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Rogério Dultra: Os últimos dias no bunker

Por Rogério Dultra [Esta é uma obra de pura ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.] Palácio Presidencial, domingo à noite. Presidente – PQP! Fodeu! Perdi! Primeira Dama, apreensiva – E agora? Filho 02, com um olhar esbugalhado – Fomos roubados, roubados! Vamos tocar fogo nessa porra toda! A gente para o país […]

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Imagem: Divulgação/PR

Por Rogério Dultra

[Esta é uma obra de pura ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.]

Palácio Presidencial, domingo à noite.

Presidente – PQP! Fodeu! Perdi!

Primeira Dama, apreensiva – E agora?

Filho 02, com um olhar esbugalhado – Fomos roubados, roubados! Vamos tocar fogo nessa porra toda! A gente para o país e papai decreta Estado de Sítio!

Filho 01, suado e nervoso – Não dá, não dá! Ninguém vai apoiar. Só o nosso gado.

Presidente, impaciente – No tocante ao que fazer, vou ligar pro Topete!

Filho 02, excitado – Isso! Ele vai dar a linha! Coloca o telefone no modo tradutor.

Presidente, meio atrapalhado, pelo peso do colete à prova de balas e pela bolsa lateral, vai até o telefone e liga para o ex-Presidente Topete. Espera alguns segundos. Topete não atende. O Presidente insiste na ligação internacional, sem sucesso.

Presidente, decepcionado – Ele deve estar ocupado. Não atende.

Primeira Dama, insegura, se dirige ao Presidente – Querido, por que a gente não aceita e negocia os termos para não acontecer o pior com todo mundo aqui?

Filho 02, colérico, interrompe a madrasta – Sua louca! Vá se foder! Tá maluca?

Presidente, covarde – Calma, 02!

Filho 02, decidido – Calma é o caralho! Ideia de merda! Vamos resolver na bala!

Primeira Dama, contemplativa – Mas 02, esse caminho não terá a benção de Deus!

O Filho 02, desequilibrado, esbofeteia a Primeira Dama.

O Presidente, trêmulo, assiste a tudo impávido. Nas próximas horas, permanecerá catatônico com os desdobramentos e com a lembrança da derrota o assombrando constantemente.

A Primeira Dama, humilhada, deixa a sala chorando. No quarto, liga para a Ex Ministra. O telefone fica mudo.

Segundos depois, chega uma mensagem de Telegrama da Pastora: “Querida, como vai? Estou ocupada aqui, mas queria te dizer que o Presidente deve reconhecer a derrota. Eu mesma considero isso fundamental para as criancinhas do Brasil.”

Nos próximos minutos, a Primeira Dama dará unfollow no Filho 02 e no Presidente derrotado.

Filho 01, pragmático – Precisamos de um plano de saída. Vou ligar pro Índio.

Carluxo – Para quem???

Flávio – para o Vice, porra!

O Filho 01 se afasta. Pega o telefone. Espera alguns segundos. O vice atende.

Vice – Boa noite.

Filho 01 – Salve!

Vice – Selva!

Filho 01 – Precisamos de um plano B. A situação azedou.

Vice, circunspecto – 01, agora é entubar. Reconhecer a derrota e negociar a rendição.

Filho 01, apreensivo – Vice, nem o 02 nem meu pai aceitam esse resultado.

Vice – Olha, 01, o mundo já aceitou. Não tem o que fazer. Insistir no erro vai gerar isolamento. E o Careca não vai perdoar, você sabe.

Filho 01, incorporando o 02 – Mas o gado está com a gente. Ele vai até o fim. É só tocar o berrante!

Vice, cheio de dedos – 01, Veja bem, o gado sozinho não garante o golpe. E agora o nosso pessoal já está na esperança da bolsa-milico do Barbudo! Agora é selva! Lei de Muricy, cada um cuida do seu!

Filho 01, resignado – ok. Mas a gente pode contar contigo se o caldeirão esquentar?

Vice, duro – Claro, 01! Gosto muito de vocês. Tamo junto! Devo confessar, foi ruim teu pai não me perguntar nada sobre a sucessão. Virei vice decorativo. E você sabe, meu papel não foi igual ao do Vampirão. Segurei tudo até agora, até o fim!

Filho 01 – Claro! Você foi muito leal. A história certamente lembrará disso! Mas temos que resolver aqui. Obrigado por tudo!

Vice – Selva!

Filho 01 bate o telefone e volta para o pequeno grupo.

Presidente, tenso – E aí?

Filho 01 – Tamo Fu. Até o Índio roeu. Vi agora o Twitter. O Marreco também arregou.

Filho 02, no desespero – Caralho. Agora só resta o gado e o cara da PRF. Pai. É ele ou nada! Vamos parar o país!

Filho 01 – Mas papai tem que reconhecer a derrota e desejar boa sorte pra Barbudo!

Presidente, em alucinação – Porra, 01! Boa sorte é o caralho! Vou mandar todo mundo tomar no cu!

Filho 02, com um sorriso hirto e mal disfarçado – Pai, liga pro diretor da PRF e manda fazer corpo mole que eu vou mandar no telegrama dos caminhoneiros para parar tudo nessa porra!

Filho 01 – você tem certeza, irmão? Os líderes dos caminhoneiros não estão apoiando mais. A gente vai se foder. E o Careca não tá pra brincadeira, vai mandar prender todo mundo!

Filho 02, espumando de raiva – Careca é o caralho! Vamos parar o Brasil até todo mundo pedir pro papai voltar! É golpe, porra!

O telefone toca. O Filho 01 vai atender. Escuta alguns segundos. Volta para o grupo e vaticina: – Pai, é o Carioca, de São Paulo. Tá dizendo que, ou você fala e parabeniza o Barbudo ou pula todo mundo do barco!

Presidente, calado, vira o rosto para a parede de vidro do palácio e, com o semblante fatalista, fita o horizonte.

A Primeira Dama, nos aposentos ao lado, fala com o advogado da igreja sobre divórcio.

Na madrugada seguinte, Careca ordenou a suspensão das barreiras, sob pena de multas e prisão. A quartelada terminou só no outro dia. O Presidente “pediu pra sair” em rede nacional e o gado chorou por mais uma semana, inconsolável. Tempos depois, o Presidente e seus filhos foram processados, condenados e presos por inúmeros crimes contra o povo e a democracia.

Enquanto isso, a gasolina volta a subir.

[Para ler ouvindo “Bichos Escrotos”, do Titãs]

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Comentários

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Gil Teixeira

01/11/2022 - 11h25

Belo texto.
Sugestão:
Coloque o parênteses final no início, pra gente soltar a música junto.
Abraços.


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