ricos do Ocidente mantêm, em geral, boas relações comerciais com as teocracias radicais do Oriente Médio. E também não dá pra esquecer que os países desenvolvidos se apresentam como modernos e respeitadores dos direitos humanos, mas a real é que enriqueceram matando, escravizando e saqueando países pobres pelo mundo.
Alguns desses países, especialmente os EUA, continuam patrocinando guerras sanguinárias para manter seu domínio financeiro e militar sobre o planeta. Não é, convenhamos, muito exemplar em matéria de direitos humanos.
No âmbito doméstico, Neymar, o camisa 10 da seleção, esteve no centro das atenções na reta final das eleições presidenciais. Ele declarou voto em Bolsonaro (com uma dancinha) e participou de uma live do quase ex-presidente, a quem prometeu dedicar seu primeiro gol na copa.
Mas no primeiro jogo do Brasil, contra a Sérvia, quem brilhou foi Richarlison, com dois gols, um deles um voleio espetacular. Richarlison está sendo exaltado nas redes também por seus posicionamentos e ações políticas. O atacante já fez falas contundentes contra o racismo, contra o desmatamento e contra o negacionismo.
Neymar saiu contundido da partida e muitos antibolsonaristas comemoraram sua lesão. Não é o meu caso: Neymar é craque e fará falta ao Brasil. Dá pra entender esse tipo de reação – Bolsonaro é o nosso Hitler, afinal – mas faz mais sentido pressionarmos pela responsabilização de Bolsonaro e sua turma pelos crimes que cometeram do que ficarmos alimentando vingança e picuinha contra pessoas alienadas politicamente como Neymar.
De todo modo, faz parte.
E não deixa de ser curioso que o Pombo (apelido de Richarlison), o atleta mais consciente do plantel, garanta a vitória brasileira na estreia com um pombo sem asa – um chute forte, no alto e que acaba no fundo da rede, na gíria futebolística.
Depois de uma vitória emblemática contra o fascismo nas eleições, um verdadeiro pombo sem asa de Lula e da militância democrática, parece mais um sinal dos novos tempos que vêm por aí.
Ronei
26/11/2022 - 21h23
Tem gente comemorando o fato de Neymar ter se machucado por ele ter declarado voto em X ou Y…?
Tem que ser muito imbecil ou muito brasileiro, que é a mesma coisa.
Paulo
25/11/2022 - 22h50
Não sei até que ponto Richarlison tem essa proeminência toda. Mas o fato é que essa politização da selenike me parece oportunista, de um lado e de outro. “Pra frente Brasil, salve a seleção! Todo Brasil é um só coração, todos juntos vamos, pra frente Brasil, salve a seleção! Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração, todos juntos vamos, salve a seleção! Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção!” Quase me transporto a esses tempos de criança. Lindas lembranças de um pequeno brasileiro cuja brasilidade, hodiernamente, lhe é sonegada pela preferência de cor…E especialmente a seus filhos, o que dói ainda mais…