A revista Piauí publicou uma matéria interessante com José Genoíno, ex-deputado e ex-presidente do PT, alguns dias atrás. Nela Genoíno faz um balanço dos governos do PT, e sua conclusão é que a luta política feita por dentro da institucionalidade não é suficiente para fazer acontecer as transformações que o Brasil precisa.
Genoíno conta que ficou chocado com a postura de José Serra e Aloysio Nunes, próceres do PSDB, que considerava amigos – jantavam juntos e tudo mais – e depois se revelaram dois golpistas ao trabalharem com afinco para derrubar Dilma Rousseff da presidência. Depois de ter uma verdadeira aula prática sobre luta de classes, Genoíno agora é mais socialista do que antes e diz que “Lula quer harmonia. Eu quero conflito”.
Outra entrevista, esta para a Pública, de outro quadro importante do PT, o ex-ministro dos governos petistas Gilberto Carvalho, vai na mesma linha:
Nós fomos nos burocratizando, dando ênfase ao trabalho institucional achando que governando a gente muda o país. Isso não é verdade. O que muda pra valer é a luta na rua, é a briga por direitos.
O diagnóstico de ambos me parece correto.
Políticas públicas que garantam o mínimo de dignidade à população são fundamentais, por certo. Mas elas não sobrevivem à luta política por osmose. A ascensão da extrema-direita e o verdadeiro massacre social que sucedeu os governos petistas demonstra que as conquistas populares podem ser revertidas muito rapidamente.
Como impedir que isso aconteça?
Gilberto Carvalho aposta na educação popular. Ele aponta que é necessário levar ao povo que não se organiza em movimentos sociais, partidos, sindicatos etc. “uma educação que desenvolva seu poder de crítica, sua autonomia”. Seria um projeto tocado mais por fora do governo – embora deva ser fomentado pelo governo.
É uma ideia interessante e necessária. O debate político foi sequestrado por picaretas de todo tipo, e é necessário estimular a consciência política das massas para que estas não sejam mais reféns da retórica diversionista da direita e da extrema-direita.
A luta por direitos nas ruas também deveria ser estimulada pelo próximo governo Lula. Nos governos petistas anteriores houve uma acomodação de boa parte da militância em postos do governo, o que foi matando, pouco a pouco, a capacidade de mobilização da esquerda.
Não que ocupar cargos de governo seja um pecado. É maravilhoso poder usar o imenso poder de fogo do Estado a favor das causas populares. Mas é um desafio, como reconhece Carvalho na entrevista, “ter uma consciência político-ideológica para resistir às tentações da máquina”.
O ponto é que o PT não pode repitir, nessa questão, os governos anteriores. É preciso manter a sociedade, os movimentos e a militância mobilizados. É preciso também, mesmo que este seja um trabalho de longo prazo, elevar a consciência política dos setores não organizados da sociedade.
Bolsonaro soube manter sua base mobilizada durante quatro anos e, mesmo fazendo o pior governo da história do país, quase foi reeleito. É claro que muitos outros fatores precisam ser considerados para este resultado, mas é evidente que ter uma base de apoio estimulada e pronta para ir às ruas é um fator de peso na guerra política.
Frente ampla na política institucional, defesa das causas populares e sociedade mobilizada para defender seus interesses. Uma equação complexa, mas que o governo Lula precisará resolver para cumprir a missão que o povo lhe deu no último dia 30.