O Brasil virou um dos centros mundiais do neofascismo e entender como chegamos até aqui é fundamental para superarmos essa desgraça.
A ausência de punição aos militares que torturaram e mataram na ditadura militar é uma das explicações mais plausíveis para a força do nosso fascismo tropical. Anistiar crimes horrendos não é exatamente a melhor maneira de mostrar à sociedade que aquilo é inaceitável.
O ministro do STF Dias Toffoli pensa diferente. Para ele, punir crimes bárbaros na forma da lei é “ficar preso ao passado”, “ódio” e “vingança”.
Ele falou sobre o tema no encontro do grupo empresarial Lide em Nova York, ao qual compareceram alguns ministros do STF. (Espero que os ministros compareçam também nos próximos congressos das centrais sindicais, para demonstrar sua isenção…)
Os ministros foram acossados por bolsonaristas na frente do hotel em que ocorreu o encontro. Os tucaníssimos Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes foram chamados de comunistas e xingados abundantemente. Como se sabe, estes bolsonaristas defendem a anulação das eleições e o golpe militar.
Diante desse cenário, com seus próprios colegas sendo atacados quase fisicamente por defensores do regime militar, por que raios Toffoli defendeu o perdão dos crimes da ditadura?
Tudo indica que trata-se de uma defesa prévia do criminoso Jair Bolsonaro.
Segundo a Comissão Nacional da Verdade, 434 pessoas morreram ou desapareceram durante a ditadura militar. Jair Bolsonaro multiplicou por mil o horror quando causou a morte de no mínimo 400 mil pessoas ao trabalhar ativamente (palavras de Dráuzio Varella) para espalhar o Coronavírus pelo país.
Um genocídio digno de um Hitler tropical.
Ao se manifestar contrariamente à punição de crimes bárbaros perpetrados por agentes do Estado, Toffoli se coloca como advogado do fascismo. É um indicativo de que haverá resistência graúda à punição de Bolsonaro. Que não se trata de “vingança” ou “ódio”, mas responsabilização na forma da lei – o que deveria ser básico para um ministro da Suprema Corte, não?
Não nos enganemos: esta será uma das batalhas centrais no próximo período. Responsabilizar o genocida Bolsonaro por seus atos será decisivo para o nosso futuro como país.
Assim como serão as nomeações de Lula para o STF. A maioria dos ministros indicados nos governos petistas navegaram entre a pusilanimidade, a inconstitucionalidade e o golpismo desbragado nos recentes momentos dramáticos da política nacional. Reeditar o “republicanismo” inocente dos mandatos passados de Lula e Dilma seria trágico.
O golpismo, o militarismo e o fascismo precisam ser enfrentados com coragem e gana para que tenhamos alguma chance de extirpá-los da vida política brasileira.